A obra de Sarah Affonso já foi várias vezes dada a ver. Ainda assim, sempre parcelarmente. Muito permanecia, por isso, por fazer, tanto no estudo como, em especial, na grande divulgação do trabalho de uma das mais notáveis e, paradoxalmente, desconhecidas modernistas portuguesas.
Em 2019, comemorando-se os 120 anos do nascimento de Sarah Affonso e com o propósito de oferecer a novos públicos uma renovada e abrangente leitura da sua obra, duas exposições, concebidas em diálogo, apostaram enfim em superar esse desconhecimento público. Depois de Sarah Affonso e a Arte Popular do Minho, patente no Museu Calouste Gulbenkian – Coleção Moderna, e Sarah Affonso. Os dias das pequenas coisas, é agora a vez de o Museu Nacional de Arte Contemporânea mostrar outros núcleos da sua criação, revelando aspectos artísticos que têm permanecido na sombra.
À medida que confirmávamos a abrangência da criação artística de Sarah Affonso, tornava-se evidente a necessidade de contar com especialistas em cada uma das áreas, do bordado à arquitetura paisagista, passando pela história contemporânea, antropologia e história da arte, de modo a poder analisar e contextualizar com maior rigor a sua obra.
Da pintura, às linhas do bordado, da ilustração ao ensino, do desenho de estudo à criação azulejar, passando pelo grande desenho de uma geografia moderna, mas informada na tradição e bem atenta à realidade, com que soube conceber e fazer crescer Bicesse, num projeto inédito entre nós, é essa artista que aqui apresentamos.