Inspirada na peça Otelo, de William Shakespeare (c. 1603), esta pintura (raramente apresentada, devido à exiguidade de espaço do MNAC e por se valorizar a exposição de artistas nacionais), tece fortes relações com a literatura, a história e os conceitos estéticos da época. Em 1882, a Companhia Rosas e Brasão, leva-a à cena no Teatro D. Maria II, com enorme sucesso, destacando-se então as inovadoras propostas e a participação do cenógrafo Luigi Manini (1848-1936).
Pode, assim, afirmar-se, como salienta Maria de Aires Silveira, que “Muñoz Degrain sublinha um importante cruzamento de interesses, a partir de uma história verídica de paixão, do século XVI, com desfecho fatal, encenada, pintada e exibida em palco, desde o século XVII ao XIX.”
Venha conhecer a pintura e a história em torno dela, até final de agosto de 2020.
27 Maio - Otelo, o “abusador do mundo”: Uma introdução ao orientalismo
Everton V. Machado
Professor Auxiliar da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa e investigador do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura. É autor de O orientalismo português e as Jornadas de Tomás Ribeiro: caracterização de um problema (Lisboa, Biblioteca Nacional de Portugal, 2018).
O que é “orientalismo”? Pode-se avançar com uma resposta através da representação canónica do mouro tanto na peça Otelo, o mouro de Veneza (século XVII) do inglês William Shakespeare (1564-1616) quanto na pintura Otelo e Desdémona (século XIX) do espanhol Antonio Muñoz Degrain (1840-1924), confirmando a transversalidade e a perenização dos estereótipos relacionados com o Oriente.
03 Junho - Otelo e Desdémona. Nos palcos da paixão
Maria de Aires Silveira.
Curadora no Museu Nacional de Arte Contemporânea, desde 1989. Dedica-se muito especialmente ao estudo de temáticas e autores oitocentistas, e de inícios do século XX. Licenciou-se em História, e obteve o Grau de Mestre em História de Arte, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
Abordando uma cena de pintura dramática, próxima de um desfecho fatal, inspirada na peça de William Shakespeare, e da autoria do pintor espanhol Muñoz Degrain, a curadora da exposição irá revelar aspectos da história desta obra, significativa pela expressividade das figuras e objectos, e reveladora de uma modernidade particular. A sua aquisição, em 1881, testemunha o bom relacionamento cultural entre Portugal e Espanha, e a doação, no ano seguinte, ao Estado português, pelo Visconde Soares Franco, valoriza uma rara atitude de sensibilidade mecenática.
24 Junho - Macau e o Orientalismo Visual Romântico de George Chinnery (1825-1852)
Rogério Miguel Puga.
Professor Auxiliar da NOVA FCSH, investigador do CETAPS e CHAM, e autor de várias obras sobre relações anglo-portuguesas e história de Macau.
A partir de alguns pressupostos dos Estudos Pós-coloniais, a nossa palestra analisa o orientalismo pitoresco do pintor romântico George Chinnery através das suas representações da Macau do século XIX, sobretudo dos topoi da dimensão sínica do território que se encontrava então sob administração portuguesa.
01 Julho – Arquitectura e orientalismo ou reflexões sobre o exótico no antigo “oriente português”
Alice Santiago Faria
Investigadora auxiliar contratada e coordenadora do grupo “As Artes a Expansão Portuguesa” no CHAM – Centro de Humanidades, FCSH, Universidade NOVA de Lisboa. Coordena, com Renata Malcher de Araujo, o projecto de investigação TechNetEMPIRE financiado pela FCT.
A escolha de um “estilo” sobre outro ou de linguagem arquitetónica para um edifício pode dever-se a inúmeros fatores e ter múltiplos significados. Em Portugal e sobretudo a sul do território de Portugal continental são bem conhecidos alguns exemplos de arquitectura exótica de influência oriental. Nesta apresentação irei discutir alguns exemplos construídos no antigo “oriente português” tentando examinar os porquês e os impactos desta relação entre arquitectura e orientalismo a “oriente”.
Maria João Castro.
As obras de Fausto Sampaio na coleção do MNAC são o ponto de partida para uma viagem sobre a produção plástica deste artista apelidado de “Pintor do Império”. As suas telas espelham as geografias distintas do colonialismo português mergulhando numa temática rara na arte nacional e cujas coordenadas perfazem um planisfério pictural abrangente, balizado de África a Macau, passando pela Índia e por Timor. E é a partir do Oriente – onde Fausto Sampaio chegou a viver e a abrir uma escola de artes – que se perspetivará o percurso e a obra de um artista através dos territórios longínquos e míticos d’além-mar num registo invulgar e de grande modernidade.
Alexandra Curvelo.
A chegada dos Europeus do Sul ao Japão em meados do século XVI foi fixada nalguns textos e pinturas japoneses contemporâneos da presença destes Ocidentais no arquipélago. Através da análise destes registos podemos percepcionar o impacto desta interacção e a progressiva mudança de atitude face a estes estrangeiros, que acabaram por ser expulsos em 1639. Cerca de 250 anos mais tarde, quando o Japão é forçado a reabrir as suas fronteiras, esse mesmo passado é revisitado, quer por via do papel desempenhado pela missão cristã e pela troca de conhecimento então geradas, quer pelo revivalismo pictórico das imagens anteriormente produzidas.
Local: Átrio do MNAC, Rua Serpa Pinto, nº 4.
As palestras serão gravadas e transmitidas via Youtube e página Facebook do MNAC