O PODER DA IMAGEM. A PAISAGEM SEGUNDO TOMÁS DA ANUNCIAÇÃO (Lisboa, 1818-1879)
No bicentenário do nascimento do pintor, o MNAC assinala o dia 26 de outubro com a integração de nove obras do artista neste núcleo expositivo. Uma das pinturas em destaque, a encomenda do Conde de Carvalhal, de 1865, Piquenique, hoje na coleção do Museu da Quinta das Cruzes e praticamente inédita em Lisboa, distingue-se pela vivacidade cromática, numa vista alargada da baía do Funchal, eventualmente a partir de fotografia.
Defendeu o gosto pela pintura de paisagem ainda aluno da Academia de Belas-Artes, onde entrou em 1837, e como forma de contestação ao ensino académico abandonou a Academia por breve período. Tal como um conjunto de jovens alunos, e talvez por ser o mais velho do grupo, Anunciação insurgia-se e destacava-se contra os professores, numa tranquila revolta de métodos e práticas. Era importante pintar “do natural”, registar apontamentos de paisagem e descobrir as especificidades regionais e os costumes tradicionais, ideia sugerida na literatura, por Almeida Garrett, na publicação Viagens na minha terra, 1846. Rapidamente foi considerado o chefe do grupo, o Mestre, e assim ficou representado na primeira pintura coletiva de artistas, em 1855, Os cinco artistas em Sintra, de João Cristino da Silva, seu colega na Academia.
A importância que atribuiu ao desenho, à representação pormenorizada da realidade, como estudo preparatório da pintura, são determinantes para a sua produção, e constituíam elementos fundamentais da sua aprendizagem inicial, nas aulas de Arquitetura da Sala do Risco do Arsenal e no ofício de praticante-desenhador no Museu de História Natural. De contestatário aluno a professor na Academia, desde 1852, Anunciação prosseguiu na defesa do registo da paisagem, costumes e animais, sendo considerado o mestre da nova geração romântica (Francisco Metrass, João Cristino da Silva, José Rodrigues, Victor Bastos) atraída pelo “natural”, como Na eira e Piquenique, provavelmente com a novidade do recurso à fotografia como referência, e O vitelo, de 1873.
A sua produção artística marcou este período, persistindo um fascínio da arte moderna pela pintura de paisagem e de costumes, nas novas propostas de Silva Porto que o substituiu como professor da Academia de Belas-Artes, após a sua morte.
M.A.S.