Frantz Fanon
Através de 12 objetos escultóricos, o artista aborda o tema da representação do “exótico” pela cultura colonial dos séculos XIX e XX. Uma Ditadura que sustentou um império colonial até 1975, um dos últimos no contexto do continente europeu a ser desmembrado, assim como uma descolonização abrupta e traumática explicam, em grande medida, o tardio desenvolvimento dum pensamento pós-colonial.
Vasco Araújo é um dos artistas que mais tem refletido sobre o “exótico”, indagando de forma crítica as suas formas de inserção e permanência no imaginário nacional. Nesta série, alude a várias questões que estão na origem da sua constituição e utilização como produtor de estereótipos e desagregações culturais nas sociedades colonizadas. As imagens de arquivo que o artista selecionou são um mapa das muitas cambiantes que o processo colonizador teve em que, independentemente do lugar e da cultura, o que prevalece é a violência sobre o Outro e a sua redução a “primitivo”, num quadro de deturpada interpretação evolucionista da espécie.
Botânica é uma série incómoda, desafiante da nossa habitual modorra perante um passado comprometedor. As imagens com que o artista nos confronta são, ainda hoje, polémicas, muitas foram resguardadas do olhar das gerações que se seguiram ao império e à guerra colonial, como forma de desresponsabilizar consciências e introduzir semânticas opacas de luso-tropicalismo e lusofonia.
No contexto desta exposição, decidimos ainda apresentar algumas obras de arte portuguesas que refletem, através de várias épocas, a visão estética do “exótico” e o formalismo das suas representações, em que a matéria do imaginário ocidental sobre o Outro sempre se estabeleceu numa esfera de superioridade evolucionista, entre um espírito de fascínio e repulsa.
Botânica também faz parte dum discurso de resiliência para com o comodismo artístico e a ignorância do passado mas, acima de tudo, afirma a possibilidade dum pensamento crítico sobre a nossa história colonial, a imigração, os bairros problemáticos, as políticas de integração, o multiculturalismo de fachada ou uma lusofonia economicista recheada de interesses económicos e estratégicos.
Emília Tavares