NIKOLAI NEKH
Calcanhar de Aquiles
A partir da dimensão do tempo longo, em Calcanhar de Aquiles, Nikolai Nekh empreende uma viagem narrada em off por uma figura fantasmagórica, que vai visitando diferentes contextos civilizacionais, sociais, políticos, económicos e ideológicos para tecer uma análise especulativa sobre a inter-relação entre as
indústrias e tecnologias – as matérias-primas e os recursos energéticos disponíveis –, com a representação do movimento.No vídeo, o artista convoca a história clássica, o colapso das cidades-estado gregas, referências losócas, como a Caverna de Platão, e arquitectónicas como o Partenon e o Taj Mahal, mas também a emergência dos poderes imperiais antigos e modernos, o colonialismo, a invenção da máquina a vapor e a exploração petrolífera na Sibéria. Neste quadro evocativo, Aquiles e o seu calcanhar adquirem um peso simbólico determinante, transpondo a vulnerabilidade e fragilidade do herói grego para a narrativa histórica do progresso tecnológico e industrial.
Distanciando-se quer de uma visão optimista, quer de um olhar fatalista sobre a acção humana, Calcanhar de Aquiles é uma refexão sobre a relação entre o homem e a natureza, as consequências das possibilidades técnicas sobre os equilíbrios sociais, a sustentabilidade económica e ecológica na evolução
da humanidade e a sua importância e signicado actuais.
E é também uma obra que interpela o espectador, solicitando-lhe a releitura do mito e a reflexão sobre as matérias da história e as matérias da imagem.
Sandra Vieira Jürgens