Sala SONAE
Entrada LivreA Visão Incorporada
Performance para a Câmara
Vito Acconci
Centers, 1971, video, p/b, som, 22’ 28’’
Cortesia de Electronic Arts Intermix
Na obra Centers, Acconci enfrenta a câmara, com a cabeça e o braço em plano aproximado enquanto aponta para a frente para a sua própria imagem no monitor de vídeo, na tentativa de manter o dedo focado no centro exato do ecrã. Ao apontar para a imagem de si mesmo, Acconci também está a apontar diretamente para o espectador - uma ação que é paradigmática da dinâmica psicológica do seu trabalho em vídeo. À medida que o filme avança numa filmagem em “tempo real”, as únicas alterações na ação são pequenos ajustes na posição do dedo quando a sua resistência vacila. Acconci escreveu: «O resultado (imagem da TV) transforma a atividade: um apontar para longe de mim mesmo, para um observador exterior - amplio a minha atenção para os espectadores transeuntes (e olho para fora, olhando diretamente para dentro)» (EAI)
Anthony Ramos
Balloon Nose Blow-Up, 1972, video, p/b, som, 11’ 18’’
Cortesia de Electronic Arts Intermix
Com uma impressionante economia de meios, Ramos encena uma ação em close-up: o artista enche um balão com a sua narina até que este rebenta na sua cara. De seguida, repete a ação com a outra narina. Alternando narinas, Ramos continua a encher o balão até que estoure. Com cada repetição, a sua exaustão aumenta visivelmente; fica ofegante, quase a ponto de desmaiar. (EAI)
Joan Jonas
Left Side Right Side, 1972, video, p/b, som, 8’ 50’’
Cortesia de Electronic Arts Intermix
Neste trabalho inicial, Jonas traduz as estratégias de performance para o vídeo, aplicando as propriedades inerentes e específicas deste meio às suas investigações do “Eu” e do corpo. A artista atua num confronto direto, mano-a-mano, com o espectador, utilizando o imediatismo e a intimidade do vídeo como arquiteturas conceptuais. Explorando o vídeo tanto como espelho como um dispositivo de disfarce, e utilizando o seu próprio corpo como um objeto artístico, Jonas compromete-se a um exame de si mesma e da sua identidade, subjetividade e “objetividade”. Criando uma série de inversões, ela divide a sua imagem, divide o ecrã do vídeo, e divide também a sua identificação dentro do espaço do vídeo, jogando com a ambiguidade espacial das imagens “não invertidas” (vídeo) e das “imagens invertidas” (espelhos). Embora a abordagem Joan Jonas possa ser considerada formalista e por vezes redutora, o seu desempenho revela uma teatralidade irónica. (EAI)
Gary Hill
Solstice d'hiver, 1993, vídeo, cor, som, DVD, HI8, 60´
Cortesia Galeria IN SITU - Paris/Fabienne Leclerc e o artista
Solstice d'hiver (Solstício de Inverno) foi encomendado pela rede de televisão francesa La Sept para uma série intitulada "Ao Vivo", um projeto internacional para o qual vários artistas foram convidados a produzir trabalhos com uma hora de duração, utilizando câmaras de vídeo. O seu desafio era criar obras em tempo real, sem edição. Em resposta, Hill criou uma peça sobre a observação, voltando uma câmara "objetiva" para a sua vida quotidiana e para o seu ambiente imediato. Filmado totalmente num interior doméstico, Hill documenta, em tempo real, os objetos, espaços e gestos do quotidiano. Apesar da intrusão da câmara nesta esfera privada, o foco de Hill está na ausência e solidão - a fita desenrola-se sem qualquer linguagem ou interação. Em última análise, a narrativa de Hill utiliza os atos da gravação e da consequente visualização para descrever um espaço interior metafórico. Música: Alvin Lucier: "I am Sitting in a Room." (EAI)
Julião Sarmento
Parasite, 2003, vídeo, p/b, som, 13’ 51’’
Cortesia Galeria Cristina Guerra Contemporary Art e do artista
A câmara, a preto-e-branco, capta o corpo de uma mulher no estúdio do artista. Música começa a tocar, correspondendo à peça de Prokoviev, “Romeu e Julieta”, ao mesmo tempo que a mulher começa a tirar a roupa. Os seus movimentos bem ensaiados e controlados parecem acompanhar o poder da música, à medida que se move pelo espaço. Às vezes ela olha para a câmara, outras vezes desvia o seu olhar, como um desafio ao observador. Depois de desabotoar a blusa e de curvar a cabeça, o seu cabelo parece desafiar a força da gravidade, e é nesse quando nos damos conta de que o exercício de tirar a roupa corresponde ao processo inverso, já que a mulher está verdadeiramente a colocar a roupa sendo que o artista nos apresenta toda a sequência de trás para frente. A nossa consciência disso mesmo é perturbadora: o sentimento ilícito de observarmos a mulher a despir-se transforma-se no exercício frustrante do seu contrário, já que esta se está a vestir.
