Em museucampus, Markus Ambach revela alguns temas fundamentais do seu trabalho, como a reinterpretação dos lugares e a apropriação dos espaços públicos, ao mesmo tempo que propõe uma leitura crítica da especificidade contextual do MNAC – Museu do Chiado. O projecto desenvolve-se, assim, entre uma reflexão geral sobre as instâncias de produção e de consagração artística e um olhar atento sobre a relação entre o museu e a sua envolvente imediata, focado na comunicação com a Faculdade de Belas-Artes.
Desde a sua fundação, em 1911, o museu e a faculdade ocupam áreas contíguas do antigo convento de São Francisco da Cidade, onde se encontra também a Academia Nacional de Belas-Artes. Apesar das óbvias afinidades, a coabitação nunca foi simples e se, numa fase inicial, se verificava uma proximidade não apenas espacial mas também programática, a partir dos anos 40 o MNAC procurou afirmar a sua autonomia relativamente ao meio académico. A abertura de uma entrada independente pela Rua Serpa Pinto assinalou, então, simbolicamente a separação entre o museu e a escola, marcando um distanciamento que viria a ser reforçado, em 1994, com a intervenção do arquitecto Jean-Michel Wilmotte e só em 2010 seria reaberta a passagem entre o jardim do museu e a faculdade.
Consciente da fragilidade e da ambiguidade desta ligação, Markus Ambach explora as tensões existentes entre as duas instituições, questionando comportamentos e (pre)conceitos. O artista assume aqui o papel de mediador entre os dois contextos, procurando estabelecer outras vias de comunicação. Como registo deste processo de intermediação, a exposição na Sala Polivalente do museu apresenta um conjunto de objectos encontrados nas salas de aulas da faculdade, ou voluntariamente cedidos pelos próprios estudantes. Objectos que surgem recontextualizados por um discurso museológico ambivalente a aberto, numa instalação que assume também a condição de passagem, ao prolongar-se para além do espaço expositivo, num “passeio entre a Rua Serpa Pinto e o Largo da Academia de Belas-Artes”.
Helena Barranha
Directora do MNAC – Museu do Chiado