Nesta série, mais próxima dos desenvolvimentos de outras séries com o título Para um enriquecimento interior, a fotografia não é tomada como a face ou a revelação de um enunciado, ela torna-se o suporte performativo de uma vontade de aprisionamento. Ao provocar a erosão dos pressupostos que constituem a apreensão de cada medium, o olhar que podemos ter sobre eles é confundido no sentido de obrigar o espectador a libertar-se desses limites perceptivos. A polarização entre o aspecto documental, inerente ao objecto fotográfico, e o artifício pictórico que surge aqui apenas simbolizado, obriga a repensar toda a estratégia de arrumação das tipologias artísticas. Por outro lado, a pintura surge como um conceito esquivo, que resistia naquela década, como agora, a um habitar-se inquestionável.

Emília Tavares