Paisagem tirada da Charneca de Belas ao pôr-do-sol

, c. 1879

António Carvalho da Silva Porto

Óleo sobre tela

85 × 150 cm
assinado
Inv.
Historial
Pertenceu às colecções do rei D. Fernando II (1816 – 1885). Depósito do Palácio Nacional da Ajuda em 1925.

Exposições
Lisboa, 1880, 93; Madrid, 1881, 98; Lisboa, 1894, 69; Luanda, Lourenço Marques, 1948, 23; Lisboa, 1950, 3; Caldas da Rainha, 1981, 52; Paris, 1987, 155, cor e p.b.; Lisboa, 1988, 155, cor e p.b.; Porto, 1993, 112, cor; Lisboa, 2002; Lisboa, 2005; Caldas da Rainha, 2005, 249, cor; Lisboa, 2006; Lisboa, 2010.

Bibliografia
ORTIGÃO, 1879; O Occidente, 1880, 76, grav.; ARTHUR, Ribeiro, 1896, 22 – 23; CHRISTINO, 1923, 29; PARIS, 1926, 847; Pintura portuguesa no MNAC (...), 1927, 12, cor; MACEDO, 1950, 5, p.b.; PAMPLONA, 1954, vol. IV; FRANÇA, 1967, vol. II, 29, p.b.; Dicionário da Pintura Universal: Pintura Portuguesa, 1973, vol. 3, 381; FRANÇA, 1975, 15, p.b.; RIO-CARVALHO, 1986, 47, cor; FRANÇA e COSTA, Lucília, 1988, 186, cor; SILVA, 1993, 99; COSTA, 1993, 16; LAPA, 1994, 29, cor; Lisboa, 1995, 336, cor; WANDSCHNEIDER e FARIA, 1999, 16, cor; RODRIGUES, 2001, 39, cor; COSTA e BRANDÃO, 2003, 36 – 37; FALCÃO, 2003, 93; Malhoa e Bordalo: Confluências de uma geração, Lisboa, 2005, 152, cor; TAVARES, 2005.
Silva Porto executou este quadro depois do seu regresso do pensionato no estrangeiro. A memória de Barbizon, através da lição de Daubigny e de Millet, está ainda fresca. Com este e mais 28 quadros apresentados na 12ª Exposição da Promotora inaugurou o Naturalismo na pintura portuguesa. A paisagem abandona uma composição cenográfica ou idealizada para revelar uma espontaneidade desconhecida, extrínseca às categorias do Belo ou do Sublime, servida por uma luz natural.
Este pôr-do-sol foi realizado intencionalmente sem recorrer aos vermelhos no céu. Os toques luminosos, dados nas orlas das nuvens sob uma luz desmaiada, criam a atmosfera do fim de tarde, que contrasta em densidade com a massa compacta e penumbrosa da terra de notável qualidade matérica, realizada por uma pincelada pastosa, onde as cores se arrastam umas sobre as outras. Também o horizonte, recortado pelas silhuetas das árvores, contribui para o efeito geral.
A paisagem, ainda que despojada, tem uma evidência mais marcante que as figuras que nela se envolvem. O pathos destas é milletiano: um realismo dócil as anima com uma certa melancolia, contudo não revelam a dimensão escultórica deste. Tal como em Millet, estas camponesas são entendidas na tradição de uma ancestralidade indiferente às marcas da modernidade, alheias à nova civilização industrial. Neste sentido é ainda um olhar romântico, já no seu termo, que as figura.

Pedro Lapa