Carolee Schneemann
Up to and Including her limits, 1976, video, cor, som, 29’
Cortesia de Electronic Arts Intermix
Up To and Including Her Limits expande os princípios da action painting de Jackson Pollock. Neste trabalho Schneemann está suspensa a partir de um arnês e uma corda, nua, e está a desenhar; o seu corpo em movimento torna-se uma medida de concentração, os movimentos contínuos e variáveis do seu desenho com a mão estendida cria uma densa rede de traços e de marcas. Este vídeo captura a concentração e intensidade crua da presença e da utilização do próprio corpo de Schneemann. A peça foi editada por Schneemann em 1984 a partir de imagens de vídeo de seis performances: the Berkeley Museum, 1974; London Filmmaker's Cooperative, 1974; Artists Space, Nova Iorque, 1974; Anthology Film Archives, Nova Iorque, 1974; The Kitchen, Nova Iorque, 1976; e Studio Galerie, Berlim, 1976. (EAI)
Jemima Stehli
Photo Performance nº 30, with Larry Bell sculpture and artist Lewis Amar, 2005, vídeo, cor, som, 41´
Cortesia Fundação de Arte Moderna e Contemporânea – Museu Colecção Berardo
Em Photo Performance nº30, with Larry Bell sculpture and artist Lewis Amar, 2005, registada em vídeo e em fotografia, a artista concebe um conjunto de acções e movimentos, conjuntamente com Lewis Amar e em diálogo com uma escultura de Larry Bell, Untitled (horizontal gradient), de 1995. Numa complicada “negociação” de responsabilidades, Stehli instruiu Amar para que a colocasse em posição para a fotografia que a própria tira com o cabo de disparo que segura na boca. Os diálogos físicos que a artista estabelece com a escultura e com o espaço, dilatam e adensam as suas propostas conceptuais. As relações entre sujeito-objeto, entre atividade e passividade, vulnerabilidade e poder, caracterizam a obra de Jemima Stehli que coloca a figura do voyeur (nós) no centro da equação.
Marina Abramovic
Dragon Head 6, 1989, vídeo (DVD, NTSC) , cor, sem som, 29' 57''
Cortesia Coleção Julião Sarmento e do artista
As performances que pertencem à série Dragon Heads foram as primeiras que Marina Abramovic realizou após a sua separação de Ulay no final da conhecida obra The Lovers: The Great Wall Walk, na qual os dois artistas caminham a partir das extremidades da Grande Muralha da China para se despedir no meio. De facto, a série consiste realmente na mesma performance realizada diversas vezes em vários locais entre 1990 e 1994, com pequenas variações. Em todas as versões, Abramovic senta-se imóvel com uma serpente deslizando em torno do seu corpo. De acordo com a artista, o ponto de partida para este trabalho foi a seguinte observação: «As serpentes conseguem seguir a energia do planeta, onde quer que as coloquemos». Assim, as serpentes nas performances realmente nunca entram em contacto com o público, já que não conseguem deslizar sobre o gelo, que cercava Abramovic e as ditas serpentes. Estas seguiam as linhas de calor e energia na cabeça e no corpo da artista. Os sete canais da instalação da Abramovic Dragon Heads, de 1990, são reposições realizadas em estúdio baseadas nas performances, e são todas semelhantes no facto de a artista utilizar uma coroa de grandes serpentes na cabeça em cada uma delas. Cada monitor mostra um plano aproximado da artista, que se apresenta quase inexpressiva enquanto as serpentes deslizam lentamente em redor do rosto e do pescoço. A mesma sequência repete-se algumas vezes, editada a partir de um suave dissolve. Na soundtrack de Dragon Head No.2, uma voive-over de Abramovic hipnoticamente repete «segue a minha pele, segue as as minhas energias, segue a pele da terra, segue a pele do cristal... o calor da minha pele, no profundo centro do meu ser...». Em Dragon Head No.4, a contração dos músculos das serpentes é facilmente notado quando o rosto de Abramovic é empurrado e distorcido pelos seus movimentos. O seu lábio é puxado enquanto a serpente encontra o seu sinuoso caminho em volta do pescoço da artista, dando a sensação de sufocação iminente. Como o trabalho se refere claramente ao tema da Medusa, assim como ao simbolismo mitológico ligado à Grande Muralha da China, as serpentes são, em geral, um tema recorrente na obra de Marina Abramovic. Na performance Three (1978), Abramovic e Ulay deitam-se no chão, emitindo sons a partir de uma garrafa para atrair serpentes que vagueiam e que são livres de os abordar. O perigo iminente que emana da presença das serpentes é o que parece motivar parte do fascínio de Abramovic para com estes animais, perspetivando este tipo de trabalho no contexto das performances anteriores que jogam com o medo dos participantes. Dragon Head No.1, Dragon Head No.2 e Dragon Head No.4, também fazem parte da instalação de 16 canais “Video Portrait Gallery". (Abramovic 1975-2002).
