Sinopses
9 a 14 de Abril
Zanele Muholi & Peter Goldsmid (África do Sul)
Difficult Love, 2010, vídeo, cor, som, 47’33’’
Cortesia da artista e Stevenson Gallery, Cape Town e Joanesburgo
Difficult Love é um documentário que analisa a realidade da comunidade lésbica negra na África do Sul. Através de entrevistas com Muholi e outras mulheres do seu círculo de amizades e conhecimentos, o filme traça o quotidiano duma minoria numa sociedade em que o preconceito em relação ao género assume uma banalizada violência. O relato intimista e pessoal e a fusão entre vida e arte, servem a Muholi para redigir um manifesto político sobre os direitos das minorias de género, numa sociedade enraizadamente tradicionalista e patriarcal. O filme assumiu uma relevante projecção internacional, tendo vindo a ser consagrado através de prémios em festivais e exibições por todo o mundo.
16 a 21 de Abril
Mare Tralla (Estónia)
Crazy Love, 2011, vídeo, cor, som 7’ 14’’
Cortesia da artista
Ver televisão é uma das muitas actividades favoritas das donas de casa, sendo frequentemente o seu único prazer e significando um caminho para a inactividade e a depressão. Numa interpretação imediata, Crazy Love, é uma ilustração irónica e simples dessa situação. Uma mulher nua está sentada de forma desconfortável numa cadeira de criança diante dum ecrã de televisão, numa pose de desistência, triste e só, desejando algo inalcançável. As imagens da televisão mostram heroínas do cinema, mulheres lindas e apaixonadas. Contudo, numa análise mais profunda, o vídeo documenta o percurso pessoal da artista para "sair do armário", ao revisitar filmes e livros queer, abrindo lentamente o caminho para abandonar a sua desconfortável realidade heterossexual. O trabalho pretende também comentar a situação de muitas outras pessoas que cresceram durante o antigo regime soviético e que continuam a encenar uma vida de "normalidade", incapazes de assumirem outras sexualidades em sociedades que continuam a ser extremamente homofóbicas. (Mare Tralla)
Roberta Lima (Brasil )
Please help yourself, 2008, vídeo, cor, som, 4’ 24’’
Cortesia da artista
Neste trabalho, Lima faz referências à personagens de ficção dos filmes de John Waters e de outros directores de Hollywood. O trabalho usa como tema a influência que diversos media, como a televisão, filmes e jornais, possuem sobre o público, na transformação da violência, associada ao feminino, em ícones glamorosos. O filme começa com uma montagem de 1 minuto e 40 segundos inspirada na dualidade dos personagens femininos da história do cinema. Por exemplo, em “Serial Mom” (1994) Kathleen Turner encena a personagem fictícia da perfeita mãe e dona de casa que vive uma vida dupla como serial killer. O filme também retrata mulheres que ficaram famosas pelos seus actos de violência na sociedade ocidental, como Patty Hearst – um verdadeiro exemplo de glamour transformado em guerrilha – e Maria Bonita, a figura icónica do folclore brasileiro. (Roberta Lima)
Mare Tralla (Estónia)
Reading faces, 2011, vídeo, p/b, s/som, 5’30’’
Cortesia da artista
Neste vídeo a artista coloca em diálogo duas personagens de dois emblemáticos filmes estonianos, Agnes de “A Última Relíquia” (1969) de Grigori Kromanov, e Veronika de “Ave Vita” (1970) de Almantas Grikevičius. Ambas as personagens defrontam-se com momentos decisivos nas suas vidas. Agnes é pedida em casamento por um homem que não ama para salvação de uma relíquia sagrada. Veronika descobre que está grávida. Ambas as personagens lutam para serem mulheres independentes, procurando o seu eu. No vídeo, estas heroínas são destituídas das suas vozes, apenas as suas faces são visíveis, encetando uma conversação silenciosa de olhares, apenas interrompida por subtítulos que reflectem o modo como o poder das estruturas patriarcais (o convento e o hospital) tentam controlar o corpo e a vida íntima das mulheres. Deste modo, os verdadeiros sentimentos de Agnes e Veronika podem ser lidos apenas através dos seus rostos. (Mare Tralla)
Carla Cruz (Portugal)
Que Quem Está Ferido não se Recolha, Antes Despeje o seu Sangue no Mundo, 2009,
vídeo, cor, som, 7’ 55’’
Cortesia da artista
A performance registada neste vídeo foi efectuada pela artista no Open Festival of Performative Arts em Beijing na China em 2009. Neste trabalho, Carla Cruz problematiza acerca do papel da mulher na sociedade portuguesa, baseada no projecto feminista de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa "Novas Cartas Portuguesas", escritas durante o regime fascista em Portugal, em 1971, com grande significado fracturante para a sociedade portuguesa e que suscitou enorme interesse internacional. A performance da artista utiliza textos originais das autoras referidas, assim como outros escritos pela própria. A estranha narrativa é acompanhada pela revelação de uma banda pintada com uma sequência de oito episódios que representam os papéis estereotipados que ainda hoje a sociedade espera das mulheres. (Carla Cruz)
23 a 28 de Abril
Roberta Lima (Brasil)
Cut it out!, 2007, vídeo, cor, som, 17’ 15’’
Cortesia da artista
