João Grama. Hoje o mar não deixa. 2015. Still vídeo
João Grama. Hoje o mar não deixa. 2015. Still vídeo

Sala SONAE

entrada: Condições Gerais

João Grama. Hoje o mar não deixa

2016-02-18
2016-05-08
Curadoria: Emília Tavares


João Grama. Hoje o mar não deixa

A presente obra em vídeo de João Grama aborda as tensões percetivas entre o ver e o dizer, ao mesmo tempo que coloca a linguagem como centro duma teia de entendimento acerca da aculturação do natural.

Durante quatro anos, o artista observou e viveu entre os marisqueiros da zona de Vila do Bispo e Sagres, procurando desvendar a profunda relação que os mesmos estabelecem com o mar, fonte principal da sua subsistência. Contudo, o filme não se apresenta como um objeto etnográfico, é antes um trabalho sobre os contornos ontológicos da imagem e do seu confronto com a construção complexa de imaginários. E uma incursão sobre uma velha dialética entre visibilidade e dizibilidade, sobre os limites representativos da imagem e as apetências imagéticas de toda a linguagem.

Ao longo do filme existe uma imanência do ver, que não advém do domínio das imagens, mas que se alicerça no léxico descritivo do dar a ver através das palavras. Na imagem da noite inscrevem-se as vozes dos pescadores, naquilo que surge, primeiro, como uma imagem abstrata das palavras, e que se vai desenvolvendo como uma narrativa descritiva sobre o mar. 

Através de um só take, a presença descritiva das palavras na conversa dos pescadores sobre as condições do mar, é explorada na sua apetência histórica de dimensão visual.

O que o filme demonstra é que nenhuma imagem poderia ser suficientemente descritiva do que os marisqueiros veem, apenas podemos contemplar a superfície duma representação que se perde na vacuidade de tudo o que já vimos e julgamos conhecer. Porque ver tornou-se, de forma demasiado literal, o modo de conhecer.

A paisagem que se estende diante dos nossos olhos é a da distensão da palavra, da malha tecida dos seus significados, perante uma contemplação que é um ato de ação e não um estar diante eloquente.

Ao confrontar-nos com a descrição na sua forma mais superlativa, João Grama reitera a importância de preencher os vazios da imagem, fazendo a elegia do poder de evocação da palavra e do significado primordial de poïesis, enquanto verbo de ação.

Emília Tavares

Apoios

Atividades

    2016-02-17 19h00
    Inauguração
    2016-03-08 15h30
    Screening de filmes sobre a arte marisqueira
    2016-03-16 18h30
    "Experiências de campo: registo filmado, registo fotográfico", conversa com Luís Sousa Martins
    2016-04-20
    2016-04-21

    18h00
    Visita guiada por Luís Sousa Martins às reservas “Artes de Pesca. Pescadores, normas, objetos instáveis” no Museu Nacional de Etnologia
    2016-04-27 18h30
    Conversa com Nuno Crespo sobre o trabalho de João Grama
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