Auto-retrato

, 1930-1932

Mário Eloy

Óleo sobre tela

60 × 52 cm
assinado
Inv. 1087
Historial
Adquirido pelo Estado ao artista em 1945.

Exposições
Lisboa, 1934; Veneza, 1950, 7; Coimbra, 1958, 29; Guimarães, 1958, 29; Porto, 1958, 29; Paris, 1968, 47; Bruxelas, 1968, 47; Madrid, 1968, 47; Londres, 1978; Lisboa, 1980; Munique, 1980, 4, p.b.; Madrid, 1986; Queluz, 1989, 122; Osnabrück, 1992, s.n.º, cor; Lisboa, 1994, 33, cor; Lisboa, 1996, 56, cor; Frankfurt, 1997, 71, cor ; Lisboa, 1997, 71, cor; Castelo Branco, 2001, 23, cor; Lisboa, 2005.

Bibliografia
XXV Biennale di Venezia, 1950, 7; Exposição Itinerante de Algumas Obras (…), 1958, 29; Art portugais: peinture et sculpture (…), 1968, 47; Arte portugués: pintura y escultura (…), 1968, 47; Um Século de Pintura e Escultura Portuguesas, 1965, 137, cor; Dicionário da Pintura Universal (…), 1973, 122, cor; FRANÇA, 1974, 281, p.b.; TANNOCK, 1978, s.n.º, p.b.; Zeitgenossische portugiesische Kunst, 1980, 4; FRANÇA, 1981, 99, p.b.; SEGURADO, 1982, 66, cor; MNAC: Colecção de Pintura Portuguesa (…), 1989, 122; Arte Portuguesa 1992, 1992, s.n.º, cor; SILVA (et al.), 1994, 145, cor; O Rosto da Máscara: a Auto-Representação (…), 1994, 111, cor; DIAS, 1995; SILVA, 1995, 386; Mário Eloy: Exposição Retrospectiva, 1996, 137, cor; HENRIQUES, 1997, 225, cor; SILVA, 1999, 92, cor; SANTOS, 2001, 83, cor.


Pintado em Berlim, este auto-retrato, de uma modernidade absoluta, tem como ascendentes estéticos mais directos a arte negra e a fase neoclássica da obra de Picasso. O rosto desumanizado é já uma máscara com lábios muito recortados e um olhar vazio e esquemático dentro de uma poética expressionista. A sua volumetria cilíndrica denota uma formalização abstracta e racionalizante relativamente à figuração, que, por consequência, assume a presença de valores escultóricos. A cor do rosto tem uma independência absoluta em relação ao resto do corpo ou do fundo. A matéria cromática é espessa, apresentando no braço iluminado uma técnica diferente em que a pincelada é mais solta. É de salientar que a exploração da matéria constitui o núcleo mais expressionista da sua poética e que configura o primeiro exemplo de semelhante atenção, plenamente realizado, na arte portuguesa. Este retrato oscila, assim, entre uma construção formalizante, fechada por linhas negras, e uma viva expressão da matéria; tais aspectos não eram contraditórios para Eloy, pois, segundo o próprio declararia, a sua pintura era de «vanguarda que é o mesmo que dizer clássica». A proximidade das questões da nova objectividade alemã não é alheia. A sombra dada por planos rectangulares sobre a figura e o plano de fundo permite ritmar com um contido dramatismo a distribuição da luz por vezes de grande intensidade. Os brilhos no rosto mais fazem lembrar a madeira que a própria carne, assim a objectificação a que este está sujeito exprime em estado latente a indeterminação do humano – o inumano – característico do Modernismo e um sentimento de estranheza do próprio relativamente a si, clivagem que terá desenvolvimento em obras posteriores do artista.

Pedro Lapa