Cut it out! é uma crítica contra a adaptação do corpo feminino às normas da sociedade e uma metáfora sobre a construção e desconstrução da feminilidade. Durante a performance ocorrem a criação, transformação e destruição de um vestido inspirado na reforma feminista do século XIX nos Estados Unidos, a designada Dress Reform. A performance é dividida em três estágios, todos documentados em vídeo e projectados. As câmaras, foram posicionadas estrategicamente em relação ao meu corpo e às telas de projecção,funcionando como um co-performer. O primeiro estágio evoca a construção do vestido inspirado no traje turco, ou o chamado Bloomer costume (uma combinação de vestido curto e calças que revolucionou o traje feminino na época) e ocorreu em estúdio, os actos do segundo e terceiro estágio, transformação e destruição do vestido, foram encenados,filmados e expostos simultaneamente ao vivo para a audiência. O vestido foi fixado com agulhas de piercing e uma fita ao meu corpo, deste modo metafórico o conforto foi substituído por dor e constrangimento. O vestido é então ajustado, redefinindo a sua forma de acordo com os padrões de beleza tradicionais. As agulhas simbolizam o corpo que é penetrado, invadido, o corpo a ser disciplinado. A destruição, o último estágio, representa a libertação do corpo, redefinindo o Dress Reform como um item de vestuário revolucionário.(Roberta Lima)
Nilbar Güres (Turquia)
Soyunma/ Undressing, 2006, vídeo, cor, som, 6’19’’
Cortesia da artista e Rampa Istanbul Gallery
Undressing surgiu como uma resposta à crescente islamofobia no Ocidente, especialmente na era pós 11 de Setembro e à imagem da mulher muçulmana difundida pelas correntes políticas de radicais de extrema-direita na Europa, deixando essa imagem destituída de identidade. Se o teu país de origem foi catalogado com muçulmano, estar ou não coberta por um véu não faz a diferença. À medida que fui realizando este vídeo a minha prioridade foi revelar a autonomia e identidade da mulher, independentemente da sua religião ou ideologia política. Deste modo, utilizei o conceito de "despir" para funcionar como uma analogia reversa. Ao representar o cobrir com um véu através do despir incorporei também elementos biográficos ao trabalho, nomeando várias mulheres que assumem as diversas formas de colocar o véu, personalizando o seu uso e quem o usa. (Nilbar Güreş, 2006)
Nisrine Boukhari (Síria)
The Veil, 2006, vídeo, cor, som, 3’ 47’’
Cortesia da artista e AllArtNow
Não é impossível rasgar qualquer véu; é em vão que se tenta esconder uma ideia. O ecrã foi transformado num furioso véu vermelho puxado por movimentos de mãos que expressam todo um corpo através da forma da performance, abstracção e inspirado simbolismo que alimenta a imaginação da audiência acerca do que se esconde atrás do véu. (Nisrine Boukhari)
Ana Bezelga (Portugal)
RE: Untitled (Facial Hair Transplants), 2006, vídeo, cor,som, 1’40’’
Cortesia da artista
Este trabalho é uma reencenação da performance Untitled (Facial Hair Transplants) concebida por Ana Mendieta em 1972. O restaging realizado num estúdio em Malmö, em 2006, foi baseado em fotografias da performance original, recolhidas da monografia Ana Mendieta: Earth Body: Sculpture and Performance, 1972 – 1985, de Olga M. Viso. A documentação digital resultante do restaging foi pós-produzida com a documentação original, transferida para uma projecção de diapositivos e posteriormente estruturada numa sequência de vídeo que sugere uma narrativa conceptual diferente daquela originalmente proposta por Mendieta. Neste projecto abordei o cabelo como um símbolo de poder. Referi-me a ele segundo o conceito foucaltiano do cuidar do ser político. Interessaram-me as hierarquias. O Cabelo pode ser uma ponte entre as esferas públicas e privadas nas representações da estética da intimidade. Pretendi reflectir sobre o modo como o cabelo tem sido usado historicamente e de forma mais concreta no âmbito das lutas políticas das mulheres. (Ana Bezelga)
30 de Abril a 5 de Maio
Lilibeth Cuenca Rasmussen (Filipinas / Philippines)
Absolute Exotic, 2005, vídeo, cor, som, 4’20’’
Cortesia da artista
Este vídeo é, de certo modo, um ponto de viragem na carreira da artista. Ao regressar ao material autobiográfico, esta é a sua primeira apresentação como uma rapper de pleno direito, oferecendo uma representação obviamente tendenciosa mas incrivelmente inteligente e desconcertante sobre a dor e a revolta de ser rejeitada por um homem, a favor, não apenas de outra mulher, mas de uma mulher negra. (…) O texto da canção é politicamente incorrecto, e a questão é que o racismo está em toda a parte, mesmo nas relações benevolentes e a qualquer momento as categorias raciais acentuam a distância entre nós. Absolute Exotic atravessa fronteiras entre o público e o privado, já que é também um caso de vingança agridoce, virando a mesa duma vez por todas. (…) Não é apenas outro panfleto sobre preconceito racial, mas antes uma reflexão que explora novas leituras, e nem temos de simpatizar com a artista. Ela entrega a interpretação da obra ao espectador que terá de encontrar a forma de se relacionar com ele. (Excerto de Darkness of the Heart, Lilibeth Cuenca por PONTUS KYANDER, crítico de arte, curador. Catálogo Danskjävler, Charlottenborg, Copenhagen, 2008)
