A amizade que Amadeo manteve com Modigliani entre 1910 e 1912 é decisiva para o entendimento destes desenhos. A maioria das figuras avulta como cariátides linearmente estilizadas e poderosamente impostas, receptivas aos exemplos sintéticos que a escultura ibérica primitiva e a arte africana forneciam ao famoso italiano. Mas outras sugestões se detectam nestes desenhos, como as de Gauguin, cuja retrospectiva teve lugar no Salon d’Automne de 1906 e que Amadeo poderá ter visto, bem como o luxo decorativo «bárbaro» e orientalista dos Ballets Russes, particularmente visível nos enquadramentos que envolvem as figuras. Assimilando aquelas sugestões, eles enriquecem-se igualmente com jogos de planos triangulados que contrastam com curvas e contracurvas, num grande dinamismo gráfico. Uma figura masculina barbada e ajoelhada apresenta, contudo, um grafismo diverso das restantes, num traçado espesso, nervoso e expressivo. Lançado na sua febril trajectória, Amadeo bebia indistintamente nas diversas vanguardas que Paris lhe oferecia.

Rui Afonso Santos