João Onofre
Untitled, 1999, vídeo (SDV), cor, som, 3’’
Cortesia MACE - Coleção António Cachola
Dois performers executam uma volta de 180º no ar e caem de costas.
João Onofre
Untitled (We will never be boring), 1997, video (SDV), cor, s/som, 60’
Cortesia MACE - Coleção António Cachola, em depósito no MNAC-MC
Dois performers formalmente vestidos andam, virados um para o outro e em separado, a duração de uma cassete de vídeo – uma hora.
Bruce Nauman
Slow Angle Walk (Beckett Walk), 1968, video, p/b, som, 60’
Cortesia de Electronic Arts Intermix
Em câmara fixa, mas deslocada no seu eixo e alterando o ângulo de gravação, vemos Nauman repetindo durante quase uma hora uma sequência laboriosa de movimentos corporais inspirados em passagens de obras de Samuel Beckett, obras essas que descrevem também atividades de forma repetitiva e aparentemente sem nexo. Com as mãos cruzadas atrás das costas, o artista lança uma perna para cima num ângulo reto ao seu corpo, gira quarenta e cinco graus, cai para a frente dura e estrondosamente, estende a perna de trás novamente num ângulo reto para trás, e começa a sequência novamente. Ocasionalmente Nauman anda completamente fora do enquadramento enquanto o som dos seus passos continua presente na imagem. (EAI)
Ana Pérez-Quiroga
Inventário - Diário #1 Phales, 2009, vídeo, cor, som, 3'
Cortesia Museu Nacional de Arte Contemporânea
Inventário-Diário#1 Cair a seus pés / Inventory-Diary#1 To fall to one's knees, 2009, parte de uma fascinação que sempre tive em descer um poste de bombeiros. Esta peça faz parte de um conjunto-Inventário de trabalhos-diários que se referem a assuntos que me interessam particularmente e que de alguma forma são materializados em pequenas intervenções pontuais. Interessou-me por outro lado, explorar a cultura clássica onde Os Gregos não só puseram o Falo no centro do mundo (Delfos), como pensaram que o mundo dos homens e das mulheres (cf. a Comédia) girava em torno do símbolo divino da virilidade e fertilidade (Phales). (APQ)
Mediations (towards a remake of Soundings), 1979/86, vídeo (U-matic), cor, som
Cortesia Galeria IN SITU - Paris/Fabienne Leclerc e o artista
«O início de um remake de um trabalho anterior [1979] Soundings, no qual eu queria expandir a reflexividade de cada texto em relação à interação entre diferentes substâncias físicas - neste caso, areia – e o cone do speaker. Esse speaker preenche o enquadramento e eu começo a falar, referindo-me ao próprio speaker. Isto é seguido de mais declarações acerca daquilo de que estou a fazer, por exemplo "...uma mão entra em cena ....". Neste momento uma mão cheia de areia entra no enquadramento e lentamente liberta-o em cima do speaker. Cada nuance do discurso faz vibrar o cone do speaker (ou membrana), causando que os grãos de areia balancem no ar. Quanto mais eu falo sobre o que está a acontecer na imagem, mais esta muda altera o movimento e os padrões da areia. Às vezes, o grão da voz aparentemente como que se “funde” com o que é experienciado como “areia” na imagem. A mão permite que mais e mais areia escorra para o speaker até que o cone deixa de ser visível. O timbre da voz crepita e é radicalmente abafado. Quando o speaker está completamente enterrado, a voz soa distante, mas notavelmente clara». (Gary Hill)
Nuno Sousa Vieira
Razão nº1, 2011, Estrutura de mesa em madeira de faia, tampo de MDF pintado a acrílico, vidros, primeiro livro razão da Fábrica de Plásticos Simala, fotocópias em papel A4, 140x200x150 cm, vídeo transferido para DVD, cor e som 8´10´´, Impressão a jato de tinta sobre papel de algodão 20x16,6 cm
