Jardim das Esculturas

Entrada Livre

FUSO – ANUAL DE VÍDEO ARTE INTERNACIONAL DE LISBOA

2019-08-27
2019-09-01
FUSO – ANUAL DE VÍDEO ARTE INTERNACIONAL DE LISBOA
27 AGO > 1 SET 2019


Sustentabilidade é o mote do FUSO 2019, entendido como o respeito ao meio ambiente, à diversidade cultural e social e a um crescimento económico justo e consequente.

O campo da arte tem-se questionado sobre o seu papel e sobre novas posturas pertinentes diante destes desafios. Quais as mudanças de atitude e de funcionamento seriam propícias por parte dos artistas, curadores, críticos, galeristas e coleccionadores, nos seus aspectos individuais e institucionais?

Criado em 2009 o FUSO é o único festival com programação contínua de videoarte nacional e internacional, em Lisboa. Confrontando linguagens já canónicas às mais contemporâneas, o FUSO mostra obras em vídeo que cruzam as artes plásticas, a performance, o cinema, a literatura e os meios digitais, propondo uma nova abertura à imagem em movimento do século XXI.

Sessões no Jardim das Esculturas no MNAC
Dia 30 de agosto a partir das 22h com curadorias de Tom Van Vliet e Sandra Vieira Jürgens


Às 22h:

O Universo de Floris Kaayk

por Tom Van Vliet

 

 

A obra de Floris Kaayk foca conceitos e fantasias futuristas, visualiza o progresso tecnológico, por vezes demonstrando as suas vantagens, mas também as suas consequências negativas.

 

Floris Kaayk tornou-se conhecido com os seus semi-documentários de ficção The Order Electrus e Metalosis Maligna. Os seus filmes de animação receberam diversos prémios internacionais. Em 2011, The Origin of Creatures foi seleccionado como participação holandesa nos Prémios da Academia na categoria de Melhor Curta Metragem de Animação. No mesmo ano, Kaayk foi notícia devido aos diversos vídeos publicados nas redes sociais no weblog do seu alter ego, Jarno Smeets, que afirmava ser o primeiro ser humano capaz de voar como um pássaro. Diversas estações de televisão internacionais usaram imagens destes vídeos nos seus noticiários.

 

Outro dos seus projectos foi Rayfish Footwear (2012), uma empresa fictícia e loja online que convidava pessoas a cultivar os seus próprios ténis personalizados usando pele de raia geneticamente modificada. Uma narrativa cuidadosamente preparada era distribuída através de diversas plataformas media, nas quais provou ser suficientemente credível para um grupo de fiéis seguidores, que acabaram por ficar desiludidos quando a verdade foi revelada.

 

O projecto experimental online The Modular Body (2016 – 2019) visualiza o futuro no qual um protótipo do corpo humano foi desenhado e criado usando impressão em 3D e tecnologias de cultura de células. Os vídeos que apresentam o personagem central, Oscar – um Homem Modular protótipo criado com vários módulos de auto-montagem – são incrivelmente realistas. Neste projecto, Kaayk foi claro quanto à natureza fictícia das imagens, deixando espaço para as interpretações e crenças dos espectadores.

 

No recente festival STRP em Eindhoven, Floris Kaayk lançou o seu último projecto: Next Space Rebels. É um jogo inovador sobre a democratização do universo e a busca por uma internet independente.

As comunidades espaciais open source que desenvolvem foguetões e satélites a baixo custo desempenham um papel muito importante no jogo. O objectivo é trazer os foguetões para uma órbita mais baixa ao redor da Terra e transformar o espaço num novo domínio público.

 

Em 2014, Kaayk venceu o Prémio de Artes Visuais Volkskrant com os seus filmes de animação e semi-documentários. Em 2016, o seu vídeo para a canção Witch Doctor, da banda de rock alternativo De Staat recebeu diversos prémios, incluindo um Prémio de Vídeo Musical no Reino Unido e o Prémio Edison, um Prémio de Vídeo Musical europeu. Em 2016, The Modular Body venceu o Prémio Golden Calf no Netherlands Film Festival (Festival de Cinema da Holanda) na categoria de “Melhor Obra Interactiva”. Em 2017, Kaayk recebeu o prémio Witteveen+Bos para Arte e Tecnologia pela sua obra completa.

