Retrato de Fialho de Almeida

, 1891

Columbano Bordalo Pinheiro

Óleo sobre tela

65 × 54 cm
assinado e datado
Inv. 1280
Historial
Adquirido pelo Estado a Olinda Veiga Coutinho, em 1947.

Exposições
Lisboa, 1894; Porto, 1895, 10; Lisboa, 1904, 62; Lisboa, 1948; Lisboa, 1957, 39; Caldas da Rainha, 1957; Lisboa, 1980, 24, p.b.; Lisboa, 2007.

Bibliografia
MACEDO, 1952, xliv, p.b.; PAMPLONA, 1954, vol. I; FRANÇA, 1967, vol. II, 104, p.b.; Columbano, 1980, 30, p.b.; FRANÇA, 1981, 75; SILVA (et al.), 1993, 87, cor; ELIAS, 2002, 161; Columbano Bordalo Pinheiro, 1874 – 1900, 2007, 147; AZEVEDO, s.d., p.b.
Com uma escrita perspicaz e por vezes até violenta, animada por certo pessimismo vital, Fialho de Almeida distinguiu-se pela sua capacidade em retratar o convulsivo final do séc. XIX e seus protagonistas, desenvolvendo, de uma óptica realista, actual e moderna – que o levou a afastar-se do naturalismo, de que inicialmente se aproximou nas reuniões do Leão de Ouro –, uma afinada e implacável crítica de certas figuras do seu tempo, a que não escaparia o próprio Columbano. No mesmo ano em que Columbano retratara Fialho com “pavorosa verdade” (BRANDÃO in MENDES, 1959, 24) ou “verrinosa expressão” (FRANÇA, 1967, 265), o escritor, na polémica obra Os Gatos, descrevia Columbano como “homenzinho trigueiro, pequeno, silencioso, com a sua miopia doce e o seu ar contrafeito, todo cheio de susceptibilidades como as fêmeas, modesto por orgulho, intransigente por princípio (...) porque, misantropo e retirado, não sinta a vida senão por fragmentos, e tudo aperceba por uma só máscara, a lívida, ei-lo envolvendo o fundo dos quadros de brumas cor de cinza, não acabando nunca, pela necessidade de só pintar como vê – tipos incompletos, almas aos pedaços” (FIALHO, 1891, 47, 52).
Com esta pintura, Fialho de Almeida integra o grande retrato da sociedade do seu tempo. Submerso em idêntica paleta sombria como a dos outros retratados neste ano, o seu busto dilui-se nas trevas do fundo que o suporta, desfazendo os pormenores das roupas e a estrutura do seu contorno num trabalho de gradações e falta de acabamentos, especialmente marcados no lado direito da figura; zonas inacabadas que, ainda nestes anos e apesar de uma carreira já consolidada, haveriam de valer-lhe críticas na imprensa, atribuídas a certo desleixo. Idêntica ao retrato de D. João da Câmara, é também a postura que Fialho adopta, ligeiramente de lado, mas voltando o rosto, iluminado do lado esquerdo, para o espectador. Daí que o jogo de contrastes e claro-escuros se repita, resgatando das sombras o rosto do escritor, igualmente enquadrado em termos lumínicos pelo branco da camisa, e nele encontrando melhor resolução para as sombras da zona do rosto a meia-luz, que por outro lado perde, no reforço do desenho, no perfil e nas sombras exageradas do queixo.

Maria Jesús Ávila