No decurso das últimas décadas, são inúmeras as propostas artísticas que têm enfatizado aspectos ligados ao seu próprio fazer-se, seja mediante a exploração dos mais variados dispositivos projectuais enquanto obra, a convocação do público para experiências de carácter participativo, um tipo de materialização que deixa visível os seus processos de constituição, ou ainda a incorporação de metodologias tomadas de empréstimo a outras áreas disciplinares. Por um lado, estes procedimentos têm contribuído para descentrar a produção artística das suas qualidades auráticas e reificadas e para promovê-la enquanto meio discursivo por excelência dos modos de ver e compreender a realidade. Por outro, os diversos caminhos abertos pela dimensão projectual e processual, na sua ênfase dos meios (por oposição aos seus fins), na sua abertura ao indeterminado e ao circunstancial, e na sua vocação especulativa, têm contribuído para instaurar um campo de reflexões sobre o lugar da arte. Interessa, por isso, desvendar algumas das noções e pensamentos que subjazem aos processos enquanto ‘modos de fazer’, não só através das propostas apresentadas pelos artistas mas também das estratégias de visibilidade e do universo reflexivo que, a propósito daquelas, outros agentes do meio se propõem desenvolver.
A equipa editorial da Marte#05: Catarina Rosendo, Igor Jesus, Lígia Afonso, Rita Ferreira, Sara Brito
AE FBAUL Parceiros: CML e MNAC – Museu do Chiado
Apoios: Antalis e Ideias com Peso
PROGRAMA - Manhã
10h00: O PROCESSO EM EXPOSIÇÃO
Catarina Rosendo e Lígia Afonso (coordenação editorial Marte#5), em conversa com Rodrigo Silva, David Santos e João Mourão
Propõe-se averiguar o processo de elaboração da intervenção artística e do discurso teórico, colocando-se a tónica nos caminhos que a eles conduzem. O que é que se inclui e exclui no processo de construção das perspectivas, das investigações e das experiências? Como se testa a validade das ideias, dos argumentos, dos materiais e dos procedimentos? Como se trabalha a contradição, o deslocado e o periférico? Em que é que as escolhas previamente efectuadas determinam o resultado final? O que é que permanece na sombra, no lugar do não-dito ou do não-mostrado? O que nos diz uma obra (visual ou escrita) que manifeste na sua forma de apresentação as marcas do processo?
Alexandre Estrela – We shall destroy this program
Esta conferência é uma defesa incondicional do papel dos artistas enquanto educadores. É também um apelo ao regresso dos artistas às escolas de Belas-Artes, de forma a aí poderem trabalhar a par dos alunos numa tentativa de se restabelecer o fluxo da transmissão do conhecimento artístico. Serão apresentados exemplos e vídeos onde esta passagem de testemunho é feita fora da grelha e alcance da linguagem e da ciência.
11h30: ESTRATÉGIAS DISCURSIVAS
Ana Anacleto – Research appeal. Investigação nos territórios da prática artística e da prática curatorial
Tomando como ponto de partida a noção de ‘investigação em arte’ como proposta conceptual, e as questões levantadas acerca dos seus processos de legitimação dentro e fora do contexto da Academia, procurar-se-á reflectir sobre a possibilidade de alargamento desses protocolos de legitimação deslocando-os para o universo da produção de sentido (e de conhecimento), recorrendo a uma abertura do campo da consciência crítica a estratégias habitualmente tomadas como não-científicas e à inclusão de categorias de ordem intuitiva ou não-discursiva. Através de alguns exemplos – extraídos da minha prática – procurar-se-á pensar sobre a possibilidade de inclusão da prática artística e da prática curatorial no vasto campo da produção de conhecimento, valorizando sobretudo a confluência entre os papéis do artista, do curador e do investigador, e manifestando também especial interesse na pertinência das noções de ‘investigação como processo’ e ‘investigação como resultado’.
Luísa Especial – A residência enquanto processo
Partindo da experiência directa de participação em projectos e em
organizações sem fins lucrativos que promovem residências assentes em modelos
alternativos, propõese uma reflexão acerca do desenvolvimento do processo
artístico nesses contextos.
12:45: Debate
13:30: Intervalo para Almoço
PROGRAMA - Tarde
14h45: MODOS DE CIRCULAÇÃO
Atlas Projectos – Eppur si muove
O tema anda à volta de discursos especulativos sobre circulação, neste caso de livros de arte e de artista. Questionam-se conceitos como ‘publicação independente’, “modos de produção’ e ‘circulação’ e apresentam-se, em alternativa, as ideias de ‘formas de dedicação’, ‘acasos fortuitos’ e ‘visibilidade relativa’.
Márcia Oliveira – Entre a palavra e a imagem: sobre a possibilidade de uma abordagem política ao livro de artista
Poderemos assumir algumas questões como ponto de partida para esta experiência ensaística: Pode um livro de artista ter mais eficácia política do que outras obras? De que forma podemos ver no livro de artista um território de leitura das práticas artísticas em certo sentido marginal? O que faz com que os livros de artista possam ser considerados como um arquivo da actividade artística e que consequências podemos extrair dessa vocação? E em que sentido os livros de artista incentivam uma problematização das práticas e do conceito de representação?
16h00: FORMAS DE LEGIBILIDADE
Marta Wengorovius – A arte como um lugar sem casca
A obra de que vou falar, O
Caminho de Nietzsche (Serra da Arrábida) fez parte da exposição A grande
saúde (Museu da Electricidade). Este foi um projecto que desenvolvi com a
filósofa Maria João Mayer Branco nos anos de 2011/12. Inspirado na ideia de
caminhar e de ligar esse caminhar ao pensamento, foi desenhado um percurso na
serra pontuado por dezasseis leituras de textos escolhidos. Um mapa foi editado
com as suas instruções para que este Caminho fosse realizado no presente e no
futuro.
Ana Bigotte Vieira – Da “guerra das alfaces” e de
outros processos em curso
Pouco antes de ser abordada pela Marte#05, recebi a palavra “processo” para que a problematizasse e lhe desse um uso meu no âmbito dos encontros do grupo de tradução baldio – estudos de performance. Parte de um trabalho ainda em construção, gostava de experimentar como devolução partir dos usos da palavra processo e interrogar com eles o episódio da “guerra das alfaces” que tem lugar durante a performance Jardim das Delícias, de Wolf Vostell (CAM/ACARTE, 1985) – discutindo com isso contexto, memória, performance e documentação.
17:15: Debate
18:00: Encerramento