Esse diálogo é realizado a partir de um dos mais tradicionais géneros artísticos — o retrato —, já que a invenção da fotografia em 1839, introduziu de forma significativa um novo paradigma perante a representação do sujeito. Os estúdios comerciais de retrato vão afirmar-se ao longo deste período, impondo-se a uma sociedade burguesa ávida de novidade e de instrumentos de consagração da sua importância social.
A fotografia veio dar visibilidade a uma sociedade do parecer, de forma massificada e verista, que inevitavelmente se confrontaria com os conceitos metafísicos da pintura de retrato. Por isso, ao longo desta exposição, propomos uma visão altercada entre os modelos mecânicos e veristas da representação do sujeito e a sua estética interpretativa desde o romantismo ao naturalismo.
Nesse diálogo encontramos uma evidente transferência de influências, já que o retrato fotográfico foi compilado a partir das referências interpretativas pictóricas, mas a pintura também se reformulou perante o novo gosto realista fotográfico do detalhe e da verosimilhança.
Através de seis núcleos, abordam-se algumas das correntes e conceitos mais relevantes que marcaram a estética do retrato, e de que modo a fotografia, a pintura e a escultura foram evoluindo a sua estética e definindo novos modelos artísticos, que foram também representativos das mudanças sociais da arte. Transparece a sedução pela modernidade, através de “fórmulas naturalistas da "arte moderna”, como comentara Ramalho Ortigão, em 1883.
Entre o ser e o parecer, entre a verdade na arte e a vontade de introduzir o realismo como nova expressão artística, estabelece-se o dilema, a partir da afirmação do artista com entusiasmo inovador na observação do autorretrato, do drama humano e retrato da natureza, em apontamentos no intimismo, até à realização do que o espírito sente, em retratos captados sob a influência do sujeito e orgulhosos dos seus “inconscientes imortais”.
Emília Tavares
Maria de Aires Silveira