Cortesia Galeria Graça Brandão e do artista
Razão nº1 é uma obra que só se encontra completa quando contém duas outras obras (1960-2011) e (2001-). A peça fotográfica (2001-) é uma obra que documenta o outro lado do resultado de uma ação de emparedamento da porta principal do meu ateliê. A peça (1960-2011) é um vídeo dessa ação de emparedamento. Na montagem do vídeo, sempre que o trabalhador entra em cena e sempre que a sua presença na execução do seu labor é captado pelo campo da imagem, o vídeo é cortado, o que resulta no enfatizar da ação e do fazer através do resultado, dispensando o fazer em si mesmo. Em suma, (1960-2011) atua criticamente numa sociedade que valoriza a coisa feita em detrimento do fazer e do fazedor. (NSV)
Nuno Sousa Vieira
Sight without Eyesight, 2008, vídeo (DVD), cor, s/som, 32´02’’
Cortesia Galeria Graça Brandão e do artista
Sight without eyesight é um vídeo que resulta da reposição de uma peça de natureza escultórica, no lugar que foi ocupado pela matéria-prima que a constitui, a porta da entrada principal do meu ateliê. No verão de 2008, devido a um processo de legalização das antigas instalações da Fábrica de Plásticos Simala, a porta principal teve que ser retirada e substituída por outra que obedecesse às novas regras de segurança, tendo que passar a abrir para fora para, no caso de um incidente, ser um elemento facilitador da saída dos trabalhadores da fábrica. É de salientar que, desde 1999 esta estrutura foi desmantelada e àquela data eu era o seu único utilizador. A porta, em perfeito estado de conservação e de funcionalidade, foi substituída por uma outra e deixada para trás ao seu devir. O que fiz foi realizar uma intervenção naquela porta que produziu uma nova abertura e que a transformou num objeto que enfatiza as suas qualidades estéticas em detrimento das funcionais que, em todo o caso, continuam presentes. Este objeto foi recolocado, temporariamente no seu lugar original, a porta foi fechada e eu, saí apressadamente, não pela porta, mas pela brecha que a minha intervenção produziu nela. O vídeo Sight without eyesight foi filmado por duas câmaras, resultando da justaposição destas duas captações, uma de frente e outra de costas face a um mesmo plano, o que para além de um movimento de aproximação e de afastamento de mim mesmo, produziu também uma visão global e total, sem que a presença de algo vaticinasse, com a sua massa, o apagamento de qualquer outra coisa. (NSV)
O encantador de serpentes, 2007,vídeo (HD), cor, s/som, 5’ 10’’
Cortesia Coleção António Cachola e do artista, em depósito no MNAC-MC
O Encantador de Serpentes (2007) é um vídeo de João Tabarra que expõe a dificuldade de um homem (personagem?) num estaleiro de obras nos subúrbios, em controlar uma enorme mangueira devido à impetuosidade do fluxo de saída da água. Este bjeto/entidade que urge encantar ou, pelo menos, tentar arrebatar de surpresa e com ousadia, num cenário onde o drama e a comédia se cruzam ao jeito de Buster Keaton.
João Tabarra
Pose/Maquillage/Pose 2, 2004, vídeo, cor, s/som, 8’ 55’’
Cortesia do artista
Quando em 2003 o presidente norte-americano George W. Bush se prepara para declarar guerra ao Iraque num canal televisivo, as câmaras captam os momentos que antecedem a sua entrada “em cena”, sendo desvelado ao espectador todo o processo de construção do “personagem”: a maquilhagem, o estudar da pose, os instantes de relaxamento. João Tabarra filma (apropriando-se) estas imagens diretamente do ecrã da televisão, ampliando o jogo e as distâncias percetivas, ao mesmo tempo que reflete sobre uma noção de “performance para a câmara”.
