O projeto ECHOES consiste num ciclo de exposições individuais que reúne jovens artistas de origem portuguesa, a trabalhar e residir fora do seu país de origem. Artistas que apresentam, na sua maioria, um currículo construído com exposições realizadas no estrangeiro, onde têm ganho crescente reconhecimento, mas com pouco ou nenhum eco em Portugal. Ainda que a maioria destes criadores procure divulgar o seu trabalho no país natal, com a realização pontual de mostras, são de um modo geral pouco conhecidos e acabam por estabelecer maior contacto com importantes centros artísticos internacionais.
Durante cerca de um ano, o MNAC irá realizar um ciclo de mostras individuais na parede de fundo do atrium do Museu. É neste espaço de acolhimento que os visitantes são interpelados por trabalhos recentes ou inéditos de nomes da diáspora cultural portuguesa, que espelham as novas linguagens de criação artística contemporânea. O convite foi lançado a artistas lusófonos estabelecidos em países com comunidades portuguesas relevantes ou em crescente afirmação, nos cinco principais continentes de destino migratório. Valorizou-se uma visão plural com perspetivas culturais diversas e experiências artísticas distintas.
Sendo a arte uma área privilegiada para a abordagem de questões políticas, económicas, sociais, etc., estes “Ecos” propõem também a reflexão sobre questões pertinentes da atualidade: o reativar do impulso à emigração, as miscigenações sociais e respetivas hibridizações culturais, os diferentes modelos e parâmetros de integração e cidadania, a dicotomia no que toca à identidade e o surgimento de novas geografias emocionais. Esta iniciativa visa estabelecer a ponte entre as novas gerações de criadores portugueses que estão fora do contexto nacional e o MNAC como espaço de excelência no contacto com a arte contemporânea portuguesa e local de acesso à novidade que estimula novos olhares sobre o real.
de 05/12/2015 a 10/01/2016
Rita GT: We Shall Overcome!
We Shall Overcome! é uma mensagem mundialmente conhecida, com origem num cântico gospel, “I Will Overcome”, do final do Século XIX. Este cântico foi adaptado, em 1948, pelo cantor norte-americano Pete Seeger como canção de protesto, tendo-se difundido, e tornado nos anos 60, um hino do movimento de luta pelos direitos civis dos negros na América do Norte. A partir daí, tem sido utilizado em diversas situações de contestação, nomeadamente nas marchas de Selma para Montgomery; no combate antiapartheid na África do Sul; no último discurso de Martin Luther King; na Revolução de Veludo em Praga, e até na Índia.
Rita GT, apropria-se do título desta canção - hino de luta pela liberdade de expressão, pela igualdade de direitos sociais e raciais, de movimentos pró-democracia em todo o mundo - para lhe dar uma nova dimensão espacotemporal. O seu trabalho reflete o atual sentimento de descontentamento e injustiça, de uma democracia defraudada por tiranias subversivas que minam e dominam a sociedade, a política e a economia. A artista explora as questões que geram tensão social não só em Angola, onde vive, desde 2012, mas também no resto do mundo, como as migrações ilegais, o tráfico humano, terrorismo e as mortes massivas.
O
trabalho apresentado no MNAC resultará de uma performance que decorrerá no dia
da inauguração e ficará registada em vídeo e disponível, a partir do dia
seguinte, no espaço expositivo e online. Nesse dia, um grupo de pessoas com
fatos-macacos feitos com pano africano de padrão criado pela artista, entrará
no Museu para preencher a parede, inicialmente vazia, com um papel de padrão
também criado pela artista. Este processo será acompanhado pelo músico
nigeriano Keziah Jones e um grupo de bailarinos. A artista participará também na
colocação do papel e sobre ele irá desenhar sinais ligados ao conceito das
palavras de ordem.
Convocam-se assim, numa acção multidisciplinar, diversas vertentes da utilização destas palavras de luta e protesto: a música e a força das palavras; a ligação aos direitos dos negros, e aos direitos das mulheres; a marcha e o princípio de luta pacífica; a força do grupo; a ideia de resistência e a importância da interpretação artística e do que importa perpetuar.
Adelaide Ginga
Curadora