Julião Sarmento, Faces, 1976
Julião Sarmento, Faces, 1976

MNAC

entrada: Condições Gerais

Julião Sarmento

Trabalhos dos anos 70

2002-11-07
2003-02-16
Curadoria: Pedro Lapa
No curso da década de 1970 Julião Sarmento desenvolveu um trabalho inovador no panorama artístico português e estabeleceu um diálogo com as questões centrais que pontuaram as práticas artísticas internacionais da época. Num momento de profundas alterações e reconsideração do estatuto do objecto artístico, Julião Sarmento foi sensível a essa mutação, inscrevendo uma abordagem singular que trouxe para o primeiro plano o papel do desejo na formação da subjectividade do sujeito. A extensão da produção é inédita e por si só vale uma das mais profundas alterações que o panorama artístico português sofreu no curso do século XX.
Impunha-se assim fazer uma revisão do trabalho realizado através de um estudo exaustivo. A investigação que se apresenta neste catálogo e que permitiu organizar esta exposição delimitou o seu enfoque à obra produzida na referida década e privilegiou maioritariamente o trabalho sobre fotografia, texto, filme, instalação e som - os media que promoveram a expansão do campo artístico. As pinturas executadas neste período não foram por isso consideradas, até porque o trabalho sobre esse medium terá nas décadas seguintes um substancial desenvolvimento, como até então não havia acontecido. Algumas exposições como Flashback, Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Palacio de Velázquez e Fundação Calouste Gulbenkian, Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, 1999, ou Julião Sarmento, Fundação Serralves, 1992, mostraram como o curso da sua obra é profundamente devedor dos trabalhos realizados na época em
análise que se configuram num objecto de contínua reelaboração.
Muitas provas fotográficas dos trabalhos e filmes perderam-se no incêndio da Galeria de Arte Moderna de Belém facto que obrigou a realizar novas provas para esta exposição. Os filmes originais em Super 8 foram transferidos para DVD de forma a possibilitar a sua apresentação contínua, requerida pelas condições de uma exposição. Tanto no catálogo como na própria exposição a sua apresentação não está organizada por género, antes procura promover articulações com trabalhos sobre outros suportes. A ordem pela qual as obras são apresentadas neste catálogo segue a sua cronologia, o que naturalmente não acontece com a exposição que desenvolve núcleos agru­pados em torno de questões relativas à própria estrutura interna da obra con­siderada no seu conjunto. O historial bibliográfico e expositivo de cada peça, que acompanha a respectiva ficha, é exaustivo de forma a situar e posicionar as transformações da sua recepção, actualizadas até ao presente estudo. A exposição organizou-se como uma síntese, naturalmente condicionada pelo espaço onde tem lugar, privilegiando conceitos e categorias operativas que estruturam o conjunto de peças apresentadas.
Gostaria de agradecer o apoio que a direcção do Instituto Português de Museus deu, desde o início, a este projecto. A Divisão de Documentação Fotográfica e muito especialmente José Pessoa, prestaram um apoio funda­mental na recuperação de alguns destes trabalhos. A equipa do Museu do Chiado trabalhou arduamente e com a máxima competência de sempre para instalar esta complexa exposição. Nuno Ferreira de Carvalho geriu os muitos trabalhos que deram origem a este catálogo, com a atenção e dedicação que nos tem habituado. Pedro Santos projectou o magnífico design que tantas vezes tem distinguido a qualidade dos nossos catálogos. Cristina Guerra, Pedro Oliveira,Márcia Fortes, Nicolas Logsdail e Sean Kelly, todos eles galeristas do artista foram entusiastas apoiantes desta iniciativa pelo que a todos agradeço. Gostaria também de reconhecer a importante contribuição do Museu Stedeljik Van Abbemuseum através do seu director Jan Debbaut, que disponibilizou gentilmente todo o material fílmico do artista. Bartomeu Marí escreveu um ensaio para o catálogo com a perspicácia que lhe conhe­cemos fazendo uma abordagem que projecta a obra nos desenvolvimentos ulteriores das práticas artísticas levadas a cabo por outros artistas mais jovens, a par de uma perspectiva exterior aos condicionalismos da história de arte portuguesa.
Um vasto, precioso e exaustivo trabalho de documentação foi integralmente realizado por María Jesús Ávila com uma exemplaridade notável. Certamente que a história deste período ficará mais conhecida depois deste trabalho.
Os meus maiores agradecimentos vão para Julião Sarmento que pacientemente com um entusiasmo, disponibilidade e uma memória ímpar tornou a realização desta exposição na partilha da alegria que a criação artística pode significar. Para ele o meu profundo reconhecimento.


Pedro Lapa
Director do Museu do Chiado - Museu Nacional de Arte Contemporânea