Leitura de uma carta

, 1874

Alfredo Keil

Óleo sobre tela

92 × 73 cm
assinado e datado
Inv. 455
Historial
Pertenceu a D. João de Meneses. Adquirido pelo Legado Valmor ao pintor Luciano Freire em 1917 – 18. Integrado no MNAC em 1919.

Exposições
Lisboa, 1874, 32; Lisboa, 1946; Lisboa, 1974, 441; Lisboa, 1978; Paris, 1987, 169, cor e p.b.; Lisboa, 1988, 169, cor e p.b.; Queluz 1989, 20; Tóquio, 1999, 70, cor; Lisboa, 2001, 228, cor; Lisboa, 2005; Istambul, 2009, 18; Lisboa, 2010.

Bibliografia
Lisboa, s.d. (c. 1936), 6; BRAGANÇA, s.d. (c. 1936), 9; MACEDO, 1950, 5 p.b.; BÁRTHOLO, 1950, p.b.; PAMPLONA, 1954, vol. II; MACEDO, 1961, XCVII p.b.; FRANÇA, 1967, vol. I, 448, p.b.; Dicionário da Pintura Universal: Pintura Portuguesa, 1973, vol. 3, 196, cor; B e COSTA, 1988, 198, cor; FRANÇA, 1993, 320 – 21, p.b.; SILVEIRA, 1994; PEREIRA, 1995, 133; Esplendores de Portugal: Cinco Séculos de Arte Portuguesa, Tóquio, 1999, 111; RODRIGUES, 2001, 28 – 29; FALCÂO, 2003, 162; Lisboa, memórias de outra cidade, 2009, 76, cor.
Numa sala romântica desenvolve-se uma cena de convívio íntimo e familiar, ao gosto salonnard. Uma carta é o motivo deste encontro e dos olhares ansiosos que a lêem. Da leitura de uma carta adivinha-se um enredo misterioso, enquanto que o artista dispersa o olhar do espectador pela sala de gosto burguês. Os retratos de duas personagens anónimas são entendidos, não por uma pose directa ou pela frontalidade dos rostos, antes pela envolvência e registo sinalizado de todos os objectos. Entre elementos estruturais de apoio, mesa e consola, manifesta-se o gosto pela chinoiserie, aliado ao móvel romântico e à gravura neoclássica. Em tonalidades rubras e reflexos escuros, apresentam-se os vestidos das retratadas, ligando simbolicamente a cor à paixão e à mensagem. Em seu torno, o ambiente escuro da sala apresenta um tratamento de fundos em verdes enegrecidos. De carácter intimista e documental, esta obra evoca vivências das burguesias lisboetas, situação rara na pintura portuguesa. A aproximação a Alfredo Stevens poder-se-á formular pelo ambiente requintado, ou ainda a cenas semelhantes, de artistas estrangeiros secundários, num tema muito frequente na época, e muito divulgado, tanto pela acessibilidade do assunto como pelo interesse descritivo e novelístico que o ligam à literatura e ao folhetim, muito difundido em periódicos.

Maria Aires Silveira