Se o século XIX foi tomado pela questão da imagem, motivando intensas mudanças na nossa relação com o universo visual – com a invenção da fotografia e da imagem em movimento --, no século XX as questões do espaço invadiram as artes visuais. Por vários processos os artistas encontraram formas de tematizar o espaço vivencial, a sua representação, o lugar, a cidade e o habitar. Em vários momentos, num mundo sucessivamente destruído por conflitos globais, a arte reflectiu a necessidade de pensar o sentido da habitação, da construção afectiva do espaço, do casulo e das condições mínimas de sobrevivência. Por muitas formas a arte parece falar arquitectura, construindo campos quase sem nome, na intersecção da escultura, do filme, da arquitectura e do design.
Seja de uma perspectiva macro ou pelo contrário, de um ponto de vista
íntimo e subjectivo, a arquitectura surge como a fala destas obras. Neste
contexto, a tipologia da casa, o paradigma da construção e da edificação, a
detecção da estranheza arquitectónica e a produção de formas de uma cinemática
do espaço continuaram a definir o contexto criativo de muitos artistas na
transição do século. Por outro lado a abertura cultural e geográfica da arte
contemporânea trouxeram para o interior das questões artísticas múltiplas tipologias
de vivencia do espaço, bem como um fascínio pela periferia da paisagem e a
reabilitação de contextos vivenciais do espaço que se situavam no campo da
antropologia, da sociologia ou que não possuíam paradigmas estéticos. A
exposição Quando a arte fala arquitectura: [construir/desconstruir/habitar]
parte desta complexidade para efectuar um mapeamento da sua complexidade na
arte dos nossos dias. Ângela Ferreira, José Pedro Croft, Carlos Nogueira e
Fernanda Fragateiro apresentam projectos concebidos especificamente para esta
exposição.