Há muito que sabemos que o conhecimento depende dos sentidos. E, como percebeu o cientista António Damásio, também as emoções são incontornáveis para tomar decisões. Apesar disso, vivemos hoje o fascínio global pelo digital que se interpõe entre a nossa perceção e a realidade, substituindo o contacto direto com o mundo. Quando, a par do digital, crescem imaginários que rejeitam o corpo, e a busca de uma vida assética, isenta de riscos, que tipo de vida procuramos, de facto, viver? São essas as questões levantadas pela exposição de Inês Norton, Please [do not] touch, que retoma, no MNAC, a pesquisa da artista quanto à tensão existente, nos nossos dias, entre os conceitos de natural e de sintético.
O mundo “à distância de um toque” ou “o mundo na ponta dos dedos” são frases que, nesta exposição, com objetos palpáveis e um expresso interdito de tocar (ainda que o visitante seja convidado a tocar algumas das peças), ganham um sentido irónico.
Sendo o museu um espaço em que o toque é geralmente interdito, Please [do not] touch — em português por favor [não] toque — assume uma clara ironia. Ao privilegiar a abordagem e o contacto audiovisual, a sociedade atual tende a assumir como desnecessária e obsoleta a experiência direta.
Relegando para segundo plano a nossa inata capacidade de contacto, essa recente abordagem coloca inúmeros problemas. É urgente reconhecer a importância da presença física e do toque na relação interpessoal. Esta exposição de Inês Norton, composta por 18 obras inéditas, sublinha a omnipresença da artificialidade e a necessidade de a questionar, lançando o alerta para a urgência de recuperar a plena consciência do corpo, sob pena de perdermos o essencial do que é ser humano.
Adelaide Ginga e Emília Ferreira