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Cinema arte

O Muro de Berlim – Espelho da História da Alemanha

2009-11-10
2009-11-29

“Berlim é o símbolo da divisão do mundo, um ponto universal, o sítio onde a reflexão sobre a unidade, simultaneamente necessária e impossível, se concretiza em cada um dos seus habitantes. É aí que se faz não só a experiência de ter um domicílio, mas igualmente a da sua falta.”

Maurice Blanchot, Der Name Berlin (O Nome Berlim), em: Ecrits politiques, 1983

O Muro de Berlim, simultaneamente realidade física e símbolo dramático da separação da Alemanha e da própria guerra fria, manteve-se, durante toda a sua existência, constantemente presente e iniludível, tanto para os habitantes da cidade como para os seus descendentes e visitantes. Apesar da sua inexistência, o Muro permanece ainda como uma realidade fisicamente quase palpável, que na análise retrospectiva adquiriu uma nova carga simbólica, desta vez tanto para as transformações globais, políticas e sociais, como para a própria mudança cultural que se deu ao longo das últimas duas décadas. Artistas e realizadores de cinema, que pelas mais variadas razões escolheram a cidade para nela viverem e trabalhar, têm repetidamente tematizado a sua relação com Berlim, aproveitando-a, não raras vezes, para através dela articularem reivindicações políticas e sociais mais abrangentes. Mesmo quanto não constitui o principal cenário, o Muro tem constituído sempre um requisito ou uma condição essencial para a acção fílmica.

Este ciclo reúne produções de artistas e realizadores que ao longo de 4 décadas se confrontaram com esta realidade. Perspectivas diversas sobre a cidade e a forte conotação simbólica da sua “imagem de marca” confrontam-se, definindo a imagem por vezes imediata e subjectiva, por vezes impessoal ou supra-pessoal de um mundo em constante transformação. Nas produções quase exclusivamente realizadas a partir de uma perspectiva ocidental, o Muro foi, até ao início dos anos 80, apresentado de uma forma isolada ou simplesmente omitido, para que o sentimento de vida especial e característico de Berlim ocidental pudesse ser realçado. Em Berlim Oriental quase que não existem gravações do Muro ou do quotidiano durante esse período, já que fotografar e filmar pressupunha na RDA provas dadas de fidelidade ideológica para com o regime.

No final da década de 80, inicia-se uma abordagem cada vez mais contextualizada, que não só começa a tematizar o leste, o ocidente e o Muro nas suas múltiplas e recíprocas relações, como também, partindo daquela situação concreta, questiona aspectos que o transcendem, como as relações entre o socialismo e o capitalismo, os perdedores e os ganhadores da transformação histórica ou as estruturas do poder e da dominância masculina. Como é óbvio, os filmes mais actuais debruçam-se sobre os “sítios vazios”, originados pelo desaparecimento do Muro, e sobre as consequências que esse mesmo desaparecimento tem tido, tanto ao nível da cidade como dos seus habitantes.

Ellen Blumenstein


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