Túlia

, 1897

Columbano Bordalo Pinheiro

Óleo sobre tela

260 × 200 cm
assinado e datado
Inv. 642
Historial
Doação de Emília Bordalo Pinheiro, viúva do artista, em 1930.

Exposições
Lisboa, 1897; Lisboa, 1948; Lisboa, 1980, 34, p.b.; Lisboa, 2007.

Bibliografia
PESSANHA, 1897; MACEDO, 1945, 21, p.b.; MACEDO, 1952, LXII, p.b.; PAMPLONA, 1954, vol. I; ALDEMIRA, 1957, p.b.; ALDEMIRA, 1957, 18; FRANÇA, 1967, vol. II, 270; Columbano, 1980, 35, p.b.; SILVEIRA, 1994, 164, cor; SILVA, 1995, 349; SANTOS e TAVARES, 1999, 31, cor; ELIAS, 2002, 187; FALCÃO, 2003, 188; Columbano Bordalo Pinheiro, 1874 – 1900, 2007, 199.
Prova de concurso para professor da cadeira de Pintura de História da Academia de Belas-Artes, esta pintura foi rejeitada, tal como outras, tanto para a Exposição Universal de Paris (1878), como para a bolsa de pensionista do Estado nesta cidade, nos anos de 1879 e 80, e integra um núcleo importante da produção de Columbano, a pintura de História, a que ele se dedicou numa centena de composições, em pintura e desenho, para além de inúmeras decorações.
Apesar de preterida, a crítica defendeu esta composição triangulada, como era hábito nestes anos defender Columbano, muito próximo das esferas intelectuais e políticas, e atacar o anquilosado ensino académico. Uma imponente figura feminina, a parricida Túlia, ergue-se estática, como se imaginava então a escultura etrusca, com simples panejamentos clássicos, em aristocrática pose. Acontecimento da história de Roma, em temática vagamente neo-clássica, pontuada por um templo que poderia ser etrusco, articula-se com o sentimentalismo dramático do momento. Trata-se do assassinato do rei Sérvio Túlio pela filha, cúmplice do marido, Tarquínio, último rei etrusco em Roma, representado de forma realista, como se de um retrato se tratasse, sereno na obra final mas, expressivamente transtornado no estudo preparatório, em contraste acentuado com o fleumático rosto de Túlia.
Na obra final, as figuras parecem limitadas à exigência de um academismo clássico, numa prova que pretendia agradar ao convencionalismo dos mestres da Academia, e perdem o vigor do ensaio. No estudo, emergem de espaços nebulosos, também estes densamente dramáticos, pelas variantes tonais conseguidas para o desfecho da tragédia. Este entendimento brumoso, desenvolvido em muitas das obras de Columbano, tanto na zona do céu, como no tratamento das poeiras, ampliado em pinceladas de tonalidades, constrói uma sugestão de atmosferas duplamente simbólicas, entre o sombrio incidente criminoso e as memórias temporais. No plano principal, irrompe um cavalo, em timbrados e metalizados cinzas velasquianos, que desloca o foco de atenção temático para um entendimento pictórico, acentuado por jogos de intensidade de luz.

Maria Aires Silveira