Pushpamala N. (Índia /India)
Indian Girl, 1997, vídeo, cor, sem som, 30’’
Cortesia da artista e Gallery Nature Morte, Nova Deli
O percurso artístico de Pushpamala tem sido marcado pelo questionamento da representação nativa, nos seus modelos antropológicos e etnográficos. A artista questiona frequentemente o conceito de exotismo dentro e fora da cultura indiana, colocando em confronto os seus muitos estereótipos e contaminações culturais e políticas. É o caso deste vídeo em que a artista coloca a encenação como génese de toda a representação, estabelecendo desde logo percepções transculturais, que a mudez do filme enfatiza, colocando o modelo exótico no patamar da sua mais elementar superficialidade. (Emília Tavares)
Mónica de Miranda (Portugal)
Biting nations, 2006, vídeo (HD), cor, som, 23'25''
Cortesia da artista
Este vídeo foi produzido em colaboração com Luna Montenegro, Lisa Bradley e Arantxa Johnson e questiona a rigidez das identidades nacionais, investigando as múltiplas noções de pertença geográfica. Através de uma performance, a artista rói unhas falsas pintadas com as cores de várias bandeiras com as quais se sente cultural ou pessoalmente relacionada, criando uma sensação perturbadora no espectador. Questiona a forma como as identidades da diáspora podem ser definidas através de várias nações e entre culturas distantes. Este trabalho aborda também o impacto da emigração na criação de um conceito de hibridismo cultural. Através deste contemporâneo processo de hibridação cultural, as velhas certezas e hierarquias sobre a identidade nacional são erodidas e colocadas em questão num mundo em que as fronteiras se dissolvem e quebram continuidades. (Mónica de Miranda)
Cristina Regadas (Portugal)
Cling, 2012, filme super 8 transferido para vídeo, cor, som, 2’ 46’’
Cortesia da artista
Cling foi filmado na cidade do Porto, e pertence a um projecto de constante indagação acerca dos elementos. Na captação espontânea de imagens, tanto em fotografia como em filme, a câmara é utilizada de uma forma impulsiva. Ao filmar em 8mm, o tempo de gravação é limitado, sendo a gestão dos 3 minutos de cada cartucho próxima dum registo fotográfico. A estranheza que envolve a imagem remete a sua percepção para culturas imaginárias e exóticas, construindo através da sua natureza ilusória uma teia de possibilidades transculturais, sem limites entre o real e a ficção. (Emília Tavares)
7 a 12 de Maio
Oreet Ashery (Israel)
Hairoism, 2011,vídeo, cor, som, 15’12’’
Cortesia da artista
Durante uma performance a artista rapa o seu cabelo, construindo desta forma um remake do filme de Eleanor Antin, “The King”, de 1972, em que a artista se transformava no seu alter-ego masculino. Uma vez careca, recebe cabelo doado pela audiência para imitar os cortes de cabelo de quatro homens famosos - o comandante do exército israelita em 1950, Moshe Dayan, o membro do Hamas Mousa Mohammed Abu Marzouk, o ex-ministro israelita dos Negócios Estrangeiros, Avigdor Lieberman, conhecido pelo seu radicalismo político, e Yasser Arafat/Ringo Starr. Através do processo de implantação do cabelo, a artista vai tomando a aparência de cada uma destas figuras masculinas, em que cada vez maiores quantidades de cabelo vão sendo coladas ao seu rosto e corpo até se transformar num "monstro" de cabelo. A performance foi documentada com 5 imagens Polaroid e as imagens vídeo das figuras masculinas são de arquivo. (Oreet Ashery)
Razan Akramawy (Palestina)
The Gate /Checkpoint, 2011,vídeo, cor, som, 6’36’’
Performance realizada em Jerusalém Leste (Al-Quds), Palestina
Cortesia da artista
Num primeiro momento pensei no título do workshop…. Para a frente e para trás… E comecei a desenhar linhas e a visualizar a ideia no papel. E implementei Falsas Barreiras separando-nos da realidade, sou como uma máquina! Esperando pelos comandos, os meus passos são contados, os meus olhos esperam pela linha verde para atravessar. Quanta crueldade ao imporem-me um espaço limitado, controlarem as minhas acções e movimentos. Restringindo os meus movimentos, não respeitando a minha privacidade, o meu tempo, e a minha idade. Só tenho um pensamento. Como é que o meu corpo e os meus pensamentos podem passar através das barras de aço, o mais rápido possível? Sem que a minha energia positiva seja confiscada. Este trabalho foi filmado na Cidade Velha de Jerusalém, no Suq Al Dabbagh, Santo Sepulcro e Bairro Judeu. (Razan Akramawy)
Maria Kheirkhah (Irão)
Dancing in the village, 2006, vídeo, cor, s/som, 1’40’’
Cortesia da artista
Este trabalho pode ser interpretado como uma coreografia que se combate a si própria para se afastar das agendas e limitações impostas ao corpo feminino pelas narrativas culturais iranianas e europeias. Na verdade, trata-se duma deslocação da dança para uma forma de expressão política em defesa da própria artista. Simultaneamente, Kheirkhah recupera a interpretação orientalista da raqs sharqi (dança do ventre) mas de uma forma que desafia os contornos nacionalistas e patriarcais, já que no seu protesto dança de forma solidária com uma única voz feminina que canta em árabe (a língua materna da artista é o Farsi, Pérsia); colocando em questão a percepção hegemónica europeia do “Médio Oriente”, assim como a visão islâmica, quando se apresenta numa pose inapropriada de cabeça descoberta. Deste modo, os seus movimentos pretendem ser uma reflexão ética, uma dança de consciência. (Adelaide Bannerman)