 

 

Sessão

48min

 

The Order Electrus, Floris Kaayk

2005, 7’20’’

 

The Order Electrus (2005) é um documentário ficcionado que apresenta o mundo imaginário de Floris Kaayk com uma natureza industrializada, situado na zona devoluta de Ruhr (Alemanha). Devido à sobrecapacidade nos sistemas de produção, muitas fábricas na Alemanha foram forçadas a fechar. Ao longo de muitos anos, estas zonas industriais devolutas tornaram-se terreno de criação para uma espécie de insectos eléctricos, também denominada The Order Electrus. Estes insectos evoluíram através da fusão entre a natureza e a tecnologia.

 

Metalosis Maligna, Floris Kaayk

2006, 7:27min

 

A história de Metalosis Maligna é contada num documentário ficcionado sobre esta doença, que afecta doentes com implantes médicos. A Metalosis Maligna ocorre quando um implante metálico interage prejudicialmente com o tecido humano, fazendo com que se desenvolvam gavinhas no metal, que eventualmente perfuram a pele e destroem partes do corpo humano. O filme mostra o desenvolvimento da doença nas suas fases iniciais até fases mais avançadas e sangrentas, nas quais pedaços inteiros de carne acabam por cair e tudo o que resta é um esqueleto de sucata.

 

The Origin of Creatures, Floris Kaayk

2010, 12:05 min

 

Uma visão futurista do mundo após um desastre catastrófico. Nesta parábola obscura, membros mutantes procuram colaboração, mas devido a falhas na comunicação esta missão está condenada ao fracasso. A narrativa de The Origin of Creatures baseia-se num dos contos mais conhecidos sobre colaboração, A Torre de Babel. Este conto é transformado e deturpado para apresentar um futuro imaginário, após o mundo ser abatido por uma catástrofe.

Entre os resquícios de uma cidade devastada vive aquilo que resta da humanidade. Corpos humanos são divididos em partes separadas do corpo e fundidas em seres especiais. Juntas, estas criaturas formam uma colónia e apenas podem sobreviver se colaborarem umas com as outras. Nos destroços dos edifícios destruídos, tentam criar um ninho tão grande e alto quanto possível, para que a rainha da colónia possa ter luz solar suficiente para se reproduzir, mas devido às falhas de comunicação, esta missão está condenada ao fracasso.

 

Juxtaposis, Floris Kaayk

2011, 3:59 min

 

Juxtaposis expõe o princípio “crescer através da luta”, o mecanismo que cria a evolução na natureza. Diversos organismos tentam ganhar terreno conquistando partes dos corpos uns dos outros. Através desta batalha, crescem e tornam-se seres cada vez mais complexos. Juxtaposis é produzido em colaboração com Machinefabriek, o alter ego de Rutger Zuydervelt. A música de Machinefabriek combina elementos do ambiente, ruído, minimalismo, drones, gravações no terreno e experiências electro-acústicas.

 

The Rise and Fall of Rayfish Footwear, Floris Kaayk, Koert van Mensvoort & Ton Meijdam

2013, 7:10min

 

Rayfish Footwear cria ténis personalizados feitos a partir de pele genuína de raia. A inovadora técnica de bio-personalização permite-nos desenhar os nossos próprios Rayfish transgénicos. A Rayfish Footwear explora a beleza e a variedade da natureza para criar os primeiros ténis verdadeiramente personalizados em todo o mundo. Com a ferramenta de design online, é possível criar um padrão exclusivo para os ténis Rayfish. Podemos seleccionar elementos de dezenas de padrões animais e combiná-los com algo que a própria natureza nunca poderia ter imaginado.

