Auto-retrato

, 1904

Columbano Bordalo Pinheiro

Óleo sobre madeira

55 × 45,5 cm
Inv. 634
Historial
Doação de Emília Bordalo Pinheiro, viúva do artista, em 1930.

Exposições
Lisboa, 1904, 85; Lisboa, 1904, 70; Lisboa, 1911; Paris, 1931, 62; Lisboa, 1932, 62; Lisboa, 1948; Caldas da Rainha, 1955, 224; Meio século de pintura moderna em Portugal, Bragança, 1959, 1; Lisboa, 1980, 42; Paris, 1987, 188, p.b.; Lisboa, 1988, 188, p.b.; Queluz, 1989, 35; Lisboa, 1994, 65; Lisboa, 2002; Caldas da Rainha, 2005, 254; Lisboa, 2007.

Bibliografia
MENDES, 1943, 53, p.b.; PAMPLONA, 1954, vol. I; Columbano, 1980, 6, p.b.; MATIAS, 1986, 95; FRANÇA, 1988, 219, p.b.; LAPA, 1994, 120, cor; ELIAS, 2002, 155; Columbano Bordalo Pinheiro, 1874 – 1900, 2007, 169; Lisboa, 2010.
A figura, observada de um nível ligeiramente inferior ao do rosto assume uma pose altiva que pretende acentuar a elegância e distinção que ecoam a memória de Van Dyck. O rosto irrompe da sombra iluminada por uma luz vertical rasante à face e que a torna estreita e comprida. Os olhos são apenas uma mancha escura e as lunetas vagamente sugeridas. A generalizada indefinição dos limites é criada pela sombra do fundo com a penumbra em que o corpo está envolto.
Um esboço indefinido na zona inferior esquerda do quadro procura um suave contraponto luminoso ao rosto. Este aspecto é exemplificativo do método de composição do artista; partindo de solicitações puramente pictóricas, neste caso de distribuição das manchas luminosas, encontra o objecto que melhor se adequa à situação, evitando assim a imposição e representação de uma exterioridade do pictórico.
Este auto-retrato revela ainda uma dimensão narcísica já manifestada de modo análogo no Grupo do Leão, onde a pose e a indumentária do artista contrastam com a do resto do grupo. O narcisismo aqui revelado é então a articulação, através de uma postura, de alguns signos ‘fetiche’ inscritos no corpo e o assimilam a um grupo tão específico quanto universal, o dos dandys, segundo Baudelaire, entendido como conjunto de opções culturais de gosto e elegância trans-históricos.

Pedro Lapa