SAMARA LUBELSKI
Não raras vezes descrita como uma música predilecta dos músicos, Samara Lubelski, novaiorquina de gema, é das grandes senhoras do universo independente de produção de som mais arrojado.
Criada no Lower East Side da Big Apple (quando aquilo parecia Beirute) e rodeada de arte por todos os lados desde miúda, Samara Lubelski já viu décadas passar na cidade onde as décadas condensam o que noutro sítio poderiam ser séculos de acontecimentos, sempre com um juízo crítico apuradíssimo e o maior dos entusiasmos por todos os que arriscam com destreza e engenho.
Co-fundadora dos Hall of Fame, baluartes locais do ruído e da canção desmontada, parte integrante e colaboradora regular vai para mais de 10 anos nos Tower Recordings e em outras formações do guru Matt Valentine, produziu uma catrefada de discos importantes do rock underground recente - de 'Arrived in Gold' dos Sightings, a 'Slow Globes' dos Mouthus. Foi ainda violinista para o último disco e tour de Thurston Moore, personagem que produziu 'The Future Slip', lindo álbum acabadinho de sair pela sua Ecstatic Peace.
Quinto longa-duração de Samara (e o quarto de canções, depois de uma mítica estreia de total abstracção e violinos estratosféricos, lançada primeiro pela Child of the Microtones e depois reeditada Eclipse Records), 'The Future Slip' é um fabuloso novo capítulo no processo de maturação das várias linguagens que tem vindo a trabalhar neste seu percurso solista. Uma colocação e presença vocal monotónica, impávida, um trono solene de onde vai operando toda a rica mecânica melódica e harmónica dos instrumentos, arranjados com o requinte do costume. Pense-se na melhor Marianne Faithful do início, nas meninas esfíngicas da canção francesa (Birkin, Hardy, Lafôret), na Nico de 'Chelsea Girl' completamente velada, donde resulta uma pop de câmara extraordinariamente elegante, mas sempre abraçando o não-convencional e o caminho menos óbvio (a espaços, lembra uma versão contemporânea dos momentos mais operáticos e celestes dos Stereolab de final dos anos 90).
Um raríssmo caso de preserverança, paz interior e calma em canção, de alguém que continua a ter a gloriosa dose certa de liberdade e curiosidade, para continuar a fazer o que bem lhe apetece, cada vez melhor a cada ano que passa.
Myspace: http://www.myspace.com/samaralubelski
Vídeo para “Field the Mine”, tema do seu último álbum ‘The Future Slip’, realizado por Theo Angell: http://www.youtube.com/watch?v=JB6liKBB-vc
KUUPUU
Kuupuu é o nome que Jonna Karanka escolheu para o seu projecto a solo em música. Ela é uma das principais caras e mentes da geração do já aclamado internacionalmente underground finlandês, fomentado e potenciado pela seminal editora Fonal. De resto, Jonna já integrou ou colaborou com colectivos proeminentes dessa vaga estética de revigorada e miscigenada folk, como os Avarus, ou as Hertta Lussu Assa, que formou com Lau Nau e Islaja, ou ainda os recentes intercontinentais Way of the Cross [com Dave Nuss (dos No Neck Blues Band), Christelle Gualdi (Stellar OM Source), Spencer Clark e James Ferraro (The Skaters), Jan Anderzen (dos Kemialliset Ystavat e Tomutonttu), Aartu Partinen (dos Avarus) e Mik Quantius (dos Embryo)].
A sua música, imersa num intimismo com elevado teor intuitivo, é empaticamente assombrada e acalenta uma reverberação misteriosa sobre a sua origem e temática. Com estranhos loops lo-fi, colagens sonoras idiossincráticas e percussões que se imaginam provenientes de brinquedos ou fontes não convencionais, parece almejar um plano de contacto e impacto que promova a indiferenciação entre o que é percepcionado como purgado ou conscientemente concretizado pela artista. A ética que raia o seu auto-proclamado spooky boogie é eminentemente DIY, mas de uma família psicadélica que desafia catalogações, como os Animal Collective que a levaram em datas europeias da sua tour há um par de anos.
Myspace: http://www.myspace.com/kuupuu
Vídeo para o tema “Lentokalojen Hautuumaa’’, realizado pela própria artista:http://www.youtube.com/watch?v=Jo6wg4ExGbY&feature=related