Menino e varina

, 1928

Mário Eloy

Óleo sobre tela

49 × 43 cm
assinado e datado
Inv. 2356
Historial
Adquirido pelo Estado à Galeria Antiks Design, em 1996.

Exposições
Lisboa, 1928, 9; Lisboa, 1995, s.n.º, cor; Lisboa, 1996, 33, cor; Lisboa, 2002;
Lisboa, 2005; Lisboa, 2009; Lisboa, 2010.

Bibliografia
Mário Eloy Expõe, 1928, 9; Antiks Design: Pintura Portuguesa, 1995, s.n.º, cor;
SILVA, 1996, 33, cor.
Desiludido com o ambiente artístico de Paris, Mário Eloy parte em 1927 para Berlim onde permanece até 1929. Aqui terá oportunidade de conhecer o Expressionismo e, em especial, a obra de Carl Hofer e Kokoscha, cuja influência claramente se evidencia nas obras que realizou entre 1927–29. As frequentes viagens a Lisboa proporcionam-lhe a oportunidade de reler cenas tradicionais da cidade à luz dos novos preceitos plásticos que informam o seu trabalho e, assim, o retrato, a paisagem urbana e os tipos populares que definem os arquétipos lisboetas, como o fadista ou a varina, são passados pelo prisma do Expressionismo. Uma descomunal varina ocupa a totalidade do primeiro plano e na sua monumentalidade excede-o, furtando ao espectador o cesto com peixes que carrega à cabeça (tal como um desenho preparatório o demonstra). O seu rosto, com uma conformação próxima da máscara, as suas formas distorcidas, disformes, sem relação de proporcionalidade interna são trabalhadas com uma pincelada larga e grosseira, por vezes espatulada e cromaticamente baseada – como a totalidade da composição – na violenta desrealização de contrastes entre pretos, verdes «de podridão» e rochas «de gangrena», como denunciou a crítica em geral, pouco compreensiva para estas obras quando expostas em Lisboa em 1928. Partilhando com ela o primeiro plano e em claro desajuste de escala, um menino, igualmente deformado que acompanha o movimento diagonal do corpo feminino. No fundo encena-se a paisagem junto do mar com arquitecturas antropomorfizadas, de um lado, e os barcos e as varinas nuas, do outro, que contribuem para a alucinada e subjectiva visão desta realidade, que se constitui em obra charneira deste período.

Maria Jesús Ávila