Esta exposição de João Paulo Feliciano, artista e músico, está organizada em torno da escultura Blues Quartet, 2004–2007 e explora a fusão entre música e imagem. São apresentados sete trabalhos de diferentes épocas – desde o início de 90’s até à actualidade – que abordam esta problemática tão recorrente na sua produção.
Desde as primeiras obras de João Paulo Feliciano, como é o caso aqui presente de Sweet Music, 1992, que o respectivo título enquanto enunciado linguístico retirado de expressões da cultura popular, muitas vezes associado a contextos musicais, encontra uma literalização plena e irónica nos elementos que compõem a imagem.
Tal ocorre também em Blues Quartet. Para João Paulo Feliciano esta escultura tornou-se um elo de relação intrínseco entre o seu trabalho como músico e artista. O nome, ainda que genérico de uma eventual banda musical e que dá o título à escultura, encontra materialização na estrutura azul em acrílico que divide o espaço sobre a mesa em quatro áreas, onde quatro lâmpadas accionadas por moduladores de luz e som variam de intensidade pelo efeito da música.
Esta pode ser a gravada num iPod, ao qual o visitante tem acesso e possibilidade de seleccionar de entre variadíssimos géneros a que deseja ouvir ou então a dos concertos ao vivo, com Rafael Toral, Lee Ranaldo, Trevor Tremaine e C. Spencer Yeah, como aconteceu no Contemporary Arts Center de Cincinatti.
A escultura torna-se um dispositivo de possibilidades. O artista enquanto criador pode mesmo ser apagado. Por seu lado, o curso das variações e movimento que as lâmpadas projectam pela acção da música é desdobrado espacialmente pelos reflexos e transparências filtradas daquelas num pleno efeito de diálogo que este quarteto trava entre si. As potencialidades de configuração da escultura são infinitas, até a da relação desta com o silêncio.
A série de posters que acompanha a apresentação da escultura foi realizada a partir de capas de discos onde as palavras “blues” e “quartet” estão presentes. Elas formam classes próprias de elementos singulares, mas é na sua associação a expressões e elementos visuais que a ideia de Blues Quartet se torna algo genérico e ao mesmo tempo particular, como se o nome ao nomear uma coisa, não fosse mais do que a coisa enquanto nomeada pelo nome.
Pedro Lapa
Director