Restaurada entre 2016 e 2017 pelo Museu Guggenheim, BRANDON é uma narrativa da web que explora questões de fusão de género e tecno-corpo tanto no espaço público como no ciberespaço.
Considerada como um marco da Internet Art, o título deriva de Brandon Teena (Nebrasca, EUA), um jovem homem trans do Nebrasca que foi brutalmente agredido e assassinado em 1993, depois da sua anatomia feminina ter sido revelada. Através da estrutura de várias camadas – num sistema de upload contínuo contribuído por múltiplos autores – este trabalho coloca Brandon no ciberespaço através de narrativas rizomáticas, imagens e documentos, cuja trajetória conduz a questões de crime e castigo destacando a persistência da opressão baseada no género do corpo online socialmente construído no contexto aparentemente liberatório da net.
Em 1998, nos primórdios da Internet, e visando a extensão do museu ao espaço virtual, o Curador Associado para Investigação do Guggenheim, Matthew Drutt, ajudou a concretizar este projeto que se tornaria numa das três primeiras obras de arte da web a fazer parte da coleção permanente do museu.
Programado entre 1996 e 1997, o projeto visava ser uma narrativa de um ano, desenvolvida por episódios, estruturada em quatro interfaces, cada uma projetada para a participação e colaboração de artistas. Durante 1998 e 1999, os curadores convidados foram desafiados a escolher outros artistas e escritores para estes contribuírem com novos uploads para cada uma dessas interfaces, tendo sido lançada também uma ligação direta entre o Theatrum Anatomicum de Amsterdão (DeWagg, Society for Old and New Media) e o Museu Guggenheim no Soho, onde a peça era exibida regularmente e em horários programados numa videowall, e mostrando interações ao vivo entre os dois lugares.
Seguindo a estética de narrativas não-lineares de Cheang, o projeto desenvolveu-se dentro das interfaces, plataformas colaborativas interligadas entre si: bigdoll, roadtrip, mooplay, panopticon e a interface Theatrum Anatomicum. A sua estrutura não-conformativa, inicialmente planeada para existir online, rapidamente se tornou num espaço em si, incluindo eventos ao vivo onde o público se podia envolver em discussões sobre género e identidade racial.
Viajando de um servidor para outro e enfrentando a evolução tecnológica, BRANDON começou a tornar-se inacessível por não estar de acordo com a transformação dos browsers e ambientes dos servidores, o que causava o mau funcionamento do seu conteúdo. Após uma análise cuidadosa e com uma compreensão detalhada do comportamento pretendido da obra de arte original, o departamento de conservação do Guggenheim abordou Shu Lea Cheang com uma estratégia de restauro.
O restauro completo foi lançado em dezembro de 2016, coincidindo com sua inclusão no projeto Rhizome’s Net Art Antology, uma exposição online de dois anos com o objetivo de identificar, preservar e apresentar cem obras de arte seminais da história da net art.
Brandon no seu âmago continua a representar a natureza rizomática do conceito de queer, abarcando em si mesmo uma multiplicidade de significados. Após duas décadas, a sua estrutura fragmentada, participativa e não linear ecoa na crescente complexidade que envolve o discurso LGBTQ+.