Rayfish Footwear opera há mais de uma década, criando raias em instalações de aquacultura na Tailândia. A Rayfish Footwear é uma empresa familiar com uma longa tradição na produção de calçado artesanal com pele de raia. Em 2011, a Rayfish Footwear concebeu, com sucesso, a primeira raia totalmente bio-personalizada. Cada sapato é produzido de acordo com o princípio “um peixe, um sapato”.

 

 

Human Birdwings, Floris Kaayk

2011, 3:46min

 

A história transmedia de Jarno Smeets, um jovem que sonha voar como um pássaro e acredita saber como tornar este sonho em realidade. Este retrato do grande sonho de voar alcançou milhões de pessoas e tornou-se manchete em diversos media mundiais. A história alcançou mais de 10 milhões de visualizações online e 25.000 reacções no Youtube. A história foi abordada por grandes media como BBC, Wired, Daily Mail, Gizmodo, TechCrunch, Discovery e muitos media holandeses. Foram contabilizados mais de 30.000 tweets e cerca de 1000 reacções no blog de Jarno.

 

 

The Modular Body, Floris Kaayk

2016-19, 5:32min

 

The Modular Body é uma história de ficção científica sobre a criação de OSCAR, um organismo vivo criado a partir de células humanas. O protagonista é Cornelis Vlasman, um biólogo versátil para quem um percurso já conhecido é uma das definições mais aborrecidas.

Juntamente com algumas pessoas da mesma opinião, abre um laboratório independente no qual faz experiência com materiais orgânicos. O organismo primitivo e vulnerável que resulta das tentativas de Vlasman é OSCAR.

O protótipo, com o tamanho de uma mão humana, consiste em módulos de órgãos clicáveis. OSCAR é mantido vivo com sangue retirado do próprio biólogo e é regularmente vacinado contra infecções, por não ter sistema imunitário. A história refere-se a diversas narrativas semelhantes na literatura e cinema mundial, mais precisamente, Frankenstein de Mary Shelley.

 

Floris Kaayk (1982)

Kaayk terminou a sua licenciatura summa cum laude (com a Maior das Honras) no Departamento de Animação da Academia de Arte e Design AKV St. Joost, em Breda, tendo realizado o seu mestrado em Belas Artes no Instituto Sandberg em Amesterdão. Em 2014, Kayak recebeu o prémio de Artes Visuais Volkskrant pelos seus filmes de animação e semi-documentários. Em 2016, The Modular Body venceu um prémio Golden Calf no Festival de Cinema da Holanda (Netherlands Film Festival) na categoria de “Melhor Obra Interactiva”. Em 2017, Kaayk recebeu o prémio Witteveen+Bos na categoria Arte e Tecnologia pela sua obra completa.



Às 23h15:

Futuro Presente

de Sandra Vieira Jürgens

 

 

O futuro está aí, e partindo do mote do Festival e da crescente atenção dada à política ecológica na esfera cultural e no campo da arte e das suas instituições, esta sessão dá a conhecer obras de artistas contemporâneos que no seu trabalho se relacionam com este tempo histórico de transformação e emergência ambiental, pensando as suas causas passadas e consequências futuras como inseparáveis de questões económicas, tecnológicas e sociopolíticas. Futuro Presente conta com trabalhos vinculados a uma abordagem ética e crítica e a formas de resistência contemporâneas idealizadas por Francisco Pinheiro & Paulo Morais, Marcelo Felix, Nikolai Nekh e Nuno Barroso & Veronika Spierenburg, autores cujas práticas criativas, de investigação e reflexão dão visibilidade a temas que vão das crises e dos impactos ambientais aos direitos laborais e à justiça social.

 

 

Sessão

45 min

 

Cemitério das Âncoras, Nuno Barroso & Veronika Spierenburg

2018, 18’21’’

 

Cemitério das Âncoras é um projecto de cinema colaborativo de Veronika Spierenburg e Nuno Barroso. O ponto de partida é o “cemitério de âncoras” na Praia do Barril, Algarve. Existem centenas de âncoras pesadas “plantadas” na areia e abandonadas, que testemunham a indústria da pesca do atum, uma das mais bem-sucedidas em tempos, tendo o seu declínio ocorrido no último século devido à pesca excessiva.