João Onofre
Untitled (Masked tap dancer), 2005, video (SDV), cor, som, 11’ 53’’
Cortesia Coleção António Cachola, em depósito no MNAC-MC
Um bailarino de sapateado troca entre o autocarro e o metropolitano, no coração de Lisboa, usando uma máscara de zombie, sapateando todo o percurso.
Bruno Pacheco
Self-portrait smoking a cigar without the aid of the hands, 2002, vídeo, cor, s/som, 15’40’’
Cortesia Coleção António Cachola, em depósito no MNAC-MC
Esta obra pertence a um conjunto de vídeos que parodiam o género do autorretrato, explorando a condição existencial do artista. Apresentam-se por norma como vídeos sem grandes efeitos ou truques espetaculares, despidos de psicologia, nos quais o artista executa atos absurdos ou mesmo bizarros. Self-Portrait Smoking a Cigar Without the Aid of the Hands mostra um enquadramento de plano aproximado, com uma duração média-longa. Vemos o artista a fumar um charuto sem o auxílio das mãos e, durante o decorrer da peça, assistimos consequentemente às transformações das suas expressões faciais. O cliché do artista seguro de si próprio, desfrutando dos prazeres da vida, é gradualmente destruído pelo esforço (e pelas lágrimas) aparente de fumar um charuto inteiro, durante mais de quinze minutos. O título desta peça, e o seu “vazio” interpretativo (assim como das outras na mesma lógica), é parte integrante de uma desconstrução da noção de autorretrato.
Mónica de Miranda
Biting nations, 2006, vídeo (HD), cor, som, 23’ 25’’
Cortesia Museu Nacional de Arte Contemporânea
Este vídeo foi produzido em colaboração com Luna Montenegro, Lisa Bradley e Arantxa Johnson e questiona a rigidez das identidades nacionais, investigando as múltiplas noções de pertença geográfica. Através de uma performance, a artista rói unhas falsas pintadas com as cores de várias bandeiras com as quais se sente cultural ou pessoalmente relacionada, criando uma sensação perturbadora no espectador. Questiona a forma como as identidades da diáspora podem ser definidas através de várias nações e entre culturas distantes. Este trabalho aborda também o impacto da emigração na criação de um conceito de hibridismo cultural. Através deste contemporâneo processo de hibridação cultural, as velhas certezas e hierarquias sobre a identidade nacional são erodidas e colocadas em questão num mundo em que as fronteiras se dissolvem e quebram continuidades. (M.M)
Merce by Merce by Paik: Part One: Blue Studio, 1975-76, vídeo, cor, som, 15’38’’
Cortesia de Electronic Arts Intermix
Merce by Merce by Paik Part One: Blue Studio: Five Segments é um trabalho inovador de vídeo dança criado pelo mestre pós-moderno Merce Cunningham e o seu então cineasta-residente, Charles Atlas. Numa série de pequenas peças coreografadas e realizadas especificamente para o meio do vídeo, Cunningham é multiplicado, sobreposto e transportado a partir do estúdio para uma série de paisagens inesperadas. A dança gestual de Cunningham é manipulada a par do acompanhamento de uma edição de áudio disjuntiva que inclui as vozes de John Cage e Jasper Johns.
