Uma possível leitura para, ainda a quente, destacar aqueles que sonharam, viram e concretizaram um sítio e um objecto mais longe nesta década, poderá ter que ser diferente daquela com que nos habituámos a decifrar o que fica para trás e a tentar perceber o que o presente nos coloca na frente.
Alguns - poucos - artistas cujo trabalha circula de uma forma minimamente divulgada e mediatizada, edificaram corpos de trabalho que fogem aos cânones que vemos nas revoluções passadas da música. Mais do que um avanço, drástico ou relativo, de um vocabulário ou de um género (os Ramones a acelerarem os Beach Boys; os Stones a tornarem o R&B grito branco; etc), gente como os Animal Collective, Ariel Pink ou os Excepter, a título de exemplo, criaram um outro tipo de fenómeno. Cultivaram a ideia e produziram uma obra que existe para lá de um género - talvez dentro de uma cultura -, para lá de uma tradição, mas criando um universo seu próprio, longe de qualquer léxico (mesmo que advenha de uma multitude de estilos). Ainda que seja um vasto algo que permanece copiável, a marca deles é tão sua, que todos os que já vêm depois de si e virão ainda serão sempre subjugados à sua posição seguidista.Será então essa a premissa para a genialidade nesta década, a insularidade criativa? Uma espécie de primeiro ponto final na cultura popular moderna em que para um trabalho ser verdadeiramente revolucionário, tem que ser ímpar e intocável, tanto estética quanto espiritualmente, radicalmente distante de tudo o resto?Se sim, os Black Dice serão dos grandes protagonistas nos avanços artísticos no campo do som e da música neste arranque de século. Guiando-se unicamente pela procura de novos sons, novas emoções (novos sentidos? o acordar de partes do cérebro adormecidas?), criam música que transcende ritmo linear, estruturas narrativas (e mesmo as escolas de não-narrativa nas músicas experimentais), fraseado, melodia e harmonia como olhamos para elas (mesmo no campo das várias vanguardas ocidentais). Utilizam instrumentação que nunca tinha sido utilizada assim, processada de maneiras também elas completamente longe de qualquer normalidade.'REPO', o seu mais recente álbum e segundo pela Paw Tracks (dos Animal Collective), é um outro passo em frente na gloriosa confusão que criam a partir de todas estas procuras simultâneas, intersectadas e sobrepostas. Um som cada vez mais estilhaçado (e que reflecte) do caos do ideário colectivo de hoje em dia, que o torna transcendência e indizibilidades. Um concerto, segundo em Lisboa, que será, concerteza, mais uma poderosíssima aceleração do amanhã para o dia de hoje.
site oficial www.blackdice.net
mysapce http://mysapce www.myspace.com/blackdicemyspace
youtube http://www.youtube.com/watch?v=_WNHS-mjrP0
concerto de lançamento de "Repo" em NYC vimeo http://www.vimeo.com/2567153 "kokomo"