Família do artista

, c. 1878

Columbano Bordalo Pinheiro

Grafite sobre papel

15,1 × 21,6 cm
Inv. 1156
Historial
Legado de Emília Bordalo Pinheiro, viúva do artista, em 1945.

Exposições
Lisboa, 1980, 115, p.b.; Imagens da Família na Arte Portuguesa (...), Caldas da Rainha, 1994, 18, Cor; Lisboa, 2007.

Bibliografia
MACEDO, 1952, 9, p.b.; Columbano, 1980, 89, p.b.; Imagens da Família na Arte Portuguesa (...), 1994, 87, cor; LAPA, 1994, 126, cor; Columbano Bordalo Pinheiro, 1874 – 1900, 2007, 212.
De 1878 datam os primeiros apontamentos de cenas de interior em que ele regista momentos do quotidiano da sua família, numa atmosfera de marcado intimismo. Dois desenhos captam este ambiente, com o pai, a irmã e uma criança, sentados à mesa. Num deles, c. 1878, as personagens dispõem-se de maneira a apoiar a linha de força que, marcada pelo contorno da mesa, atravessa a cena. O pai ocupa o centro, tal como a irmã, e ambos são caracterizados com mais pormenor, naquilo que parece ser um registo de volumes e sombras, assim como de definição espacial. O tratamento dos objectos – uma espécie de natureza morta no primeiro plano – e o sombreado na zona central da mesa assim o reafirmam.
Já em Paris realizara dois desenhos preparatórios para a grande composição interior que encerra esta fase, o Concerto de amadores. No primeiro deles são definidos o ambiente intimista da cena e o seu enquadramento espacial, assim como a estrutura que organiza a composição. Embora apontada em termos de luz, como o sombreado que envolve as personagens e as zonas claras das carnações e da saia da mulher em pé indicam, será porém no desenho seguinte que a cena ficará completamente definida quanto às personagens e ao tratamento lumínico. A linha fina e suave e as manchas compactadas dão lugar a um traço largo e anguloso que não define pormenores mas áreas de luz, em que as sombras se configuram como carregados conjuntos de traços paralelos, dispostos em direcções contrapostas. Às duas personagens centrais acrescentou Columbano mais duas figuras, que lhe permitem um termo de luz intermédio, e substitui a pianista por uma figura masculina ou, mais exactamente, substitui o claro vestido de cauda pelos negros do fato do homem e do espaço vazio que rodeia o banco. Ainda da estada em Paris conservam-se alguns apontamentos de tipos na rua e paisagens, tiradas nos jardins do Luxemburgo e das Tulherias (1881), realizados com a mesma liberdade e desenvoltura de traço e o sentido de mancha que veremos em composições como Na floresta de Fontainebleau.
Tal como na pintura, na segunda metade dos anos 80 Columbano regressa no desenho a este tipo de cenas. Assim acontece em dois desenhos que têm por personagem principal o seu sobrinho Manuel Gustavo. Numa composição e tratamento de mancha semelhantes às anteriores, Manuel Gustavo e a irmã, à mesa, examinam papéis e livros. O inacabado do desenho impede determinar se a perda de intensidade nos contrastes e no traço da figura feminina, por oposição ao homem, se devem ao facto de a cena ser iluminada pelo candeeiro ao lado. Manuel Gustavo volta a aparecer, desta vez a tocar guitarra, num desenho de composição, roupas e fisionomia muito similares a este, o que permite aproximá-lo de 1887. No entanto, o carácter de esboço é em tudo maior.

Maria Jesús Ávila