Nisrine Boukhari (Síria)
Above 47, 2013, vídeo, cor, som, 2’
Cortesia da artista e AllArtNow
Este trabalho aborda o atentado aos direitos das mulheres combinando processos políticos e extremismos religiosos. Num local onde a temperatura excede os 47 graus de extremismo e o inferno da terra, este inferno, aumenta e se dissemina para muitos outros lugares, podemos ver esta personagem dividida em três planos de imagens em movimento. A imagem do meio mostra um vago Retrato através de uns olhos que fixam a audiência, o segundo plano à esquerda mostra alguém a cortar cabelo a uma mulher, e o terceiro plano mostra a violação dum espaço em branco por uma caneta de tinta preta até que os três planos são envolvidos pelo negro, ficando apenas os olhos fixos nessa mancha negra. O trabalho evoca o tema proibido da Trindade, apresentando a problemática do extremismo político e religioso, tanto de esquerda como de direita, que se tornou frequentemente a causa de sofrimento para os povos e as sociedades. (AllArtNow)
14 a 19 de Maio
Mare Tralla (Estónia)
The Heroine of Post-Socialist Labour, 2011, vídeo, cor, som, 3’ 42’’
Cortesia da artista
Durante o regime soviético as mulheres eram celebradas como heroínas trabalhadoras, agricultoras, operárias fabris, etc. Os aspectos ligados à condição das mulheres e da sua vida quotidiana eram negligenciados e mesmo tabu. Por isso não é de admirar que as mulheres nas novas e independentes sociedades capitalistas da Europa de Leste sejam obcecadas com a noção de feminilidade e de “beleza feminina”. A mulher que aspira a ser uma super modelo de corpo e aparência tornou-se a nova heroína trabalhadora do pós-socialismo. Para aspirar a tal, têm de trabalhar de forma dura e dedicada. No meu trabalho, observo de forma irónica esta nova heroína, confrontando-a com imagens de arquivo do período soviético. (Mare Tralla)
Rita GT (Portugal)
One Night Event/Live Event (Guide Tour), 2009, vídeo, cor, som, 14’32’’
Cortesia da artista
A projecção de vídeo regista uma acção performativa em que a artista, vestindo o fato de trabalho tradicional de uma ceifeira de Viana do Castelo, atravessa várias salas de quatro museus da cidade de Berlim. As colecções expostas descrevem um arco temporal e geográfico, como se se tratasse de uma viagem de circum-navegação que atravessa diferentes períodos da história da humanidade. O fato de trabalho envergado pela artista pode ser compreendido como um símbolo universal, um referente que em todas as culturas se traduz por uma indumentária identificativa da cultura a que pertence cada indivíduo. Deste modo, o lugar da memória colectiva, e do confronto com o nosso legado cultural e político, é o museu como ferramenta da construção da história, como zona de contacto e de confronto. RitaGT encarna uma personagem que inicia uma espécie de viagem panorâmica, como um comentário corrosivo sobre a história das relações de poder entre centro e periferia. (João Silvério)
Maimuna Adam (Moçambique)
Fazer a mala, 2011, vídeo, cor, som, 8’
Cortesia da artista
Fazer a Mala mostra um processo frustrante de arrumação de objectos de conotações diversas. Este trabalho pode ser interpretado como uma meditação sobre a ligação e distância entre a artista, a sua irmã e a sua mãe. Uma 'auto-bio-grafia' ou retrato feito por objectos como livros, pó de caril, um tubarão de peluche, uma representação de uma palhota em madeira e uma máscara decorativa. (Maimuna Adam)
Ana Pissarra (Portugal)
Neptunismo, 2013, vídeo, cor, som, 14’18’’
Cortesia da artista
Filmado na zona costeira da Fonte da Telha, o vídeo mostra destroços piscatórios e uma viagem cíclica entre a cidade e o mar, através duma performance protagonizada por uma mulher. Nos gestos ritualizados e repetidos desvela-se e confronta-se a sua identidade, a que os excertos da obra O Marinheiro de Fernando Pessoa parecem conferir maior paradoxalidade. Com tanto de encantatório como de melancólico, o filme apropria-se duma mitologia patriarcal ligada ao mar, mas que encontra na cultura portuguesa da figura feminina da varina, enquanto a mulher dos homens do mar, a representação do lado trágico da vida marítima. Neste estereótipo feminino da cultura portuguesa traçam-se também as heranças sociais e políticas de uma ideia de destino fatal, impossível de mudar. (Emília Tavares)
21 a 26 de Maio
Maimuna Adam (Moçambique)
Entrelaçado, 2011,vídeo, p/b, sem som, 6’45’’
Cortesia da artista
Entrelaçado apresenta-se como uma reflexão que relaciona o acto de trançar com o processo de viagem e estabelecimento noutra terra relacionado com a emigração da minha avó paterna da Índia para Moçambique. A trança e o acto de trançar, sugerem uma exploração da relação entre a terra natal e as múltiplas experiências femininas de migração. (Maimuna Adam)
