Mas a magia da linguagem do loop - este ponto de partida histórico para o cinema e a videoarte - é precisamente o seu próprio nome; o seu próprio dispositivo; a sua própria existência enquanto ferramenta. O loop faz da ilha um arquipélago; da estrela, uma constelação.
A loop is a loop is a loop.
A diversidade de olhares sobre o conceito de loop marca tanto os 135 trabalhos inscritos quanto os três finalistas do LOOPS.LISBOA 2016: trabalhos que também dialogam com o cinema, o teatro, a performance, o ativismo, a poesia. A exaustão do loop de “Zootrópio” de Tiago Rosa-Rosso Carvalhas; os segundos de terrorismo poético que se transformam em suspensão de tempo de “Today, I am just a butterfly sending you a sentence” de Patrícia Almeida; e a extensão dos limites do espaço de “Laje Branca” de Pedro Vaz, perfazem o recorte curatorial da segunda edição de Loops.Lisboa no âmbito do Festival Temps d´Images Lisboa.
Alisson Avil.
Júri de Pre-Seleção: Irit Batsry (presidente), Alisson Avila, António Câmara Manuel, David Cabecinha
Júri de Premiação: Emília Tavares (presidente), Gary Hill, Miguel Rios.
ZOOTRÓPIO de Tiago Rosa-Rosso Carvalhas
A terra é azul como uma laranja
Jamais um erro as palavras não mentem
Elas não lhe dão mais para cantar
Na volta dos beijos para se entender
Os loucos e os amores
Ela sua boca de aliança
Todos os segredos todos os sorrisos
E que roupagens de indulgência
Para acreditá-la inteiramente nua
As vespas florescem verde
A aurora se enrola no pescoço
Um colar de janelas
Asas cobrem as folhas
Você tem todas as alegrias solares
Todo o sol sobre a terra
Sobre os caminhos da sua beleza
Paul Eluard
Realizador: Tiago Rosa-Rosso
Actores: António Dente, Miguel Plantier, Inês Cartaxo, Ana Monteiro
TODAY, I AM JUST A BUTTERFLY SENDING YOU A SENTENCE* de Patrícia Almeida
No dia 15 de Abril de 2015, Josephine Witt, ativista “free-lancer”, interrompe a conferência de imprensa do Banco Central Europeu (BCE) atirando ao seu presidente, Mario Draghi, confettis e panfletos. Essa intervenção, desde o momento em que a ativista se levanta da primeira fila até ser levada pelos seguranças, durou 23 segundos. No entanto, as fotografias feitas pelos jornalistas presentes na sala vão circular durante as próximas 24 horas nas televisões e imprensa do mundo inteiro. Este vídeo é uma montagem e uma tentativa de reconstituição dos micro-acontecimentos presentes nas fotografias encontradas desse evento.
Confronta o tempo original da ação, com o tempo fotográfico – expandido – desse mesmo acontecimento.
* Frase do manifesto de Josephine Witt sobre o seu protesto contra o BCE
Video, 7min
Patrícia Almeida
Montagem: David-Alexandre Guéniot e Patrícia Almeida
Agradecimentos: Raquel Castro e Festival Verão Azul
LAJE BRANCA de Pedro Vaz
O filme Laje Branca é um take único de duas câmaras cobrindo 180º de direcções cardiais opostas de uma ilha.
A ilha é uma laje branca, rochosa e nua, rodeada de uma paisagem montanhosa distante. Um homem caminha o limite do seu perímetro exterior. O movimento de progressão e a cadência da ondulação marítima são os dois únicos elementos móveis num cenário profundamente estático.
O seu percurso vem a delinear-se elíptico e a revelar volumetria na formação rochosa, o que sugere uma suspensão.
A pesquisa do autor, sobretudo em pintura e vídeo-instalação, tem sido dedicada às possibilidades e extensões da paisagem. Leva a cabo uma prática empenhada numa abordagem fenomenológica – a paisagem enquanto paisagem vivida. Para isso, inclui no seu processo de trabalho expedição e a caminhada. Procura um encontro autónomo entre o corpo presente e o lugar.
Interessa, neste filme, a intercepção entre formular uma paisagem e a consciência de a estar a formular. Projectar para exterior a paisagem conforme filtrada pelos seus olhos protésicos, mas manter-se, ou regressar, ao que é visto como quem ainda não tem a capacidade de ter consciência que vê.Cor, 1:1, 1080p
3’24’’ Loop