Johanna Billing
I´m lost without your rhythm, 2009, vídeo (DVD), cor, som, 13´29´´
Cortesia da artista
I’m Lost Without Your Rhythm é baseado na gravação de um workshop de coreografia ao vivo envolvendo bailarinos romenos amadores, e estudantes de teatro em Periferic, 8 ª Bienal de Arte Contemporânea de Iasi, na Roménia, em 2008. Liderada pelo coreógrafo sueco de renome Anna Vnuk, com quem Billing trabalhou pela última vez há uma década, não existe uma performance/coreografia enquanto como tal: o vídeo resultante percorre vários dias de atividade de um processo contínuo de improvisação ao vivo entre coreógrafo, bailarinos e músicos locais, que podiam ser vistos por um público que estava livre para entrar e sair. O projeto foi uma tentativa de explorar, juntamente com os indivíduos participantes e com o público, o que a coreografia contemporânea pode ser, ou o que significa hoje, especialmente no contexto cultural da pequena cidade de Iasi, onde há poucas oportunidades para entrar no campo da dança contemporânea. Num piscar de olho a coreógrafos e artistas como Yvonne Rainer e as suas investigações em torno dos movimentos quotidianos, Billing explora o sentido de ter um corpo e como “performatizamos” o nosso ser. Prestando atenção aos pequenos detalhes, Billing sublinha a mente no “corpo social” - o corpo entre outros, o corpo consciente de si mesmo. A banda sonora do trabalho é uma combinação de música ao vivo improvisada, realizada no evento em Iasi, e uma interpretação especialmente gravada da música “My Heart'” (originalmente escrita e tocada pelo duo de vocalistas e bateria Wildbirds & Peacedrums, em 2009). A música é, talvez, uma homenagem ao batimento do coração, mas neste novo contexto de um país pós-totalitário lutando para encontrar novas formas de relacionamento do indivíduo com a sociedade, é também um lamento ambíguo para os ritmos perdidos de uma ordem social desaparecida. É tudo mais otimista do que possa parecer, embora Billing trate os seus assuntos com um calor sem reservas e com ternura; a artista está interessada no desempenho como uma experiência e o potencial que tem para a partilha e para a aprendizagem, e não como uma perfeição elaborada. O vídeo foi criado através de um longo processo de pós-produção e edição, em que os movimentos dos dançarinos, as atividades que ocorrem ao seu redor e o ritmo da música são reconstruídos numa nova coreografia - talvez mais perto das lutas quotidianas e dos obstáculos que nos cercam daquilo que pode ser imaginado - inclusive galgando as estruturas institucionais e correndo através dos corredores hierárquicos.
Johanna Billing
Graduate Show, 1999, video (Beta/DVD), cor, som, 3´20´´
Cortesia da artista
Para o seu projeto de fim de curso Billing convidou os seus colegas estudantes das diversas disciplinas da Universidade Konstfack, Faculdade de Artes Decorativas e Design, para que tivessem aulas de dança durante a Primavera de 1999, com a coreógrafa Anna Vnuk. No resultado final do filme que lida com a aprendizagem e com a experiência de ser, a aura pedagógica da escola de arte é lançada contra o mais voraz e aspirante desejo que se pode encontrar num show de talentos. Vemos os alunos a correr pelos corredores e escadas do seu departamento respetivo para chegar ao auditório da escola para executar uma coreografia ensaiada ao som de Moody (1981), por ESG.
Um filme de Johanna Billing, Co-Realizado por Henry Moore Selder, Direção de Fotografia de Manne Lindwall, Coreografia de Anna Vnuk, realizado por alunos de pós-graduação da Konstfack, University College of Arts, Crafts and Design 1999.
Curso de Silêncio (com Miguel Gonçalves Mendes) Versão de Vera Mantero, 2007, vídeo (DVD), cor, som, 45’
Cortesia O Rumo do Fumo e da artista
Vera Mantero e Miguel Gonçalves Mendes foram convidados pelo Festival Temps d’Images, em coprodução com o Circular-Festival de Artes Performativas, a apresentar uma criação conjunta na qual se cruzassem as suas áreas de criação artística – a dança e o cinema. Deste convite surgem 'Curso de Silêncio', dois filmes (a montagem de cada um dos filmes corresponde à visão pessoal de cada um destes criadores) baseados no universo imagético de Maria Gabriela Llansol. Para a construção do guião destes filmes partiu-se de diferentes livros e entrevistas da autora que permitiram não só abordar a sua obra de uma forma transversal como também trabalhar uma das ideias centrais da autora, as chamadas “cenas fulgor”, imagens nucleares em que a temporalidade ou a espacialidade são inexistentes e cujo “encadeamento” segue um desígnio que escapa ao leitor (leia-se espectador), impossibilitando assim a sua classificação. (O Rumo do Fumo)
Ana Rito
Poème-acte, 2012-2013, filme 8mm transcrito para vídeo (DVD, PAL), s/som, p/b, 2´
Cortesia Coleção António Cachola
Em POÈME-ACTE, os gestos são agora “repositórios” de dois corpos em trânsito que, na sua errância, efetivam o poema. A performatividade inerente aos textos de Maria Gabriela Llansol coloca-a no eixo central de um projeto que partiu da palavra e da sua tradução corpórea e sensitiva. Apesar de se identificarem alguns elementos tradicionais da narrativa, as suas obras apresentam-se como um conjunto de pequenos quadros de pensamentos, aqui tornados visíveis. Os “peregrinos do texto”, figuras hóspedes de um lugar vibrante e desconhecido, suspensas pelas suas próprias paixões, emoções e silêncios surgem neste filme como “fazedores de poemas”, num gesto contínuo, circular, onde páginas em branco (espaços deixados vazios), povoam um extenso areal, efetivando-se na iminência do seu (des)aparecimento, tendo as ondas do mar como constante desafio.
