Philip Auslander
O corpo é redesenhado constante e profundamente através das imagens que a partir dele são criadas e que, de alguma forma, devolvem o reflexo, transformando-o a cada olhar. Este corpo atravessa conceitos, experiencia a teatralidade, a encenação, a coreografia, o gesto, o movimento, e coloca-se em rota de colisão com qualquer tentativa de codificação mais clássica. O corpo videográfico ou cinemático estabelece uma teia de relações que se prendem ainda com uma noção de espelho, e conceitos como a identidade, o duplo ou a máscara são trabalhados segundo uma lógica de (des)construção. Fazendo da imagem matéria primordial de reflexão, é concebido um projeto expositivo que pretende estabelecer a sua génese operativa a partir de um enunciado que reflita sobre a presença e a ausência do corpo, observando os momentos de transição, de contacto, de suspensão, de cruzamento e de hesitação. Em A Visão Incorporada é a imagem videográfica que, registando o corpo, edifica o conceito de “performance para a câmara”, não pressupondo que as ações sejam experienciadas ao vivo por um público, logo permitindo um desfasamento conceptual que auxilia a definição de um campo esquivo e entre mundos: os gestos são agora “arquivos” do corpo em trânsito. A figura, agora tornada o corpo da imagem (podemos talvez considerar dois corpos unidos: o corpo enquanto figura, e o corpo próprio do vídeo ou do filme enquanto representação, enquanto “objeto”), estabelece a transmutação e a instabilidade da própria condição do medium das imagens em movimento – do filme ou do vídeo.
Este projeto
expositivo está estruturado segundo núcleos temáticos (conectáveis e
permeáveis), verdadeiros espaços dialogantes, que se alteram a cada nova
semana.