Patrícia Garrido: Jogo de Damas (1995)
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Galeria do Bar
entrada: Condições GeraisJogo de Damas
Patrícia Garrido
1995-06-29
1995-11-12
Curadoria: Pedro Lapa
Jogo de Damas
Patrícia Garrido é uma jovem escultora revelada ao longo desta década, ainda que as suas primeiras exposições tenham ocorrido no final da anterior. Nestas era já reconhecível uma problemática centrada no corpo, onde a sua interioridade visceral, bem como as pulsões primárias ligadas à gula ou à sexualidade, eram tematizadas. Exposições mais recentes, como "Jogos de Cama" ou "O Prazer é Todo Meu", aprofundam o tema da sexualidade ora implícito enquanto situação metonímica, ora sugerido como metáfora de uma intensidade. Paralelamente, novos suportes escultóricos – como, no primeiro caso, o ready-made – redefiniram a sua linguagem dentro de um esquema vagamente apropriacionista, característico da sua geração.
Estas esculturas de "Jogo de Damas" apropriam assim objectos de uso quotidiano para os manipular através de uma gramática própria. Na sua globalidade diferenciam-se do ready-made dadaísta pela insistência e repercussão de elementos como a cor e o pregueado de algumas borrachas, sugerindo interioridades orgânicas, sexualmente conotadas no feminino. A sua poética trabalhada em suportes tradicionais, como a pintura e a escultura, experimenta agora o objecto, que permite reiterar a dimensão abjeccionista anteriormente pressuposta e que no presente contexto subverte a colecção do Museu do Chiado, base referencial destes trabalhos.
As doze esculturas apresentadas deixam supor individualmente vagas narrativas pontuadas pelo non-sense, situação que é amplificada com a atribuição do título de uma obra da colecção do museu a cada caso. Um jogo ambíguo insinua-se na literalidade absurda com que os títulos são assumidos, como é por exemplo o caso de "Auto-retrato (com Caracóis)" onde cada um dos caracóis vivos exibe, pintado na casca, uma letra do nome da artista, ou então na peça que dá o título à exposição, "Jogo de Damas", que depois de apropriar um aspecto de uma pintura do museu desloca o tradicional jogo de damas para uma representação simbólica ou íntima do seu sentido literal. A literalidade tal como o objecto apropriado, suporte da escultura, são assim a charneira de um enunciado imediatamente absurdo que se desdobra num outro mediatamente íntimo, que o voyeurismo do observador entrevê dentro de urna caixa. O sentido transita do risível para um obscuro domínio que não poucas vezes, casos de "Malmequer" ou "Meninas", é devolvido por urna sugestão de orifício orgânico que apela a nova interioridade num jogo de esbatimento dos signos uns nos outros como pura incongruência e de que "Interior" será um dos mais radicais exemplos. O aspecto sentencioso destas esculturas, reforçado pela sobreposição do título no campo de visibilidade da peça, apenas exalta esta incongruência. O orgânico torna.--se' assim urna linguagem insustentável enquanto sentido territorializado e cuja ductilidade apela a jogos sexualizados ("Adão e Eva") onde os sentidos resvalam para relações de intensidades que ligam os componentes das peças e o voyeurismo dos seus observadores. "Então de que se queixam?"
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