A ambiguidade entre o rosto e a máscara patente nas outras Cabeças é aqui atenuada, subsistindo apenas alguns vestígios, como o olho, mais próprios da máscara. Os contrastes violentos são abandonados em função de uma maior contenção na cor que experimenta tonalidades de cinzas, azuis e verdes. A intensidade dos contrastes estabelecidos pelo claro-escuro do fundo é transportada para os planos do rosto com uma deliberada aproximação a Cézanne. O perfil apresenta um tratamento esquemático que desvincula o motivo do retrato aparentemente sugerido. Neste sentido esta peça insere-se num conjunto versando tratamentos diversos de um motivo semelhante por onde perpassam entendimentos pictóricos vários, reportáveis às vanguardas que impressionaram o artista. De resto a aproximação a Cézanne faz-se aqui como um premeditado recuo cronológico – de que os vestígios da máscara ou a deslocação de alguns planos, mais próprios do Cubismo, são prova – e não como encontro com uma meta que desde as obras iniciais estava já pressuposta e praticamente ultrapassada. Tal como acontecia nas outras Cabeças, pintadas na mesma época, os planos nem sempre se encontram, deixando aparecer a cor do suporte que tem particular participação numa definição luminosa dos contornos da silhueta do motivo. Também a inclinação do rosto sobre si próprio inscreve uma nota melancólica expressa no próprio título.

Pedro Lapa