Maria Kheirkah (Irão)
Souvenir, 2003-2005, vídeo, cor, som, 6’
Cortesia da artista
Neste vídeo a artista apresenta a sequência de uma viagem à memória, à terra natal e à sua deslocação. Através de uma viagem à antiga cidade de Yazd, Irão, a artista visita muitos dos lugares que para ela lhe dão a sensação de “casa”. Caminha solitariamente através das paisagens serenas de montanhas rugosas e desertos da região. Existe um profundo e completo sentido de emancipação neste trabalho, particularmente em relação aos constrangimentos da densidade populacional das cidades. Através deste percurso a artista vai coleccionando ar em sacos de plástico que depois cataloga, em persa, com a data e o local da recolha. Coleccionar ar serve como metáfora para o guardar de memórias, a memória do local que ela pode depois transportar para outra casa. O vídeo termina na Grã-Bretanha com a artista aspirando o ar que trouxe guardado do Irão. A sua performance apresenta a relevância deste objecto transitório enquanto um sistema de respiração necessário para sobreviver entre viagens. (Copyright Sara Raza 2007)
Célia Domingues (Portugal)
Sem Título, 2002, vídeo, cor, som, 5’ 20’’
Cortesia da artista
Uma viagem que começa em Lisboa rumo ao sul do País, Évora, local onde a família da autora se reúne para mais um almoço. Neste simples encontro de família, as pessoas organizam-se por sexo e idade. Toda esta acção acompanha um outro acontecimento apresentado em texto, no qual é descrito um episódio histórico que teve lugar no Parque Eduardo VII, em Lisboa: a primeira tentativa de revolução feminina no pós 25 de Abril. Nesta tentativa fracassada, três mulheres – as protagonistas – tentaram queimar vassouras, panos do pó e soutiens, símbolos de opressão feminina a que queriam pôr fim. Com muitos homens presentes no local, a manifestação terminou sem que fossem cumpridos os objectivos: perseguidas pelos espectadores masculinos que gritavam “Dispam-nas, dispam-nas”, às mulheres nada mais restou além da fuga. (Célia Domingues)
Lilibeth Cuenca Rasmussen (Filipinas)
Seeing Pilar 2001, vídeo, cor, som, 33’
Cortesia da artista
Neste vídeo, a artista continua a explorar os vastos territórios das identidades e sobretudo, da identificação. Durante um período de tempo, a artista vai morar com a sua avó numa favela nos arredores de Manila, contando-nos a história acerca de duas mulheres de diferentes gerações, mas ainda com evidentes laços emocionais. Composto numa série de pequenos episódios a narrativa apresenta reviravoltas humorísticas, mas no essencial estrutura-se na discrepância entre a intimidade e a grande diferença de comunicação e entendimento mútuo. (Excerto de Darkness of the Heart, Lilibeth Cuenca por PONTUS KYANDER, crítico de arte, curador. Catálogo Danskjävler, Charlottenborg, Copenhagen, 2008)
28 de Maio a 2 de Junho
Pushpamala N (Índia)
R ashtriy K heer & D esy S alad (N ational Pudding and I ndigenous S alad), 2004, vídeo, p/b, som, 11’
Cortesia da artista e Gallery Nature Morte, Nova Deli
Esta obra é um olhar brincalhão e irónico ao modo como a moderna família indiana se via a si própria, logo após a independência. A artista utiliza excertos dos livros de receitas, dos anos 50 e 60, da sua mãe e sogra para criar uma montagem de texto, imagem e música resultante das notas militares do pai, um coronel do exército, as receitas e notas domésticas da pesada e grávida mãe e os trabalhos de casa do filho - tudo encontrado nas páginas de livros de recortes. O título do vídeo é retirado de duas receitas do Dia da Independência baseadas nas cores da bandeira Indiana. (Gallery Nature Morte, Nova Deli)
Elisabetta di Sopra (Itália)
Family, 2012, vídeo, cor, s/ som, 9’ 22’’
Cortesia da artista
Nesta obra a artista encena uma coreografia em colaboração com o colectivo Jennifer Rosa, interpretada por Gabriele Maboni, Vasco Manea e Martina Peretti, sob a direcção de Chiara Bortoli. Através dum bailado em câmara lenta a artista expõe fisicamente as tensões emocionais latentes nos modelos familiares. Um jogo de violência contida domina os três corpos que disputam a atenção e o domínio uns sobre os outros, colocando a criança, o elemento mais frágil, como estrutura de um confronto familiar, tantas vezes repetido no quotidiano contemporâneo. (Emília Tavares)
Susana Mendes Silva (Portugal)
Did I hurt you?, 2006,vídeo, cor, som, 3’ 31’’
Cortesia da artista
Partindo da unidade mais simples do desenho e da geometria - o ponto - o vídeo constrói-se a partir do acto de perfurar. O uso de um alfinete que atravessa e fura irreversivelmente a folha de papel tem, no vídeo, tanto de violento como de belo. Essa perfuração liga-se também com modos de escrita quase invisíveis - o Braille ou os cartões perfurados de Jacquard (que foi a primeira linguagem digital visual, pois as marcações nos cartões transformavam-se em padrões de tecidos). Did I hurt you? remete-nos para um universo ligado ao questionamento das fronteiras da perversão das relações humanas mais íntimas. De que forma é que nos relacionamos com os outros no campo dos afectos, do desejo, e das violências inconfessáveis?
