Nikias Skapinakis, Os Críticos
Nikias Skapinakis, Os Críticos

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entrada: Condições Gerais

A Brasileira do Chiado

Café Museu 1925-1971

2021-06-26
2021-10-24
Curadoria: Maria de Aires Silveira, Raquel Henriques da Silva
Lembro-me bem do Viana, sentei-me muitas vezes na mesa dele, gostava muito dele. Tinha um atelier aqui na rua que desce até S. Bento, era uma casinha  pequenina lá em baixo e ele tinha a mesa com a composição dos objetos que estava a pintar. Disso lembro-me bem. Eu gostava imenso dele, era forte, e depois tinha um chapéu como o Picasso também usava. E estava muito na Brasileira era um daqueles em cuja mesa eu me sentava.
 (…) Eram mesas em que estavam o Viana, o Almada, a Vieira da Silva e o Arpad também apareceram lá. Havia uns grupos e havia uns PIDES. Mas era um ponto de encontro, era a Brasileira. A Brasileira realmente tinha uma vida especial.

                                                                                                                     Manuel Baptista, 29-10-2020  


A evocação do pintor Manuel Baptista, acerca da Brasileira dos anos de 1960, traduz bem a qualidade das memórias deste pequeno/grande café lisboeta, fundado em 1908 por Adriano Teles e mantido, quase miraculosamente ao longo de mais de um século, em relação aos valores decorativos que o modernizaram em 1925. É por isso a mais prestigiada «Loja com História» da cidade, provando quanto a salvaguarda exigente dos patrimónios não conflitua, antes pelo contrário, com um desempenho económico bem sucedido.

Se a arquitectura e a decoração do estabelecimento são uma imagem reconhecida, tal como o célebre anúncio sobre o “Melhor Café…”, há outra componente da sua representação que aqui especialmente nos interessa: as onze pinturas que a decoram, da autoria de prestigiados artistas portugueses e ali estão (com excelente conservação) desde 1971, quando foram encomendados por um júri de críticos de arte conceituados. Os quadros facilmente atraem o olhar curioso dos frequentadores e dos passantes, mas a maioria não saberá que a actual “exposição” substituiu outra, inaugurada em 1926 e que ali se manteve até 1970.

A celebração dos 50 anos da segunda decoração de A Brasileira com quadros de artistas modernos foi a razão de ser da exposição no Museu Nacional de Arte Contemporânea e do seu catálogo. Vizinhos no prestigiado bairro do Chiado, Museu e Café partilham memórias, confrontos e colaborações e desejam que esta celebração se traduza no reforço desses elos, criando um circuito apetecível entre ambos: no Museu será possível ver alguns dos quadros da decoração de 1925 e um conjunto de documentação em grande parte inédita da decoração de 1971, nomeadamente fotografias da colocação das pinturas nas paredes de A Brasileira, exactamente na noite de 26 de Junho de 1971.

Com muitas cumplicidades e apoios, foi possível progredir no conhecimento sobre esta micro-história social e artística que atravessa o século XX: afinal os quadros da primeira montagem só foram colocados em 1926 e a organização do processo foi coordenado pelos pintores Eduardo Viana e António Soares e não por José Pacheko, como tem sido afirmado. Mais importante ainda, “reapareceu” uma das obras de António Soares que se pensava perdida e que afinal pertence à colecção de José Galvão Telles, neto de Adriano Telles, o fundador do Café. Mas há incógnitas que não conseguimos resolver porque não encontrámos nenhum vestígio do espólio documental do antiquário e decorador Joachim Mitninsky que, em 1970, comprou os quadros envelhecidos da montagem de 1926, os mandou restaurar, vendeu alguns e terá mantido outros na sua loja magnífica da Rua Vítor Cordon. Por isso, este projecto é uma celebração e um alerta: celebramos o futuro da Brasileira do Chiado e das suas heranças para a história da arte portuguesa e alertamos para a urgência de salvaguardar e estudar os espólios de personalidades que, sendo nossas contemporâneas, estão sujeitas a um processo injusto de esquecimento.



Exposição no MNAC

Algumas pinturas modernistas, de Almada Negreiros e António Soares, exibidas no café A Brasileira, em 1925, e, 13 ampliações fotográficas, reprodução de fotografias de José Luís Madeira (1948-2012), autor que realizou uma excelente reportagem fotográfica acerca do transporte e montagem das obras, no café, em 1971. Uma montagem que reuniu críticos e pintores.


Catálogo A Brasileira do Chiado. Café-museu 1925-1971

O catálogo, realizado com o apoio da empresa gestora do café, Valor do Tempo, e, a Fundação Millenium bcp, organiza-se em três núcleos fundamentais que abordam a criação do café-museu, no Chiado, em 1925 e 1971. A abordagem histórica das pinturas de 1925 contou com o estudo e análise de Inês Silvestre, o ensaio crítico de Raquel Henriques da Silva coloca questões acerca das escolhas das peças e perspetivas dos críticos de arte que as selecionaram e Maria de Aires Silveira reflete sobre a temática dos cafés na capital, desde inícios do século XIX, de modo a caracterizar o perfil da cidade e as zonas de inscrição destes estabelecimentos no espaço citadino, permitindo a frequência e convívio de intelectuais. No caso de A Brasileira, no Chiado, a presença de pinturas modernistas identificou-a como um Museu moderno, permeável a novas propostas.


De 25 de Junho a 26 de Setembro de 2021






Atividades

    2021-06-25 18h30
    Inauguração da exposição
    2021-08-11 17h00
    Visita guiada
    2021-08-25 17h00
    Visita guiada com a curadora
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