expressão visual permitem explorar vias de confluência, crescentemente potenciadorasde novas experiências para o visitante, por vezes imersivas, outras vezes interativas, levando as artes digitais a novos patamares. A presente exposição constitui uma significativa mostra da fertilidade dessas novas áreas da expressão artística e as formações pluridisciplinares dos artistas desta edição oferecem-nos obras de notório experimentalismo e de diálogo entre áreas científicas do saber e da criação. Escolhidos num universo de quase uma centena de candidaturas, o que reitera a importância deste prémio bienal, os trabalhos agora expostos, criados por um leque de artistas emergentes e outros já reconhecidos, apresentam, por tudo isso, um sustentado equilíbrio entre inovação e maturidade.
O Prémio
Sonae Media Art tem já a responsabilidade de uma afirmação artística no panorama das novas linguagens
visuais em Portugal, constituindo-se como um importante incentivo ao pensamento e à criatividade. O
facto de os finalistas poderem contar com uma bolsa de cinco mil euros permite
a criação de obras mais complexas que, sem este apoio, dificilmente
conseguiriam sair do papel.
A credibilidade destas realizações, em particular quando
resultam de chamadas abertas e com a responsabilidade de uma tão alta premiação, fica também devedora da qualidade dos especialistas
que são convidados para a seleção e premiação. Assim, não podemos deixar de
agradecer aos elementos dos júris desta edição de 2109, artistas e especialistas
reconhecidos em Media Art. No de seleção, além da
curadora do MNAC, Adelaide Ginga, contámos com André Rangel e António Cerveira Pinto. O júri de
premiação será composto por Miguel Soares, Patrícia Gouveia e Yves Bernard.
As propostas inovadoras dos cinco finalistas desta edição - Diogo Tudela, Francisca Aires Mateus, Rudolfo Quintas, o coletivo Berru (Bernardo Bordalo, Mariana
Vilanova, Rui Nó e Sérgio Coutinho) e o coletivo constituído por Tiago
Martins, João Correia e Sérgio Rebelo - estarão em exposição de dia 29 de novembro até dia 2 de fevereiro do próximo ano.
No dia 4 de dezembro será conhecido o vencedor.
Collisions & Render Engines pode ser definido como um
teatro auditivo-visual de impactos e detritos que modela um sistema de informação onde se
descrevem possíveis trajetórias dentro do ciclo de feedback material que
conecta artefactos teatrais bélicos com os seus contrapontos no
entretenimento.
Como tal, o projeto propõe uma análise à conceção de media, dirigindo-se ao seu papel dentro do complexo militar–industrial–media–entretenimento enquanto produtora de soluções formais que contribuem, simultaneamente, para a endo-militarização do quotidiano, assim como para a importância da ficção, pós-produção e dos efeitos especiais em contexto bélico.
A instalação articula uma série de 12 impressões, geradas através de um algoritmo fotogramétrico que analisa e correlaciona imagens de artilharia e pirotecnia, que são retroiluminadas momentaneamente,e em ordem aleatória, em reação a um sinal sonoro de 8 canais que emite padrões rítmicos generativos de objetos sónicos criados através da síntese de fogos de artifício, explosões balísticas e percussão do léxico da cultura rave.
Francisca
Aires Mateus (Lisboa, 1992)
Musica Humana
Musica humana é uma instalação sonora que junta vinte e quatro composições musicais, tendo cada uma por base as características emocionais e de personalidade de um indivíduo. O projeto começou com a realização de entrevistas a vinte e quatro pessoas. As perguntas foram inspiradas no Questionário de Proust, mas também em perguntas habitualmente usadas em entrevistas de emprego. Paralelamente, foi pré-definido um método de quantificação das respostas e a sua tradução para propriedades musicais específicas. A partir destes dados produziu-se uma composição. Na instalação o som é assumido como o elemento imaterial que preenche o vazio, e a partir do qual se congemina um ambiente sensorial e emocional que certamente pautará o modo como cada espectador, individualmente, assimila este lugar. O que ouvimos é uma massa sonora, variável, orgânica, viva e dinâmica, no tempo e no espaço. Por vezes predomina uma das composições para pouco depois assistirmos a diálogos, confrontos e tensões, até ao ponto da cacofonia.
Rudolfo
Quintas (Porto,1980)
Keystone I, II, III, IV
Keystone I, II, III, IV, de Rudolfo Quintas, consiste em quatro esculturas de novos media que confrontam o espectador com uma análise objetiva feita por uma entidade de IA sobre as ideias escritas online pela sociedade portuguesa. Esta informação é apresentada mediante a recriação de uma rede de complexas interações, traduções e um feedback permanente entre o mundo digital e não-digital.
Durante um período de três meses, o artista e sua equipa treinaram a entidade de IA para ser capaz de ler e falar sobre o que experimentou. Este sistema, inspirado nas redes neurais do cérebro humano, recolheu, analisou e avaliou o sentimento de mais de 100.000 tweets das contas mais seguidas do Twitter (políticos, jornais, partidos, etc.) em Portugal. As Keystones constroem um universo de informação de memória de curto-prazo e memória de longo-prazo com as palavras emocionalmente mais intensas de cada dia e falam sobre elas, baseando as suas interpretações estritamente no que aprenderam a ler no Twitter.
Coletivo berru [Bernardo Bordalo (1991), Mariana
Vilanova (1996), Rui Nó (1993) e Sérgio Coutinho (1992)]
Systems Synthesis (Síntese de Sistemas)
Um sistema biológico de sensivelmente dois metros de diâmetro, composto por plantas e outros organismos, foi transportado de um terreno urbano abandonado para o espaço expositivo. Na sala, a máquina replica através de algoritmos as condições ambientais do seu local nativo, um lugar esquecido onde a natureza cresce sem intervenção humana.
Systems Synthesis propõe uma relação simbiótica entre Natureza e Tecnologia onde os organismos vivos dependem da máquina para sobreviver que, por sua vez, depende da vida para servir o seu propósito. O desenlace da relação é som produzido ao vivo, espacializado por sete canais.
A obra está em constante mutação visual e sonora, numa velocidade biológica e natural que contrasta com a nossa temporalidade instantânea, e num estado de equilíbrio dinâmico.Coletivo Tiago
Martins (1990), João Correia (1986) e Sérgio Rebelo (1993)
Retratos de Ninguém
A fronteira entre o real e o artificial tem sido matéria de discussão, alimentada pela emergência de sistemas computacionais que criam conteúdo falso, muitas vezes, destinado a fins de propaganda e influência. Hoje, sabemos que o que vemos, lemos e ouvimos pode ser falso e, consequentemente, começamos a questionar o que, outrora, considerávamos inquestionavelmente verdadeiro. Retratos de Ninguém é uma instalação interativa que explora a criação de conteúdos na interseção entre o real e o artificial. No espaço da instalação, são criados e apresentados retratos com caras de ninguém gerados a partir de todos nós, que o visitamos e alimentamos.