Piso 2 - Sala Dos Fornos

entrada: Condições Gerais

30 anos de Prémio AICA/MC: Artes Visuais

Uma leitura da arte Portuguesa

2011-10-20
2012-01-22
Curadoria: João Pinharanda

Esta exposição, reúne obras dos artistas consagrados pelo mais antigo e durável Prémio de arte e arquitectura atribuído em Portugal o que nos permite ensaiar uma primeira Retrospectiva da Arte Portuguesa dos últimos 30 anos. O Prémio é atribuído por uma Associação profissional e internacionalizada de Críticos de Arte, a AICA (Associação Internacional de Críticos de Arte, com sede em Paris e integrando a UNESCO). O apoio oficial (recebido através de sucessivos organismos governamentais que têm tutelado a cultura) tem sido essencial para a concretização do Prémio (que é monetário) mas nunca implicou qualquer controlo sobre as escolhas dos sucessivos júris.

Procurando um máximo de objectividade acentuou-se, nos catálogos que acompanham a exposição, uma zona documental, com numerosas fontes primárias e com uma história institucional da própria AICA; e, na exposição, pretendeu-se que a maioria das obras seleccionadas tivesse estado nas exposições que são citadas pelos júris como motivadoras da distinção atribuída. Porém, as opções de montagem nos espaços do MNAC tornaram impossível uma simples organização linear e diacrónica das obras o que, permitindo a encenação de diálogos entre artistas premiados em tempos e por júris diferentes, dará à exposição um inevitável estatuto de interpretação histórica e releitura crítica.

Um dos pressupostos do Prémios AICA, é de que o galardão, embora refira uma ou várias exposições do ano anterior, deve ser sustentado por uma carreira sólida. Facilmente se percebe, pois, a décalage, de cerca de 20 anos, entre a afirmação de uma carreira e a sua consagração. Só depois da consagração maioritária de carreiras
iniciadas nos anos de 1950 a 60 (verificada nos anos de 1980) teremos (entre a década de 1990 e 2000) a predominância de nomes com carreiras iniciadas nos anos de 1970 e 80.

Nas três décadas consideradas assistimos a profundas mudanças no campo político e social, como no campo cultural e artístico do país. Aliás, a instituição do Prémio, em 1981, coincide com algumas dessas fronteiras de mudança: a consolidação da democracia e a irreversível integração europeia, a viragem nas condições de produção, percepção e consumo artísticos, a possibilidade de conceber e integrar novos modelos de internacionalização artística. Hoje percebemos como o país e o modo de nele fazer e ver arte de facto mudou. Tivemos uma democratização imensa, com frutos exponenciais no número dos autores e dos públicos; mas com permanentes flutuações de mercado, que indiciam a grande incapacidade de enraizamento social e económico do sector; mas continuando a ser os esforços e qualidades individuais dos artistas a base fundamental dos nossos êxitos de internacionalização; mas com uma continuada indefinição de políticas públicas e mesmo
privadas de apoio às artes, que a proliferação de Museus e Centros de Arte sub-financiados não esconde. Mas assistimos, também, a uma distensão: a presença da Arte passou a ser normal (esperada) em todos
os níveis da vida pública (com os perigos que qualquer normalização pressupõe); e as tensões dos "Anos 80" e depois dos "Anos 90", em relação aos poderes instalados tende a desaparecer no novo século e, com elas, as causas que transportavam.

Ao espelhar as escolhas de historiadores e críticos profissionais (habituados a ver) a lista de nomes não pode deixar de estabelecer uma amplitude que excede a da própria soma de nomeações. A imagem de
permanente heteronímia temática e estilística da cultura visual portuguesa, a absorção ideossincrática e acrónica das linguagens internacionais, a representação transversal da memória pessoal e subjectiva unificam e qualificam toda a mostra – são características que dominam o discurso nacional e que podem garantir a sua originalidade no sistema da arte ocidental.

João Pinharanda

Setembro de 2011