(Susana Mendes Silva)
Célia Domingues (Portugal)
Sem Título, 2006, vídeo, cor, som, 10’26’’
Cortesia da artista
Sem Titulo é um vídeo que decorre entre Évora e Lisboa, entre o espaço público e privado. Apresenta alguns dos relatos de mulheres, que viveram a experiência do aborto, recolhidos através de uma linha telefónica da UMAR (União de Mulheres Alternativa e Resposta), denominada S.O.S Aborto. (Célia Domingues)
Maria Lusitano (Portugal)
Mulher Moderna, 2005, vídeo, cor, som, 17’24’’
Cortesia da artista
Através de uma selecção de imagens retiradas de revistas de lazer e moda (elle, vogue, marie claire, Life) dos anos 50 e 60 do século XX, este projecto conta a história de emancipação da mulher em meados do século XX. Uma mulher que tentava romper com a monotonia da sua vida através da “viagem” pelas imagens destas revistas, pontuadas por assuntos do quotidiano mas também por acontecimentos históricos como a tomada de Shangai pela China comunista, ou a devastação e reconstrução da Europa depois da II Guerra Mundial, lado a lado com as notícias que iam influenciando a sua vida diária e seriam determinantes na sua construção como “mulher moderna”. (Maria Lusitano)
4 a 9 de Junho
Rachel Korman (Brasil)
Pure Pleasure, 2013, vídeo, p/b, som, 2’ 43’’
Cortesia da artista
Onde o rio encontra o mar. O pontão da Barra do Douro (foz do Douro, Porto, Portugal) estabiliza as margens do rio e melhora as condições de navegabilidade e de segurança. Esta construção, uma forte estrutura de cimento tem vários orifícios abertos para o mar e a maré provoca a subida de água até a superfície do pontão, libertando um som muito particular. Neste trabalho, Rachel utiliza de novo as fronteiras ou o encontro entre o conceito de erotismo e pornografia para encenar uma coreografia entre som e imagem feita de sugestividade, ocultação e exploração do imaginário sexual. (Emília Tavares)
Elisabetta di Sopra (Itália)
Skipping, 2009, vídeo, cor, som, 59’’
Cortesia da artista
Nesta obra a artista aborda o tema da passagem do tempo sobre o corpo feminino como uma inevitabilidade cujas marcas emocionais e físicas são sempre traumatizantes. Através dum plano fixo, os pés envelhecidos e marcados pelo tempo de uma mulher são sujeitos ao exercício de saltar à corda, apesar do enquadramento muito fechado do plano, percepcionamos, através do som e do movimento esforçado que se esboça, um sentido de luta contra a inexorabilidade do tempo e dos efeitos do envelhecimento na apreciação da capacidade humana. Aspecto que, quando abordado no feminino, sempre tem sido alvo de um maior preconceito e pressão social face aos ideias de beleza que a contemporaneidade tem estabelecido quanto à imagem física e sexual da mulher. (Emília Tavares)
Catarina Saraiva (Portugal)
Vénus ao espelho, 2011, vídeo, cor, s/som, 1’05’’
Cortesia da artista
As referências artísticas e mitológicas do tema da Vénus ao espelho, que evocam a tela com o mesmo nome de Diego Vélazquez, são subvertidas pela artista, numa interpretação que reverte o ideal de beleza feminino que o tema representa na cultura ocidental. Numa inversão do efeito de espelho e do seu reflexo glamoroso, esta Vénus confronta-se com o atributo do cabelo como processo de ocultação mas também de subversão dos códigos românticos e idealistas da representação feminina, na arte como na vida. Interessante é também o facto de a tela de Velázquez ter sido vandalizada por uma sufragista britânica em 1914, Mary Richardson, em protesto contra a prisão de uma sua companheira, vendo na simbologia da tela uma forma estereotipada e patriarcal de entender a representação das mulheres. (Emília Tavares)
Zanele Muholi (África do Sul)
What do you see when you look at me?, 2008, vídeo, cor, som, 4’ 11’’
Cortesia da artista e Stevenson Gallery, Cape Town e Joanesburgo
