Perfume dos campos

, 1899

Luciano Freire

Óleo sobre tela

199 × 160,5 cm
assinado
Inv. 29
Historial
Oferecido pelo autor à Academia de Belas-Artes de Lisboa como prova de candidatura a Académico de Mérito, em substituição do quadro Os catraeiros, perdido no naufrágio do vapor Saint André, em 1901. Integrado no MNAC em 1911.

Exposições
Lisboa, 1899, 32; Lisboa, 1911, 68; Lisboa, 1913, 29; Lisboa, 1945; Londres 2000, 118, cor; Nova Iorque, 2000, 118, cor; Lisboa, 2005.

Bibliografia
ARTHUR, 1903, 253; O Occidente. Lisboa, 1911, p.b.; ALBERTO, 1911, 287; MACEDO, 1954, 16, p.b.; PAMPLONA, 1954, vol. II; FRANÇA, 1967, vol. II, 240, p.b.; RIO-CARVALHO, 1986, 112; SILVEIRA, 1994, 29, cor; Expresso/ Cartaz, Lisboa, 2000, 5, cor; PINHARANDA, 2000, 31, p.b.; ROSENBLUM e STEVENS, 2000, 191, cor.
Esta composição sugere uma leitura crítica ao progresso citadino e à industrialização, recorrendo a um tratamento referencial de signos. A simplicidade da mensagem permitiu a Fialho de Almeida apelidar de “gasosa” a “deusa”, que poderia servir “de cartaz a qualquer fábrica de bebidas, para o que tinha as necessárias acomodações”.
Numa zona industrial, provavelmente Londres, visitada pelo artista, sob um céu azul tonal, surgem alucinações de corpos em desespero. Em contraste, no cimo da montanha paira uma imaginária figura feminina que a perfuma de açucenas brancas. Envolta por um véu de transparências violetas que traça o movimento da personagem, introduz a inocência e a pureza, metas de um “paradigma perdido”, verdejante de frescura. A sinuosidade das suas linhas, gestualidade e anelado da cabeleira, constituem um dos raros exemplos da estética arte nova na pintura portuguesa, embora o rosto apresente um tratamento naturalista. Elaborada em contrastes sucessivos, a obra sublinha confrontos civilizacionais e estéticos entre a realidade e o sonho.
Preludiando preocupações ecológicas, na viragem do século XIX para o XX, esta emblemática “mãe natureza”, é representada num “género inteiramente novo” (Ribeiro Artur). Em conjunto com aquelas alucinações, lança a composição para outra dimensão, ou seja, para uma animação que a aproxima às primeiras experiências da Lanterna Mágica, aos fantasiosos dioramas de Daguerre e aos iniciais ensaios cinematográficos.
Espírito activo e viajado, Luciano Freire permanece algum tempo em Paris e Londres, onde contacta com os progressos técnicos e culturais, entre as fábricas e o cinema, e as últimas correntes estéticas simbolistas.

Maria Aires SIlveira
 

Outras obras do artista