entrada: Condições Gerais
Museucampus
Um passeio entre a Rua Serpa Pinto e o Largo da Academia de Belas-Artes
Markus Ambach
museucampus, um percurso entre produção e representação
A exposição centra-se na vizinhança quase invisível das duas instituições: o MNAC - Museu do Chiado e a Faculdade de Belas Artes, localizadas de costas voltadas uma para a outra no mesmo quarteirão, no centro de Lisboa. Esta ligação de vizinhança alterou-se intensamente, em propósito e forma, ao longo da história, e marcou importantes mudanças nos meios produtivos, políticos e sociais da arte. Estas relações em mudança são simbolicamente expressas numa pequena porta que ligava os dois mundos não só fisicamente, mas também ao nível da troca de influências políticas e sociais entre a esfera da produção e a da representação.
A porta, que foi fechada em 1944 e reaberta apenas em 2010, incorpora a justaposição entre o lugar da produção de arte e as instituições sociais que a definem, lhe atribuem valor e a acumulam. Ao reabrir-se esta porta, estabelece-se não só um novo caminho entre o espaço nobre e institucional do jardim de esculturas do museu e o espaço habitado do campus de estudantes, mas abre-se também um atalho entre a ideologia e a estratégia, a produção e a representação, a prática e a acumulação, a história e o futuro, permitindo-lhes, a ambos os espaços, encetar um verdadeiro diálogo.
O percurso
Apesar de a porta reaberta oferecer uma nova oportunidade espacial, a permuta entre ambas as esferas ainda não se encontra totalmente estabelecida. O projecto faz referência a esta situação de uma forma que é tanto actual como histórica. A “visita guiada” define um percurso entre ambas as instituições e conduz o visitante ao longo de um caminho que vai do jardim das esculturas do museu ou da sala polivalente do museu, passando pela porta reaberta, directamente para o animado centro de produção artística da faculdade. O projecto articula a vizinhança oculta, as suas interacções, e ajuda a estabelecer novos discursos e relações entre a faculdade e o museu, ao mesmo tempo que também pretende iniciar um novo uso para ambos os territórios.
A exposição
Na sala polivalente, os visitantes encontram uma instalação que reúne variados tipos de objectos no centro do espaço expositivo, apresentados de acordo com a linguagem clássica de um museu: vitrinas e plintos mostram artefactos, esculturas e bens culturais. Todos os objectos provêm da faculdade: trabalhos de estudantes, sobras de workshops e outras peças são valorizados por meio da linguagem e do lugar, transformando-se em artefactos e bens culturais.
Nas paredes circundantes é apresentado um arquivo de fotografias de objectos e de práticas mais ou menos banais, descobertos ao longo do percurso no qual os artefactos foram recolhidos: tralha armazenada de qualquer maneira, materiais empilhados de forma anárquica, escritos sem importância, plantas e objectos esquecidos, esculturas amontoadas e produtos e utensílios de limpeza fotografados tanto no museu como na faculdade. Através da sua representação, os objectos perdem o seu sentido original, associado à prática diária de actos inconscientes, e sugerem uma nova forma de abordar a arte.
Markus Ambach