Olho que Chora Olho que Ri
“Uma pintura premente de intenção e velocidade”
Fernando Lanhas, in Matéria Prima – pintura, desenhos, objectos - 2004
O modo de estar de Agostinho Santos é o eco de uma prática jornalística, e da sua derivação plástica diluída na vertigem do tempo. A atenção, a observação e a convivência, intimamente ligadas a um autor que vive os problemas sociais do comum quotidiano, inclui ousadas pinturas em rolos de papel industrial, remetendo para as mensagens provocatórias dos murais urbanos. Esta exposição reúne, maioritariamente, obras de menor formato, de um dos seus temas de trabalho: a intervenção social. No uso do traço espontâneo, quase infantil, e de uma escrita panfletária inserida nos desenhos e nas pinturas, destacamos aqui a sua propensão ativista.
Os olhares, os nossos e os dos outros, o paradigmático olhar abstrato, sem dono fixo, que gira caleidoscopicamente a diversas velocidades, um olhar animal, sem idade, como sinal de cumplicidade ou demarcação, marca o ritmo dos acontecimentos. Sendo todo o processo de criação de Agostinho Santos marcado pela apropriação simbólica e hibridização, as obras aqui apresentadas, embora de tempos diferentes (de 2012 a 2024), resultam do intercâmbio contínuo entre memória, observação e pensamento, e da relação entre a realidade e o imaginário do autor. A força da sua expressividade imediata e capacidade produtiva transmite um permanente desassossego e uma visão crítica da sociedade.