Adriano de Sousa Lopes (1879-1944) foi um dos primeiros artistas portugueses a adotar práticas impressionistas. Começa por se interessar por fantasiosas narrativas lendárias e por momentos épicos da História de Portugal, inspirando-se em estéticas simbolistas, mas deixa-se seduzir pelos impressionismos e por artistas como Monet e Besnard, em Paris (1903). Nos museus e em viagens pela Europa adquire uma cultura artística invulgar que se reflete na produção de uma longa série de obras realizadas em Veneza.
Pintor histórico de formação, alista-se como artista oficial do Corpo Expedicionário Português na Grande Guerra (1914-18). Testemunha e regista os episódios dramáticos e as paisagens devastadas em notáveis gravuras a água-forte, comoventes desenhos e trágicas pinturas.
Nos anos 1920, o excelente núcleo de retratos de Marguerite Gros, sua mulher, assegura-lhe um lugar original como retratista de imagens no feminino, no centro do modernismo português, embora sem o integrar. É neste período que Sousa Lopes constrói séries impressivas de luz, em diferentes fases do dia, explorando a representação do movimento das ondas, assim como a faina dos pescadores, em enquadramentos escolhidos – são paisagens do litoral português, entre as praias da Caparica, Nazaré, Aveiro e Furadouro.
Diretor do Museu Nacional de Arte Contemporânea
de 1929 a 1944, Sousa Lopes sucede a Columbano no cargo. Preocupa-se com a
ampliação do museu e com uma política de aquisições que privilegia núcleos
oitocentistas mas, garante, pela primeira vez, a incorporação de autores
modernistas.
Um conjunto significativo das fases fundamentais
da obra de Sousa Lopes integra a coleção do MNAC-MC, sendo esta a primeira
exposição monográfica do autor no museu que dirigiu. Serão apresentadas cerca
de 100 obras, entre as quais algumas pinturas inéditas pertencentes ao Musée de
l’Armée de Paris, fundamentais para a compreensão do entendimento sensível e do
expressivo realismo deste autor.
Maria de Aires Silveira