Alexandre Estrela, Hi8, 1999-2001
Alexandre Estrela, Hi8, 1999-2001

Sala Polivalente

entrada: Condições Gerais

Cross Sharing

Alexandre Estrela

2001-03-02
2001-05-06
Curadoria: Pedro Lapa
Reflectindo sobre os mecanismos de produção do encantamento cinematográfico, Jean Cocteau consi­derava que "Le ravissement (...) viendra de quelque faute, de quelque syncope, de quelque rencontre for­tuite entre l'attention et l'inattention de son auteur. (Et la faculté d'émerveillement du spectateur. On n'a rien sans rien)”.
Um longo percurso separa o movimento encantató­rio/público do cinema do diálogo imbuicional/privado do vídeo, mas esta reflexão de Cocteau atravessa o tempo e serve-nos exemplarmente de contexto e pon­to de partida para a análise da instalação vídeo de Alexandre Estrela, constituída por três peças autóno­mas: Cross Sharing, Hi8 e Turquoise Hexagon Sun, projectadas em diálogo permanente.
O trabalho de Alexandre Estrela, reflecte, acima de tudo, uma singular e dupla postura face ao processo criativo, a de um autor em permanente concentração, pesquisando "os encontros fortuitos, a atenção e a desatenção", e a de um espectador maravilhado com os artifícios perceptivos. Contrariando a própria na­tureza imediata, logo abstraída, dos sinais electrónicos da imagem vídeo e dos mecanismos de apre­ensão da sociedade contemporânea, segundo a teo­rização de Walter Benjamin, assentes num "estado de distracção", Alexandre Estrela incute a todo o seu trabalho uma filosofia metódica da concentração pu­ra, de modo a desarticular os enredos da forma de olhar.
Os três vídeos, apresentados no Museu do Chiado, reflectem súmulas do seu percurso criativo e neles re­encontramos questões essenciais, resultando numa espécie de evangelho das suas procuras e encontros estéticos.


Emília Tavares