Entre a ideia de série e a obra em construção, a instalação Tonnetz09-B revela a pesquisa desenvolvida, ao longo dos últimos anos, por António de Sousa Dias, na área de convergência entre a música e a imagem.
Baseada no conceito de rede tonal (em alemão, Tonnetz), a obra reinterpreta alguns temas fundamentais na génese da arte contemporânea, como a relação entre valores sonoros (altura, timbre, direcção) e valores visuais (forma, textura, cor, luminosidade) ou a diluição dos paradigmas harmónicos e tonais. Nesse sentido, para além da sua filiação teórica em Euler e Riemann, Tonnetz09-B pode evocar a obra de compositores como Scriabin e Schoenberg ou a pintura de Kandinsky, associando a estas referências históricas uma reflexão actualizada sobre a dimensão sinestésica e tecnológica da obra de arte, em contextos interactivos. Concebida como um espaço musical navegável, a instalação configura um ambiente imersivo, estruturado através de dois sistemas intercomunicantes - um motor de geração sonora e um motor de criação visual - em contínua interferência. Estes dois processos interdependentes delimitam um campo abstracto e difuso, propício a uma leitura subjectiva por parte do espectador que, em limite, pode recusar a possibilidade de interagir com a obra, optando por deixar-se conduzir pelo ambiente programado, em vez de condicionar a modelação musical e visual. Em qualquer situação, acções idênticas podem desencadear efeitos distintos, o que alia a ideia de imprevisibilidade à contínua mutação do espaço. A improbabilidade da repetição dissipa, assim, o factor de reconhecimento que Adorno considerava fundamental na percepção musical e garante a singularidade da cada experiência. Talvez por isso o autor o designe como um espaço de liberdade.
Helena Barranha