Galeria PeP

entrada: Condições Gerais

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2022-09-23
2022-11-11
Curadoria: RUI AFONSO SANTOS

Câmara Lenta

A casa e a esfera doméstica têm constituído um dos vetores do trabalho de Mimi Tavares. Imagens de interiores desabitados são o ponto de partida para esta série de desenhos e pinturas que nos devolvem estes espaços não exatamente no sentido mimético do tema.

Estes interiores são ambíguos e desconcertantes, por vezes, à beira da desintegração, assomando como espaços inquietantes: desprovidos de gente, pejados de perspetivas inusuais e contraditórias, neles coabitam móveis e objetos de diferentes tipologias, de canapés, sofás, cadeiras, secretárias e camas a espelhos e mesas de encostar, numa cronologia incerta que vai de oitocentos à época moderna.

Embora anónimos, esses objetos são-nos familiares, pois crescemos a vê-los na casa dos avós, dos pais, na nossa, tendo-nos porventura calhado por herança, gosto ou necessidade – e, aqui, surgem resgatados e como que providos de uma segunda vida, de uma nova oportunidade.

Corredores, quartos, salas passagens dirigem o nosso olhar para múltiplas direções, prolongando-se ilusoriamente as linhas de força estruturantes destes ambientes inquietantes como que para além do suporte físico do papel ou da tela, sugestão reforçada por paisagens que se abrem e se espraiam pelas paredes circundantes. Desconcertante é esta construção espacial, ilusória e fragmentada, na medida em que, por vezes, estas passagens não conduzem a lado algum.

Ficamos mais desconcertados ao verificar que coexistem aqui diversas tomadas de ponto de vista, de contre-plongées tão acentuados, tirados de cima, tetos em estuque profundamente rebatidos que contradizem imediatas visões frontais fragmentadas de paredes e janelas, num processo de sobreposição, passagem e acumulação. Os próprios móveis e objetos, alguns deles quebrados, evidenciando o desgaste do uso e a passagem do tempo, surgem de forma inusitada, por vezes suspensos do teto invertidos, outras vezes flutuantes, pousados simplesmente ou acumulados uns sobre os outros. Diversas e fragmentadas memórias emergem nestes espaços ambíguos, num tempo incerto, suspenso, onde possíveis narrativas baseadas nas experiências de cada qual procuram dar sentido a esta estranheza espacial, cronológica e narrativa, onde está ausente qualquer lógica racional ou sentido imediato.

Este é o espaço da solidão e da memória, servido por um desenho minucioso que se alia à própria essência da pintura, quer no tratamento da cor de uma coberta que se prolonga e derrama ilusoriamente em leito livre de tinta como na luz difusa que os ilumina, fantasmática por vezes, apropriando-se luz e cor dos próprios acidentes naturais, como manchas de humidade do suporte, pigmentadas, cromaticamente reaproveitadas e trabalhadas a tinta, acidentes naturais e ocasionais deliberadamente integrados na própria composição.

Este trabalho situa-se na fronteira entre a ordem e a desordem e desafia a nossa perceção, apresentando espaços desconstruídos que evocam tempos suspensos ou singulares, diversamente configurados, contando várias histórias em simultâneo, porventura das gentes que neles habitaram, numa lógica espacial ilógica que suscita narrativas mais ou menos inverosímeis que a nossa memória e experiência procuram clarificar. Na única tela exposta, a própria luz, dramatizada, surge em negativo, embora colorida, reforçando também a singularidade elaborada destes espaços de memória.

Apenas no domínio da memória existem estes espaços e os objetos descartados, fora de moda e do tempo cronológico.

Rui Afonso Santos


Em Exibição

The c(AI)rcles’s Pentagon

By Gencork | Sofalca

2025-05-28
2025-06-26
Curadoria: Portugal Faz Bem
A instalação de design/arte The c(AI)rcle’s Pentagon, que explora a ligação entre inteligência artificial, design (re)generativo, arte e sustentabilidade
Exposição individual

Caminhos

Coleção Millennium bcp

2025-05-16
2025-08-24
Curadoria: Emília Ferreira, Regina Branco e Joana d’Oliva Monteiro
Esta exposição coletiva aborda, a partir do tema da paisagem, o desejo da viagem ou a necessidade íntima de criar caminhos próprios
Exposição temporária

O FARDO DO HOMEM BRANCO

João Fonte Santa

2025-04-10
2025-07-03
Curadoria: Lúcia Saldanha e Rui Afonso Santos
O Artista recorre a uma linguagem figurativa que se vale dos paradigmas oitocentistas do Naturalismo - quer da pintura como da ilustração coevas, visualmente familiares e instituídos.
Exposição individual

ALDEBARAN CAÍDA POR TERRA

2025-03-13
2025-06-22
Aldebaran Caída por Terra é uma série de pinturas moldadas, com formas irregulares e orgânicas, onde o volume e incidência da luz se insinuam na forma de ver os (quase todos) rostos, pintados a pastel de óleo.
Exposição individual

Impressões Digitais. Coleção MNAC

2024-12-12
2026-12-30
Curadoria: Ana Guimarães, Emília Ferreira, Maria de Aires Silveira e Tiago Beirão Veiga
Constituída por obras fundadoras da historiografia da arte portuguesa contemporânea, de 1850 à atualidade, a coleção do MNAC guarda vários tesouros nacionais.
Exposição Permanente

Desde 1911

2022-05-26
2026-05-26
Uma intervenção que celebra os 110 anos do MNAC.
114 anos