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ALDEBARAN CAÍDA POR TERRA

2025-02-28
2025-06-22
Curadoria: Emília Ferreira

ALDEBARAN CAÍDA POR TERRA

Aldebaran Caída por Terra é uma série de pinturas moldadas, com formas irregulares e orgânicas, onde o volume e incidência da luz se insinuam na forma de ver os (quase todos) rostos, pintados a pastel de óleo. Penduradas com cordão de couro, por contraste com formas geométricas, estão ao mesmo tempo espalhadas e agrupadas, podendo ser encaradas como uma enorme instalação.

 

Aldebaran Caída por Terra é dominada pelo encontro com as considerações extraordinárias de Karen Blixen nos seus Sete Contos Góticos e os imprevistos e encantamentos dos contos italianos que Italo Calvino compilou, e que, já há alguns anos, leio à minha filha antes de adormecer.

 As MáscarasWilde Frau e Mulher com EspelhoApolo & DafneA Cabeça no ArmárioOs Meninos (a partir de Paolo Ucello), O Anjo e As Aias. Assim foram agrupadas as pinturas e, entre estas, estão SombrasSombras são desenhos a tinta-da-china sobre papel esquisso, de tamanhos variados e formas irregulares, que percorrem toda a exposição e a alicerçam: são as sombras das pinturas, mas umas sombras com vida própria. 

Aldebaran Caída por Terra é também um pequeno filme: um texto contado que parece ser uma interminável história de encantar, embate numa antiga colecção de imagens de filmes, de actores e actrizes de épocas que já lá vão, tal como as histórias de encantar; ídolos queimados. Cómico e dramático, este filme quase hipnótico e extremamente visual conta também com as voluptuosas formas das pinturas enquanto personagens.

Aldebaran Caída por Terra é como um sonho, é uma espécie de viagem.

 “Senhora, um dia houve em que estive no cárcere. Ali não podia olhar as estrelas, mas costumava sonhar com elas. Sonhava que, por não poder vigiá-las, elas corriam por todo o firmamento, e os pastores, que à noite conduziam as ovelhas e os camelos, se perdiam no caminho. Sonhei, até, uma vez consigo, senhora, e que, ao encontrar a estrela Aldebaran caída do céu, a apanhei e lha ofereci.”

 Karen Blixen, “Nas Estradas de Pisa”, Sete Contos Góticos (1934, 1961), traduzido por Maria José Jorge, Volume I, Biblioteca de Bolso, Dom Quixote, 1987.

 Adriana Molder

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Adriana Molder

Nasceu em Lisboa em 1975. Vive e trabalha em Lisboa.

Reconhecida pelos seus desenhos de grande escala, em tinta-da-china sobre papel esquisso, as figuras retratadas por Adriana Molder oscilam entre o sonho, a fantasmagoria e a realidade O ponto central conceptual do seu trabalho é a importância do rosto como símbolo no imaginário contemporâneo. A Artista produziu diversas séries de retratos inspiradas em figuras iconográficas da cultura popular, pelo cinema, pela história de arte, tendo estas sempre uma forte ligação à literatura. Os seus desenhos e pinturas criam uma familiaridade instantânea entre o espectador e seu trabalho, tornando-o ao mesmo tempo relevante e acessível.

Observando o conjunto da obra ficamos perante uma galeria de figuras em que se combinam os ecos da fidelidade retratística, a vocação para a invenção ficcional ou narrativa e, pairando em torno de tudo, algo que, para não lhe chamar aura,  designaremos por qualidade atmosférica. Uma atmosfera que desloca o estatuto da representação para um estatuto de memória, onde o exercício da distância em relação ao observador se torna irreversível e, nesse trânsito, torna inevitável a quase leve passagem de uma sombra de morte.

 Adriana Molder fez o curso de Realização Plástica do Espectáculo na ESTC e de Desenho, Avançado de Artes Plásticas e Individula na Ar.Co, em Lisboa. Participou em residências internacionais como a da Budapest Galeria (Budapeste) e foi artista residente na Künstlerhaus Bethanien (Berlim) em 2007, ano em que ganhou em Berlim, onde viria a residir treze anos, o prémio revelação artes plásticas Herbert Zapp. Antes, ainda em Lisboa, ganhou em 2003 o prémio Celpa/Vieira da Silva Revelação Artes Plásticas. Expõe individualmente em Portugal e no estrangeiro desde 2002. 

Das exposições individuais, destacam-se : 2025 “ Aldebaran Caída Por Terra, MNAC Museu Nacional de Arte Contemporânea, Lisboa, “Antares”, Galeria Municipal Torreão Nascente da Cordoaria Nacional, Lisboa; 2023, “Serpentina”, Escola das Artes, UCP, Porto, 2022; “Espelho”, Galeria 111, Lisboa, Portugal; 2021, “O Meu Rosto Está Aqui No Fogo-Fátuo”, Jardim de Inverno, Teatro São Luiz, Lisboa, Portugal; 2018, Todas as Fotografias do Ford, projecto Travessa da Ermida, Lisboa, Portugal; 2014, The Light on the Heart, Art Plural Gallery, Singapura; 2012, num projecto original concebido com Paula Rego “A Dama Pé-de-Cabra, Paula Rego e Adriana Molder”, Casa das Histórias- Paula Rego, Cascais, Portugal; 2011, “Winter Was Hard”, Beck & Eggeling new quarters, Düsseldorf, Alemanha; 2009, “We have faces!”, DSV Kunstkontor, Stuttgart, Alemanha; “V” Fundação Arpad Szenes Vieira da Silva, Lisboa, Portugal; 2007, “Der Traumdeuter”, Künstlerhaus Bethanien, Berlim, Alemanha; 2007 “A Madrugada de Wilhelm e Leopoldine”, Fundação Carmona e Costa, Lisboa, Portugal; 2006, “Hôtel”, Fruesorge Galerie für Zeichnung, Berlim, Alemanha; 2003, “Copycat”, Museu de Arte Sacra do Funchal, Funchal, Portugal; 2002, “Câmara de Gelo”, Sintra Museu de Arte Moderna — Colecção Berardo.

Está representada em diversas colecções, privadas e públicas, em Portugal e no estrangeiro, entre as quais Novo Banco, Colecção António Cachola, Colecção Berardo, Coleção Figueiredo Ribeiro, Union Fenosa e Kupferstichkabinett - Staatliche Museen zu Berlin.

 Dirigiu entre 2020 e 2024 o projecto de exposições Galeria da Casa A.Molder em Lisboa, na Loja com História Filatelia A. Molder de August Molder.