Ana Rito
AKTION, 2010, filme 8mm transcrito para vídeo (DVD, PAL), s/som, p/b, 2´55´’
Cortesia Coleção António Cachola, em depósito no MNAC-MC
AKTION surge como uma espécie de imagem de arquivo que confronta o espectador com uma ação contínua, sem clímax. Assistimos a um registo de uma performance que coloca em cena dois corpos que experienciam as suas próprias convulsões e contracturas.
Gary Hill
Goats and sheep, 1995/2001, video (DVD), p/b, som, 11’ 50’’
Cortesia Galeria IN SITU - Paris/Fabienne Leclerc e do artista
Esta obra foi criada para a versão de edição limitada de Gary Hill: Around & About: a Performative View (Paris: Éditions du Regard, 2001), edição de 100 mais 20 provas de artista. Utiliza o material de origem da instalação Withershins de 1995, que consiste em duas visualizações simultâneas de uma pessoa a fazer língua gestual: as mãos e os braços são enquadrados numa das projeções, e a parte de trás da cabeça e parte superior dos ombros na outra. Este último ponto de vista capta as mãos quando se referem à cabeça durante os gestos realizados. Para Goats and Sheep, Hill mudou a imagem a cores original para preto-e-branco, regravou a sua própria voz e "ressincronizou-a" para a língua gestual.
Far de Donna, 2005, vídeo, cor, som, 10’45’’
Cortesia Coleção António Cachola, em depósito no MNAC-MC
Far de Donna , Fazer de Mulher, é baseado na história de um rapaz
que descobre a sua voz de contratenor (castrati) no dia em que a sua mãe perdeu
a sua própria voz. A peça é então sobre as relações edipianas entre mães e
filhos, que em grande parte dos casos ninguém morre mas algo fica afetado no
ser interno de cada um.
Texto: Maria da Graça Queirós
Personagens: Pedro Cardoso, Lúcia Lemos, Alexandra Torrens.
Faces, 1976, filme 8mm transferido para vídeo (DVD), cor, s/som, 44' 22''
Cortesia Galeria Cristina Guerra Contemporary Art e do artista
Os filmes de Julião Sarmento da década de setenta são fortemente influenciados pela estrutura formal dos filmes iniciais de Andy Warhol. O filme Faces agrega dois aspetos formais muito importantes presentes em duas das obras iniciais de Warhol: Blowjob e Beijo (ambos de 1963). No início do filme vemos a cabeça das modelos enquadradas na zona inferior do ecrã, com os seus cabelos algo despenteados e misturando-se continuamente, movendo-se suavemente à medida que as suas faces se tocam para lá do emaranhado de cabelo (pelo menos assim supomos). O filme alterna de um enquadramento do cabelo das mulheres para um enquadramento das suas bocas, nariz e queixo, enquanto se beijam, desvelando o suposto ato que estava impossibilitado de ser vislumbrado anteriormente. Seguidamente, um longo beijo ocupa praticamente toda a duração do filme em plano sequência, até que o batom das duas mulheres se esborrata, sujando-as no queixo e nas maças do rosto. A impassividade do plano fixo e da sua estrutura, caracteriza Faces como um trabalho que investiga um certo afastamento daquele que olha mas, também, uma aproximação quase pornográfica à pele e ao toque. O extremo plano-aproximado evoca uma “objetificação” fragmentada do corpo e da sua superfície sensual e quase táctil. O elemento mais presente neste momento talvez seja a língua das duas personagens. Interligada a conceitos de comunicação, linguagem e discurso, a língua surge aqui como um constituinte com vida própria, que investiga a pele do outro e que percorre o corpo do outro como se uma serpente se tratasse.