Augusto Alves da Silva, Espaço de Tempo, pormenor da exposição
Augusto Alves da Silva, Espaço de Tempo, pormenor da exposição

MNAC

entrada: Condições Gerais

Espaço de Tempo e Ugly

Augusto Alves da Silva

2002-03-08
2002-06-16
Curadoria: Pedro Lapa
Espaço de tempo é um trabalho particular e marginal realizado no contexto de uma encomenda, que a Companhia Nacional de Bailado (CNB) dirigiu a Augusto Alves da Silva, destinada a acompanhar e reportar fotograficamente as suas actividades. A própria escolha do suporte, o vídeo, que de resto não é inédito no trabalho do artista, e a sua resolução através de uma dupla projecção sincronizada por uma mesma música e que implica directamente o aparato do vídeo na produção de sentido da própria peça, contribuiu para distinguir as premissas deste trabalho relativamente ao âmbito em que se centrou a encomenda das fotografias que realizou sobre as activi­dades da própria Companhia Nacional de Bailado.
A intenção de reportar uma outra actividade artística não está condicionada à consideração ilusória da fotografia como um análogo denotativo do real, ou seja, como uma mimese isenta e neutra relativamente a qualquer código, mas é por si um trabalho autónomo, com a sua ordem de considerações, afectações e escolhas, que se articulam de fotografia para fotografia. Importa, no entanto, não perder de vista como a enco­menda pode confinar a recepção a objectivos determinados, por mais alargados que estes sejam. A escolha de um referente, tema ou modo de apresentação submetidos a uma função determinada são por si instâncias de condicionamento, como muito mais elaborada o pode ser a que sobre algo que procura legitimação apenas solicita um olhar artístico para dele receber uma mais-valia. As escolhas de Augusto Alves da Silva ( ist, Uma Cidade Assim ou CNB 2001, entre outras) têm sido rigorosas a este respeito. O condicionamento da encomenda, permitiu-lhe trabalhar no limiar da respectiva superação, no desvio. Seria eventualmente possível interrogarmo-nos se à aceitação de encomendas específicas, para além das condicionantes da relação con­tratual implícita, não subjaz um prazer de trabalhar nos limites de um tema, área ou conceito, promovendo um território de intervenção entre o que foi proposto e o que de todo o ultrapassa, ou seja, uma procura obstinada da permeabilidade das fronteiras. A hibridez do mundo contemporâneo torna-se assim susceptível de objectivação construída pelas determinações dos enquadramentos de Augusto Alves da Silva.

Pedro Lapa
Director do Museu do Chiado