Este trabalho examina a ocidentalização do acto de olhar/contemplar, percepcionar e em última análise de mapear. A questão que se coloca é a de saber o que é imaginado e registado na mente de um espectador quando observa um corpo feminino negro “contra” um fundo branco. Existe, conforme refere Sherene Razack (2002), uma importante relação entre espaço e identidade, e nos espaços ocidentalizados e europeizantes continua a ser um aspecto problemático de espaço/localização o modo como o corpo feminino negro é posicionado nas galerias públicas ou nos espaços privados. A textura e a cor do corpo são elementos que levam ao constrangimento do observador ou contemplador, resultando numa reprodução do preconceito, marginalização e negação da diversidade do corpo feminino negro. Por exemplo, continuam a existir preconceitos na relação entre os corpos negros e o desejo, o que leva a que sejam entendidos como hipersexuais, heterosexuais, infectados e doentes. Nesta obra, uso o meu ser como auto-referente do meu próprio corpo que habita um espaço “branco” (…). As imagens são acompanhadas por diferentes sons e pela minha própria voz recitando o poema “I ache for you” (Eu sofro por ti) de Yvonne Onakeme Etaghene (2004). (excertos do texto de Zanele Muholi no website http://www.zanelemuholi.com/videos.htm)
Tejal Shah (Índia)
There is a spider living between us, 2009, vídeo, cor e p/b, s/som, 6’45’’
Cortesia da artista e Barbara Gross Galerie, Munique
Este trabalho experimental tem como tema central o desejo – a aprendizagem de duas pessoas para se tornarem uma. Tal assimilação também existe na diversidade de técnicas utilizadas na linguagem do vídeo tais como a fotomontagem, as imagens fixas ou o desenho de animação. Vagueamos através de camadas de linguagem, sexualidade lésbica e tribadismo – um acto sexual que é simultaneamente de fusão e de cisão. No final estamos entregues a um escuro vazio, um espaço para reflectirmos na natureza do uno. (Tejal Shah no website http://tejalshah.in/project/there-is-a-spider-living-between-us/
11 a 16 de Junho
Joana Bastos (Portugal)
Survive to Perform to Survive to Perform to Survive and so on, 2008, vídeo, cor, s/som, 30’
Cortesia da artista e Vera Cortês Art Agency
Este trabalho consiste em dois momentos não simultâneos: uma performance; uma projecção de vídeo. Na projecção, o vídeo capta a limpeza, realizada por uma equipa especializada, em todos os espaços da Fundação Calouste Gulbenkian. Eu sou uma das empregadas de limpeza. (Joana Bastos)
Hong Yane Wang (China)
Seating Code, 2010, vídeo, cor, som, 2’20’’
Cortesia da artista
Este vídeo é uma adaptação de uma instalação que a artista realizou sobre o sexismo na indústria cinematográfica na China. A artista denuncia o mito de que traz má sorte para um filme uma mulher sentar-se nas caixas técnicas utilizadas nos locais de filmagem. Como consequência deste preconceito não existem praticamente operadoras de cinema na China. Hong entrevistou mais de 20 elementos de equipas de filmagem, pedindo-lhes que narrassem o modo como esta situação o/a afecta na sua realidade. A atitude varia muito, focando-se sobretudo no esforço de explicar o significado sexual da lente da câmara. (Hong Yane Wang)
18 a 23 de Junho
Sükran Moral (Turquia)
Bordello, 1997, vídeo, cor, som, 8’24’’
Cortesia da artista e CDA - Projects & Galeri Zilberman
Bordello foi uma performance realizada em 1997 pela artista num bordel localizado em Yüksekkaldırım, Istambul. À entrada do bordel um cartaz anunciava “Museu de Arte Moderna”, enquanto Moral empunhava um papel com a frase “Para Venda”. O vídeo documenta a performance da artista na sua interacção com os clientes, redefinindo a relação que se estabelece entre ambos pela exposição explícita e pela provocação. Desta forma subverte a dinâmica de poder habitual nas relações de prostituição ao transformar o olhar masculino sobre a mulher enquanto objecto, num olhar sobre o tema da prostituição.
