MNAC - Rua Capelo
entrada: Condições GeraisMIGUEL SOARES. Luzazul
O romance "Frankenstein; or, The Modern Prometheus", da romancista britânica Mary Shelley (1797–1851), filha de William Godwin e da proto-feminista Mary Wollstonecraft, e mulher de Percy Shelley, ficciona a história de um jovem cientista, Victor Frankenstein, que cria um dos monstros literários mais conhecidos através de uma experiência científica que levanta questões éticas e morais e que narra a sua própria história a Robert Walton, no Pólo Norte. A primeira edição do romance (que partilha características com os romances epistolar e gótico) é publicada, anonimamente, na cidade de Londres, no dia 1 de Janeiro de 1818, e é, desde logo, um best-seller. Em 2018, comemoramos os duzentos anos dessa efeméride.
O famoso enredo do romance tem lugar no século XVIII e nasce de um desafio lançado por Lord Byron aos escritores que com ele se encontravam a passar o Verão de 1816, na Suíça: Mary, Percy, Claire e Polidori. O repto foi o de escreverem histórias de terror. Mary Shelley recorreu a elementos temáticos da ficção a que mais tarde chamaríamos científica. A história que começou por ser um conto acabaria, após o encorajamento de Percy Shelley, por se tornar num dos mais famosos romances da literatura em língua inglesa, cujo lançamento, há duzentos anos, assinalamos, no MNAC, em 2018, através de uma palestra no âmbito da exposição LUZAZUL, de Miguel Soares, e que se deterá sobretudo no monstro como criação e expressão da condição humana.
Emília Ferreira
O monstro de Frankenstein levanta inúmeras questões e abre portas a muitos debates, desde a questão da desumanização da ciência, à vaidade humana e à mais profunda estranheza do outro. O outro tem sido amplamente tratado como o estranho, alimentando teorias queer, ou debatendo o estranho em nós — nesse caso, propiciando o exercício de se partir em busca desse duplo obscuro e inominável, criatura que cada autor guarda dentro de si. No campo desse outro estranho, há a definir o papel que as razões e as emoções têm de contraditório (tradicionalmente) ou de complementar (recentemente) no processo de integração social, cultural e até no processo do conhecimento e na construção de cada um de nós. Que parte de Frankenstein ou do seu monstro se esconde num autor? Terá o exercício criativo uma luz benigna ou nascerá antes de lugares inomináveis?
Esta conversa explora a temática da exposição LUZAZUl, introduzindo as várias formas como o discurso ficcional (literário, fílmico e televisual) tem trabalhado a alteridade artificial pós-humana. Olhará em particular para evolução da representação do outro inteligente não biológico desde os discursos tecnofóbicos dos “Robocalipses” à utilização do tropo como metáfora de processos de hostilidade contra diferenças essencializadas e finalmente, no discurso contemporâneo, à problematização do androide agente senciente autónomo e individualizado, sujeito e objeto de julgamentos éticos e merecedor de direitos que não se diferenciam substancialmente dos das pessoas descritas como humanas.
A discussão utiliza textos de ficção científica e especulativa, bem como reflexões dos campos do discurso da pós-singularidade e da ética aplicada à inteligência artificial.
Auditório 04 | Campus da Penha | Universidade do Algarve
Programação MNAC
With Prof. Bernhard Serexhe, art historian, author, independent curator for electronic and digital art, co-founder of ZKM | Media Museum, Karlsruhe, Prof. Penousal Machado, associate professor, Universidade de Coimbra, researcher on Evolutionary Computation, Computational Creativity, Artificial Intelligence and Information Visualization, Miguel Soares and Adelaide Ginga, artist and curator, LUZAZUL exhibition.