Para além dos desacertos com a modernidade internacional nascente e que os regressos dos pensionatos de Paris para um Portugal ignorante iam escavando, já amplamente estudados pelo magistral trabalho historiográfico de José-Augusto França, uma deriva originada por influências diversas e até de outras tradições pictóricas terá sido relevante no percurso de alguns artistas do fim do século XIX, como são os casos de Veloso Salgado, por um lado, ou de António Carneiro, por outro e entre outros. O Simbolismo, que plasticamente não foi um movimento organizado em Portugal, teve, no entanto, algumas manifestações episódicas, quer de origem académica quer de teor mais experimental, susceptíveis de uma investigação e que só a profundidade de estudos monográficos pode aclarar, revelando assim a extensão e limites da abordagem que os artistas portugueses fizeram deste fenómeno.
A presente exposição comissariada por Rui Afonso Santos é um verdadeiro passo nesse sentido. Ela permite-nos descobrir um percurso bem mais amplo que o confinamento tardo-naturalista a que o artista foi votado nos poderia fazer crer. No erudito ensaio redigido para este catálogo temos a oportunidade de acompanhar o desenvolvimento de uma obra a par da receptividade contemporânea que lhe devolve um esclarecedor contexto das condições de produção. Junta-se a este ensaio outro, da autoria de Cristina Azevedo Tavares, que traça para a obra de Veloso Salgado uma linha de continuidade e comprometimento com a tradição tardo-naturalista de que o artista foi, aquém de todas as experiências marginais, um empenhado agente no curso da primeira metade do século XX.
O interesse demonstrado pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa na pessoa do seu director, o Professor António Manuel Bensabat Rendas, do Doutor Luís Silveira Botelho, do Engenheiro Luís Elias Casanovas e da Arquitecta Teresa Nunes da Ponte veio permitir desdobrar esta exposição num segundo volante e transformar a Sala dos Actos Grandes, para a qual Veloso Salgado realizou um extenso conjunto de pinturas, num espaço expositivo onde, entre outras obras, se podem observar, de modo inédito, os estudos em confronto com as realizações definitivas. A todos eles gostaria de expressar a minha profunda gratidão pelo dedicado interesse com que deram curso a esta iniciativa. O trabalho de coordenação que tomou possível esta exposição e este catálogo ficará a dever-se a Maria de Aires Silveira a quem manifesto os mais vivos agradecimentos. Ao Instituto Português de Museus e à pessoa da sua directora, Doutora Raquel Henriques da Silva, bem como à Divisão de Documentação Fotográfica, gostaria de realçar o reconhecimento de uma colaboração imprescindível para o sucesso deste projecto.
A Maria da Conceição Veloso Salgado ficar-se-á a dever a preservação da memória de seu avô e a paciente disponibilidade para os esclarecimentos que em muito ajudaram a realizar este projecto.
Pedro Lapa
Director do Museu do Chiado