(CDA - Projects & Galeri Zilberman)
Oreet Ashery (Israel)
Dancing with men, 2013, vídeo, cor, som, 3’
Cortesia da artista
Através do seu alter-ego masculino Marcus Fisher, um judeu ortodoxo, a artista tem realizado uma série de obras em que questiona e examina a identidade cultural, sexual e religiosa. Frequentemente os seus trabalhos, em vídeo, fotografia ou performances, confrontam as tradições seculares com a questão do “outro”, colocando à prova os limites da multiplicidade cultural e religiosa das sociedades. De uma forma provocatória a artista confronta a ortodoxia judaica com os seus tabus como a homossexualidade ou o travestismo. Neste trabalho, em particular, ela própria afirma que quis experimentar a sensação pertença, história e lar, enquanto personagem queer, Marcus Fisher, ao dançar com homens judeus durante a celebração religiosa de “Lag Baomer”. (Oreet Ashery)
Itziar Okariz (Espanha)
Mear en espacios publicos y privados, 2000-2006, vídeo, cor, som, 7’
Cortesia da artista e galeria Moises Perez de Albeniz, Madrid
Esta performance tem sido desenvolvida ao longo de vários anos em espaços públicos e privados. Não existe audiência nestas acções, muito embora frequentes vezes tenha tido público ocasional durante a performance. Costumo escolher ocasiões de menor afluência devido ao carácter furtivo ou ilegal da própria performance. Neste sentido, interessa-me delinear o que é legalmente permitido e o que não é, na definição do indivíduo na sociedade. As performances são sempre documentadas em vídeo ou fotografia. Por outro lado, a premissa do trabalho é que cada acção seja efectuada como o título a descreve (localização incluída). O interesse do trabalho resulta não apenas do seu aspecto visual mas das relações entre os seus vários aspectos e expressões. Por exemplo, na performance “Mijar com a minha mãe na Ponte Pulansky” o título e a acção complementam-se. Outra questão importante é que “mijar de pé” está associado à identidade masculina. Até agora, a escolha de locais e situações para a performance tem sido baseada na ideia de expandir o espectro de significâncias do trabalho. (Itziar Okariz)
Ana Pérez-Quiroga (Portugal)
Inventário-Diário #1 Phales, 2009, vídeo, cor, sem som, 1’53’’
Cortesia da artista
Os Gregos não só puseram o Falo no centro do mundo (Delfos), como pensaram que o mundo dos homens e das mulheres (cf. a Comédia) girava em torno do símbolo divino da virilidade e fertilidade (Phales). À sua maneira, o presente vídeo de desvela parte deste antigo Mistério, pois à força de subir e descer enroscada numa forma fálica, acaba por cair a seus pés.
(Ana Pérez-Quiroga)
Oreet Ashery (Israel)
Semitic Score (Series: works with no series), 2010,vídeo, cor, som, 12’09’’
Cortesia da artista
Intervenientes: 2 Fik, Ali Kaviani e Guy Nader
Esta performance com o alter-ego judeu ortodoxo masculino de Oreet, Marcus Fisher reproduz um vídeo de arquivo, em que dois gatos brincam com uma pantera de brinquedo numa cave suja, segundo instruções que vão sendo dadas. Na representação das mesmas cenas ao vivo, está um bailarino contemporâneo árabe ou muçulmano decente. Influenciados pelas técnicas do movimento Fluxus que consistia em dar descrições/instruções para as acções, estas instruções Semíticas baseiam-se na ideia de vencer sobre si mesmo e juramento, projectando uma imagem psicológica do Médio Oriente, vista pelo Ocidente ou por experiência própria. (Oreet Ashery)
25 a 30 de Junho
paula roush e Maria Lusitano (Portugal)
Exchanging gifts out there in the orient, vídeo (HD), cor, som, 34'4"
Cortesia da artista
Este ensaio de vídeo é um prolongamento da nossa pesquisa sobre Valentine Penrose, e o seu livro Don des Féminines (1951), uma foto-novela modernista. Este pioneiro conceito de colagem-poema é uma reencenação da obra de Max Ernst, Une Semaine de Bonté (1934), e uma crítica à hegemonia patriarcal evocada na obra de Ernst. As mulheres são representadas fora do domínio doméstico, como viajantes em lugares exóticos. As figuras femininas mantêm a sua integridade e surgem sempre aos pares, expressando desejo erótico umas pelas outras. Através deste conceito e do poema é possível visualizar e seguir as aventuras de duas mulheres vitorianas, Maria Elona e Rubia, à medida que viajam de balão por glamorosas paisagens. A representação poética da amizade feminina, combinando elementos neo-góticos e surrealistas, faz de Don des Féminines, uma obra pioneira de escrita feminina, com a sua afirmação de uma linguagem de desejo e transgressão. (paula roush e Maria Lusitano)
Ana Pérez-Quiroga e Patrícia Guerreiro (Portugal)
As Aventureiras Again, 2010, vídeo, cor, som, 4’ 21’’
Cortesia das artistas
A dupla Ana Pérez-Quiroga e Patrícia Guerreiro representam um caso único no panorama da arte contemporânea portuguesa de exploração das questões queer e de género, aliando uma imagem naif com uma linguagem de novela. Neste vídeo, em particular, as artistas representam um casal de lésbicas, passeando pela cidade numa atitude descontraída e sem tabus, vivendo a sua história de amor. Contudo, ao longo da narrativa visual, tendo como pano de fundo sonoro Janet Jackson, o casal depara-se com contextos colectivos que lhes são potencialmente adversos, como a visita do papa Bento XVI a Lisboa, ou uma celebração da claque futebolística do Benfica. De forma inteligente e irónica, este trabalho questiona a necessidade de frontalidade do privado para resistir às pressões dos colectivos, e da necessidade de desmontar qualquer ameaça às liberdades individuais, nas quais a questão da diferença sexual também deve ser incluída. (Emília Tavares)