As observações fixas dos artistas criam uma etnografia visual da pesca artesanal actual, mas igualmente orientadas pelas qualidades esculturais das construções naturais e artificiais que definem a zona costeira.

 

Veronika Spierenburg

Estudou Design na Universidade da Basileia, com bacharelato em Fotografia na Academia Gerrit Rietveld em Amesterdão, tendo concluído os seus estudos com um mestrado em Belas Artes na Central Saint Martins College em Londres.

 

Nuno Barroso

Licenciado em Ciências Ambientais na Universidade Nova de Lisboa. Estudou fotografia documental no colectivo Kameraphoto e Fotografia e Arte Contemporânea no Atelier de Lisboa.

 

 

Domínio, Marcelo Felix

2019, 12’

 

O invisível na rotina dos seres e das coisas, a dimensão imensurável de cada escolha, a origem e o destino da memória: impressões de um dia inquieto, sôfrego, vulnerável, entre a nostalgia da distância que repõe a perspectiva (como a de Caspar David Friedrich em O Viandante sobre um Mar de Névoa) e a imersão quotidiana na múltipla proximidade do caos. Impossível organização desse dia, Domínio é um relance sobre os seus gestos de discreta subversão e também uma breve lembrança do desgaste do mundo, feito de fragmentos de passado e do futuro.

 

Realizador: Marcelo Felix

Colaboração: Pedro dos Reis, João Cardoso Ribeiro e Raquel Jacinto

 

 

Marcelo Felix

Cineasta, realizou A Arca do Éden (2011), Flor e Eclipse (2013), A Mare (2014), Paul (2016), Nas Latitudes do Futuro (2017).

 

 

Avepeixeave, Francisco Pinheiro & Paulo Morais

2017, 7’10’’

 

Este vídeo integra um conjunto de trabalhos sonoros, que resultam de uma investigação em torno do canto das aves, em particular de espécies em risco de extinção. Com base nesta pesquisa, e re-apropriando-se de objectos remanescentes das indústrias, Francisco Pinheiro e Paulo Morais desenvolveram uma série de vídeos em diálogo com o Rio Almansor.

 

Performance: Francisco Pinheiro

Câmara: Paulo Morais

 

Francisco Pinheiro (Lisboa, 1981)

O seu trabalho parte de narrativas colectivas associadas a um determinado território: a questão da seca na Califórnia, ou o desaparecimento do Mar de Aral, convocadas em instalações, textos e performances. É mestre em Novos Géneros pelo San Francisco Art Institute (2014) e licenciado em Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa (2005).

 

Paulo Morais (Paris, 1977)

Trabalho artístico idiossincrático, centrado na sinergia de agentes sonoros e visuais. Os frutos deste trabalho têm sido apresentados sob a forma de performances, instalações sonoras, fotografia e vídeo, em espaços como a Biblioteca Orlando Ribeiro, a Avenida 211 ou a ZDB. No seu percurso ligado à percussão, tem feito parte de projectos como o grupo musical Tumbala.

 

 

Meio Corte, Nikolai Nekh

2014, 7’02’’

 

Meio Corte parte de um questionamento sobre a eficácia da quantidade de greves realizadas nos transportes públicos nos últimos anos em Portugal.

Levando esta questão até a um certo absurdo, é proposta uma outra possibilidade para os trabalhadores reivindicarem os seus direitos laborais. Só que esta forma de actuar não é realizável empiricamente, ela acontece apenas na justaposição do som e da imagem. Novos problemas surgem resultantes deste condicionamento: o som e o texto passam a determinar o conteúdo da imagem. As consequências deste processo são reflectidas num plano de curta duração que se vai repetindo ao longo do vídeo.

 

Nikolai Nekh (1985, Slavhansk-na-Kubani)

Vive e trabalha em Lisboa. A sua prática artística consiste na produção e distribuição de imagens que surgem das trajectórias do capitalismo e das suas formas de representação.