Natureza morta

, 1899

Columbano Bordalo Pinheiro

Óleo sobre madeira

26 × 21 cm
assinado e datado
Inv. 628
Historial
Doação de Emília Bordalo Pinheiro, viúva do artista, em 1930.

Exposições
Lisboa, 1902, 16; Glasgow, 1902, 54; Lisboa, 1904, 34; Saint Louis, 1904; Barcelona, 1907; Paris, 1913; Paris, 1931, 61; Lisboa, 1932, 61; Lisboa, 1941, 55; Lisboa, 1957, 52; Lisboa, 1980, 38, cor; Lisboa, 2007.

Bibliografia
Revista e Boletim da ANBA(...), 1957, 16 – 17, p.b.; Columbano, 1980, 57, cor; Columbano Bordalo Pinheiro, 1874 – 1900, 2007, 181.
Nesta pintura, escurecida por uma superfície uniforme de castanhos e sombras, destaca-se num primeiro plano uma natureza morta, categoria que interessara a Columbano apenas em 72, quando expõe um Bodegón nos salões da Promotora, em temática claramente velasquiana. Vinte anos mais tarde retomava o tema, agora com a intenção da captação da sua intimidade, num momento em que “Columbano pintava para dentro” (FRANÇA, 1967, 269) e expunha a sua emoção através da simplicidade dos objectos que destacava, por oposição a uma pintura de “ar livre” que nunca o entusiasmara.
Na continuidade do interesse pela percepção do pictórico, sublinha agora o silêncio do natural, na discreta privacidade de um recanto, ritmado por um cromatismo de castanhos e amarelos, e também de tonalidades complementares, avivadas por pequenos reflexos de luz, em brilhos de gradações matéricas, intensificados pela introdução do vermelho, cor que abandonara em finais dos anos 80.
Normalmente acompanhadas de uma figura, as naturezas-mortas de Columbano, continuamente exploradas de 95 até ao final da sua vida, em 1929, apresentam vidros, cobres, porcelanas, estanhos e tratamento de representação semelhante, pontuada de cintilantes pinceladas por uma luz de interior. A figura, recolhida ou surpreendida, surge como um espectro, apagando-se nos seus contornos, taciturna, e dela se afastando o intento de observação psicológica dos retratos. A sua pintura em mancha destrói gradualmente a forma que aparece numa posição secundária de elemento decorativo mas interveniente e, dado o seu carácter serial e repetitivo, reconhece-se habitualmente a companheira, Emília (Bordalo Pinheiro), com quem casaria em 1911.

Maria Aires Silveira